Em uma complexa operação que envolveu a Vale e a Norsk Hydro, a gigante suíça Glencore se tornou a maior acionista da mineradora Rio do Norte (MRN), redefinindo o mercado de alumínio no Brasil.
Uma transação de grande impacto reconfigurou o cenário da mineração no Brasil. A gigante suíça de commodities Glencore adquiriu uma participação de 45% na Mineração Rio do Norte (MRN), a maior produtora de bauxita do país. O negócio, concluído no final de 2023, envolveu a saída estratégica da Vale e uma otimização de portfólio da norueguesa Norsk Hydro.
A entrada da Glencore na mineradora Rio do Norte, localizada no coração da Amazônia paraense, não foi uma simples compra, mas um movimento que sinaliza a crescente disputa por metais de baixa emissão de carbono e o realinhamento das maiores empresas de mineração do mundo.
A transação que envolveu Vale, Norsk Hydro e Glencore
A aquisição foi uma operação complexa, anunciada em abril de 2023 e concluída em 1º de dezembro de 2023. O mecanismo, conhecido como “back-to-back”, aconteceu em duas etapas.
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Primeiro, a Vale vendeu sua fatia de 40% na MRN para uma afiliada da Norsk Hydro. Imediatamente depois, a Hydro transferiu essa mesma participação para a Glencore, juntamente com os seus próprios 5% que já detinha na mineradora. Com isso, a Glencore consolidou 45% do negócio, a Vale saiu completamente da operação e a Hydro também zerou sua participação na MRN.
O que é a Mineração Rio do Norte (MRN)? A gigante de bauxita em Oriximiná (PA)
A MRN é um ativo de escala global. Localizada em Porto Trombetas, no município de Oriximiná (PA), ela é a maior produtora de bauxita do Brasil, com capacidade para produzir cerca de 12,5 milhões de toneladas por ano.
Apesar do volume impressionante, a empresa enfrentava desafios financeiros. Em 2023, a MRN registrou um prejuízo líquido de R$ 717,6 milhões. Esse cenário, impactado pela queda nos preços do alumínio, foi um dos fatores que motivaram a reestruturação entre seus sócios.
A saída da Vale e a otimização da Norsk Hydro
Para a Vale, a venda de sua participação de 40% por US$ 67,9 milhões foi o capítulo final de um longo programa de desinvestimento. A mineradora brasileira está focando todos os seus esforços em seus negócios principais e mais lucrativos: minério de ferro, cobre e níquel. A bauxita já não era mais uma prioridade.
Para a norueguesa Norsk Hydro, o negócio foi uma manobra de otimização. Ao vender sua pequena fatia na MRN e uma participação de 30% em sua principal refinaria, a Alunorte, para a mesma Glencore, a empresa levantou capital e trouxe um parceiro estratégico forte para dividir os custos de investimentos futuros.
A aposta da Glencore: o domínio da bauxita de baixo carbono
A entrada da Glencore na MRN é uma aposta estratégica na transição energética. O principal atrativo do negócio foi o acesso a um fornecimento de longo prazo de bauxita e alumina com baixa pegada de carbono, um produto cada vez mais exigido por indústrias como a automotiva.
Ao se tornar a maior acionista, a Glencore garantiu o direito de comprar 45% de toda a produção da MRN. Isso fortalece sua poderosa divisão de trading e a posiciona como uma força dominante na cadeia de suprimentos de alumínio em toda a Bacia do Atlântico.
A nova configuração de poder na bauxita brasileira
Com a conclusão do negócio, a MRN passou a ter uma nova estrutura de acionistas. A Glencore agora detém a maior fatia, com 45%. Os outros sócios são a South32 (33%), a Rio Tinto (12%) e a brasileira Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), com 10%.
É importante notar que, apesar de ser a maior acionista, a Glencore entra como uma parceira não-operacional. A gestão diária da mina continua com uma equipe independente, que se reporta a um conselho formado por representantes de todos os sócios. O movimento, no entanto, marca uma nova era para a maior operação de bauxita do Brasil.