Região de Ituporanga concentra a maior área plantada de cebola do país, movimenta mais de R$ 1 bilhão por safra e sustenta milhares de famílias no agronegócio catarinense
A cidade de Ituporanga, em Santa Catarina, abriga a maior fazenda de cebola do Brasil, com produção que superou as 370 mil toneladas na safra 2023/24, mantendo o Estado como líder nacional no cultivo da hortaliça, apesar das ameaças crescentes da importação argentina, que preocupa produtores e autoridades locais.
Santa Catarina é o maior produtor de cebola do Brasil, responsável por quase 30% de toda a produção nacional. A principal área produtiva está no município de Ituporanga, conhecido como a Capital Nacional da Cebola, com cerca de 5 mil hectares cultivados. A cultura movimenta mais de R$ 1 bilhão por safra e garante o sustento de pelo menos 10 mil famílias ligadas ao campo e ao agronegócio local.
Além da importância econômica, o cultivo da cebola tem raízes culturais na região, sendo transmitido de geração em geração. Em muitas propriedades rurais, o trabalho é inteiramente familiar, da colheita à cura da cebola, processo essencial para aumentar a durabilidade da hortaliça e sua qualidade comercial.
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Cidade destaque e rendimento financeiro
A cidade de Ituporanga lidera como maior produtora do Estado, seguida por outros municípios do Alto Vale do Itajaí. Com uma produtividade de 21.576 kg/ha, o Estado alcançou um rendimento de R$ 64.169 por hectare. Apesar de inferior a outras regiões em produtividade por área, Santa Catarina se destaca pela escala total de produção e pela organização dos pequenos produtores.
Concorrência argentina ameaça liderança nacional
Nos últimos meses, produtores catarinenses e representantes políticos alertaram sobre os riscos da concorrência desleal com a cebola importada da Argentina, que tem entrado no Brasil sem taxação adequada. Segundo o deputado federal Rafael Pezenti (MDB), a falta de uma tarifa externa sobre o produto argentino tem desvalorizado o preço interno, afetando diretamente a rentabilidade das fazendas locais.
Enquanto o custo médio de produção da cebola gira em torno de R$ 1,20 por quilo, os preços de venda têm oscilado entre R$ 0,80 e R$ 1, o que gera prejuízos aos produtores rurais brasileiros. Pezenti defende que o Brasil adote medidas similares às da Argentina, que impõe taxas de 20% ao açúcar brasileiro para proteger o mercado interno.
Inovação e tecnologia no campo
Para manter a competitividade da fazenda de cebola catarinense, iniciativas em pesquisa genética e manejo sustentável têm sido desenvolvidas com o apoio da Epagri e universidades como a UFSC. As sementes híbridas, mais resistentes ao clima e doenças, têm contribuído para ampliar a produtividade e reduzir perdas.
No campo experimental da Epagri, em Ituporanga, testes de manejo sem agrotóxicos comprovaram a viabilidade da agricultura orgânica, com rendimentos de até 25 toneladas por hectare. O trabalho dos pesquisadores busca aliar tradição à tecnologia no agronegócio, promovendo sustentabilidade e segurança alimentar.
Festa da Cebola movimenta economia local
Todos os anos, a cidade de Ituporanga celebra sua produção com a Festa Nacional da Cebola, um dos maiores eventos do setor agrícola no Brasil. Na última edição, o evento movimentou mais de R$ 150 milhões em negócios, além de atrair turistas de diversas regiões e valorizar o papel do produtor rural na economia nacional.
Além disso, projetos de turismo rural ganharam força no entorno das fazendas, com famílias agricultoras oferecendo experiências no campo, gastronomia regional e produtos derivados, como a cebola defumada, inovação lançada por uma agroindústria local.
Desempenho e futuro da produção nacional
De acordo com dados do IBGE, o Brasil colheu mais de 4 milhões de toneladas de cebola na safra 2023/24, com uma média nacional de 33.226 kg/ha. Santa Catarina, apesar de estar abaixo da média em produtividade por hectare, lidera em volume e área plantada, consolidando-se como referência nacional.
Entretanto, o futuro da fazenda de cebola brasileira depende de ações do governo federal quanto à política de importação, fomento à tecnologia agrícola e incentivo à agricultura familiar, que representa a base da produção no Alto Vale do Itajaí.