Fundada em 1549, a primeira capital brasileira, Salvador (BA), tem sua história, paisagem e desenvolvimento urbano intrinsecamente moldados por uma imponente e única falha geológica. Descubra os segredos e o impacto desta estrutura sob a cidade.
Salvador, a primeira capital brasileira, é uma cidade de beleza estonteante e história singular. No entanto, um fato geológico fundamental, e surpreendentemente pouco conhecido por muitos, definiu sua existência desde o início: a cidade foi erguida sobre a Falha de Salvador, uma gigantesca estrutura tectônica. Esta falha não apenas criou a dramática divisão entre Cidade Alta e Cidade Baixa, mas também influenciou profundamente sua trajetória por mais de quatro séculos.
Veja como a primeira capital brasileira nasceu e se desenvolveu sobre esta “única e gigantesca falha”, explorando sua origem geológica, o impacto na urbanização inicial, as soluções de engenharia para superar o desnível e o legado que esta formação geológica perene continua a exercer sobre a vibrante Salvador de hoje.
Falha de Salvador: um evento geológico de milhões de anos que moldou uma futura capital brasileira
A Falha de Salvador é um expressivo sistema de falha de borda, com orientação predominante Nordeste-Sudoeste e um deslocamento vertical que ultrapassa os 6.000 metros. Sua origem remonta ao Cretáceo Inferior, há cerca de 145 milhões de anos, ligada à fragmentação do supercontinente Gondwana e à abertura do Oceano Atlântico Sul, conforme estudo publicado pela UFB.
-
Restam só 6 feriados nacionais em 2025 — e apenas 2 podem ser prolongados; veja o calendário
-
Viagem no tempo: os castelos mais impressionantes da Europa que ainda encantam
-
6 sinais de que as pastilhas de freio do seu carro precisam ser trocadas
-
Marco histórico na AGU: pela primeira vez, todas as seis procuradorias regionais são lideradas por mulheres
Esta falha foi crucial na formação da Bacia do Recôncavo e da Baía de Todos os Santos, controlando o afundamento da crosta e a acumulação de sedimentos. Sua manifestação mais visível na paisagem da primeira capital brasileira é a imponente escarpa com desnível entre 60 e 85 metros.
Como a imponente falha geológica definiu a fundação de Salvador em 1549
A topografia imposta pela Falha de Salvador foi decisiva para Tomé de Souza escolher o local para fundar a primeira capital brasileira. A elevação oferecia vantagens defensivas excepcionais, permitindo uma clara separação funcional: na Cidade Alta, o poder administrativo, religioso e as residências da elite; na Cidade Baixa, as atividades portuárias e comerciais.
Essa divisão física, ditada pela geologia, não apenas organizou o espaço urbano, mas também refletiu e reforçou a estratificação social e a distribuição de poder na Salvador colonial. A Cidade Alta era o espaço do prestígio, enquanto a Cidade Baixa se dedicava ao comércio.
A engenhosidade soteropolitana para conectar os dois níveis da capital brasileira
Desde o início, conectar a Cidade Alta e a Cidade Baixa foi um desafio. Inicialmente, usavam-se ladeiras íngremes. No século XVII, surgiram guindastes, como o Guindaste dos Padres, para transportar mercadorias. A grande revolução veio na segunda metade do século XIX com os ascensores urbanos mecanizados.
O Elevador Lacerda, inaugurado em 1873 (originalmente Elevador Hidráulico da Conceição da Praia), tornou-se o ícone dessa engenhosidade, ligando os dois níveis da cidade. Outros sistemas como o Elevador do Taboão e os Planos Inclinados Gonçalves e do Pilar também foram cruciais para a mobilidade nesta capital brasileira.
Influências contemporâneas e desafios urbanos para a primeira capital brasileira
A Falha de Salvador continua a moldar a cidade. Sua topografia influenciou a rede de drenagem urbana, com muitas avenidas construídas no fundo de vales, gerando problemas como inundações, exacerbados pela impermeabilização do solo e canalização de rios.
Os riscos geológicos, como deslizamentos de terra, são uma preocupação constante, especialmente nas encostas íngremes durante períodos chuvosos. A Defesa Civil de Salvador (Codesal) monitora essas áreas. O planejamento urbano e a mobilidade ainda são condicionados pela divisão Alta/Baixa imposta pela falha.
A marcante divisão Alta/Baixa na identidade e nas artes de Salvador
A Falha de Salvador e a divisão da cidade transcenderam o físico, inscrevendo-se na identidade cultural soteropolitana. Na literatura, Jorge Amado, em “Capitães da Areia”, utilizou a topografia para refletir clivagens sociais e econômicas. A Cidade Alta representa a elite, e a Baixa, a pobreza e a resistência.
O Elevador Lacerda é mais que um transporte; é o principal cartão-postal de Salvador e um símbolo cultural. A paisagem da falha, com o Centro Histórico (Patrimônio da Humanidade pela UNESCO) aninhado em sua topografia, é um patrimônio visual inestimável desta que foi a primeira capital brasileira.
Se algum leitor tiver imagens da Falha de Salvador, fotos históricas da primeira capital do Brasil e/ou comentários construtivos, é bem-vindo nos comentários para colaborar.
Acho que no Google deve haver imagens a respeito. Boa matéria.
O nome dessa falha é Falha de Maragojipe .
Sou professora de Geografia e nunca tinha lido algo a respeito…
Gostei muito de saber sobre a geologia tão interessante da cidade que tanto amo…