Durante mais de 60 anos, a Barragem de Quixeramobim tem sido a principal fonte de água da cidade cearense. Mas o reservatório sofre com o tempo, a seca e a falta de manutenção.
A Barragem de Quixeramobim, oficialmente chamada Açude Engenheiro José Cândido de Castro de Paula Pessoa, tem origem nas grandes secas que atingiram o Nordeste no século XIX.
Durante a seca devastadora de 1877 a 1879, o imperador Dom Pedro II determinou a construção de açudes no Ceará como forma de enfrentar a estiagem. Um desses projetos previa a construção de um reservatório no rio Quixeramobim.
Em 1878, uma equipe de engenheiros chegou a definir o local da futura barragem, entre duas serras, a oeste da cidade. Mas o plano acabou sendo abandonado.
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Nos anos seguintes, a seca continuou castigando o sertão. Em 1908, surgiram novos estudos sobre o açude, mas novamente nada foi construído.
Somente em 1958, já sob responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), a construção da barragem finalmente começou. Dois anos depois, em 1960, a obra foi concluída.
Desde então, o açude se tornou a principal fonte de abastecimento de água de Quixeramobim, no sertão central do Ceará.
Construída para enfrentar a seca
O objetivo da obra era garantir água para a cidade, principalmente nos períodos de estiagem. O açude também ajudaria na irrigação, na dessedentação de animais e no controle das cheias do rio.
Além da função hídrica, com o tempo, a barragem passou a ser usada como local de lazer e de pesca artesanal.
O projeto original previa capacidade para armazenar até 54 milhões de metros cúbicos de água. Mas essa meta nunca foi alcançada. Estimativas atuais indicam que a barragem retém, no máximo, 8 milhões de metros cúbicos.
Parte da explicação está no assoreamento – o acúmulo de sedimentos no fundo do reservatório – e possíveis mudanças de projeto na hora da execução.
De símbolo de esperança à crise
A barragem ajudou a cidade a crescer. Com água garantida mesmo nos anos mais secos, Quixeramobim enfrentou menos migração forçada e teve mais estabilidade.
O espelho d’água virou ponto turístico e o evento da sangria – quando a água transborda – passou a ser celebrado como um sinal de fartura.
Mas o tempo passou, a cidade cresceu, e o açude perdeu volume. A seca entre 2012 e 2017 deixou a barragem praticamente seca.
A cidade entrou em colapso no abastecimento. Poços foram abertos no leito seco e carros-pipa passaram a distribuir água nos bairros. A barragem, antes orgulho local, virou motivo de preocupação.
Falta de manutenção e risco estrutural
Em 2016, um laudo técnico classificou a estrutura da barragem com risco nível 2, indicando necessidade urgente de reparos. Foram detectadas rachaduras, ferragens expostas, erosões no concreto e válvulas danificadas. Moradores temiam que uma cheia inesperada causasse um rompimento.
As obras de recuperação só começaram de fato em 2024, após anos de promessas e pressões da comunidade. Segundo o DNOCS, a barragem é essencial para o abastecimento e para a piscicultura local.
Adutoras emergenciais e nova fase
Diante da situação crítica, o governo instalou uma adutora emergencial ligando o Açude Fogareiro à estação de tratamento de Quixeramobim.
A solução evitou o colapso total durante os anos mais secos. Em 2023, a barragem sangrou após 12 anos sem atingir a capacidade. A cidade comemorou. Foi um alívio. Mas os técnicos alertaram: ainda há risco, e a recuperação deve continuar.
Agora, a cidade será incluída na rede Malha d’Água, um sistema estadual de adutoras que ligará vários açudes do sertão cearense. Com isso, espera-se reduzir a dependência da barragem.
Com informações de Calameo.