Xiaomi transforma fábrica em atração tecnológica em Pequim, aposta em chips de 3nm e desafia Tesla no mercado chinês com produção acelerada, novos modelos elétricos e estratégia de integração vertical.
A Xiaomi transformou sua fábrica de veículos elétricos em Pequim numa vitrine de tecnologia e eficiência. Visitas precisam ser agendadas com antecedência e, em períodos de pico, a entrada é definida por sorteio.
Enquanto fãs — os “mi fen” — acompanham de perto a linha automatizada que monta um carro a cada 76 segundos com mais de 700 robôs, a empresa acelera uma estratégia de integração vertical que mira rivais como Tesla e Apple, do carro ao chip de 3 nm.
Fábrica em Pequim e corrida por volume
Instalada na capital chinesa, a planta ganhou status de atração turística pela transparência dos processos e pelo nível de automação em etapas críticas.
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A companhia opera com foco em escala e repetibilidade industrial, combinando robótica, visão computacional e controle de qualidade em tempo real para reduzir gargalos e manter ritmo constante na produção.
Além da vitrine, há metas ambiciosas. A empresa amplia a capacidade com a segunda fase do complexo de veículos, planejada para sustentar a entrega de 350 mil unidades em 2025.
Em paralelo, desenvolve uma fábrica de eletrodomésticos em Wuhan para iniciar a produção própria de aparelhos de ar-condicionado, reforçando a aposta em manufatura própria.
Do rótulo de “montadora de Lego” à indústria própria
A marca nasceu em 2010 com ambições modestas — “milhete”, no nome em chinês, e a referência de Lei Jun ao espírito de “milho mais rifles” dos anos de escassez —, mas cresceu rápido.
Em três anos, já figurava entre as líderes globais de celulares e expandia o portfólio para produtos de casa conectada. A despeito do sucesso, críticos apontavam dependência excessiva de fornecedores.
“Essa variedade de produtos não era historicamente da Xiaomi; a empresa tem uma ampla rede de parceiros”, disse Richard Windsor, da Radio Free Mobile.
A leitura começou a mudar com o avanço de P&D. “Costumávamos dizer que a Xiaomi pegava tudo de fora e montava como se fosse um bloco de Lego”, afirmou Ivan Lam, da Counterpoint Research; para ele, o investimento em pesquisa vem reequilibrando a equação.
Smartphones premium ganham produção própria
O primeiro movimento concreto ocorreu em 2020, com a fábrica para séries pequenas do dobrável. Em início de 2024, a companhia levou os modelos premium de smartphones para linhas próprias.
O resultado veio nos números: no primeiro trimestre, as remessas de celulares premium cresceram 81% na comparação anual, bem acima do avanço do mercado total.
A leitura interna é direta: “Marcas de tecnologia podem cobrar um prêmio quando são conhecidas por usar tecnologia avançada, e fábricas de ponta são uma das representações tangíveis disso”, disse a empresa ao Financial Times.
Três anos do anúncio ao primeiro sedã
Nos carros, a execução foi mais rápida que a de muitos concorrentes.
Em 28 de março de 2024, a Xiaomi lançou o SU7, sedã esportivo produzido em Pequim, três anos depois de anunciar que entraria no setor. A Apple, por contraste, encerrou seu projeto automotivo um mês antes.
O SU7 chegou com condução assistida de última geração e sistema operacional integrado ao ecossistema de celulares e eletrodomésticos.
A fabricante também ressaltou componentes e equipamentos desenvolvidos internamente, como liga de alumínio proprietária, aço de ultra-alta resistência e moldes para fundição de grandes partes da carroceria.
SUV YU7 dispara pedidos e mira Tesla Model Y
Em 26 de junho de 2025, a Xiaomi apresentou o YU7, SUV posicionado para rivalizar com o Model Y.
A resposta inicial foi incomum: 200 mil pré-encomendas em 3 minutos e 289 mil em 1 hora, com preço de partida abaixo do concorrente da Tesla.
A demanda robusta pressionou prazos de entrega, enquanto o SU7 já figurava entre os mais vendidos do disputado mercado chinês.
O impacto foi imediato também no mercado financeiro: as ações acumulam alta próxima de 200% em 12 meses, sustentadas pelo desempenho dos carros e pela percepção de que a empresa domina mais etapas críticas da cadeia.
Chips de 3nm e aposta em integração vertical
A estratégia de verticalização alcançou um marco com o XRING O1, SoC de 3 nm produzido pela TSMC que equipa smartphones e tablets premium da marca.
Segundo analistas, a decisão abre espaço para um ecossistema mais coeso entre dispositivos, serviços e, potencialmente, recursos do carro conectado.
A Xiaomi anunciou investimentos mínimos de 50 bilhões de yuan em dez anos para chips e 200 bilhões de yuan em cinco anos para tecnologias de ponta, como sistemas operacionais e inteligência artificial.
Para Lu Weibing, presidente da empresa, a diferenciação virá dessa capacidade: no futuro, disse ele, haverá “apenas dois tipos de negócios: os que desenvolvem seus próprios chips e os que não desenvolvem”, com uma distância geracional de competitividade entre eles.
Visitas guiadas reforçam narrativa de fábrica
A abertura de visitas guiadas ajudou a consolidar a narrativa de manufatura avançada.
“Podem me chamar de diretor de fábrica Lei”, escreveu Lei Jun em rede social, em tom de provocação e orgulho industrial, depois de exaltar as virtudes das linhas de carros elétricos e de smartphones.
A Xiaomi também surfa uma tendência doméstica: o incentivo de Pequim para construir “novas forças produtivas de qualidade”, que combinam automação, dados e controle de processos.
Um editorial aprovado pelo People’s Daily resgatou os esforços de engenheiros dos anos 1950 e os comparou ao uso de mais de 700 robôs hoje na fábrica da marca.
O próximo degrau: superar a Tesla na China
Se a tração comercial se sustentar, o desafio à Tesla deve ganhar contornos estatísticos.
Projeções da Citic Securities apontam que os carros da Xiaomi podem ultrapassar as vendas da Tesla na China em 2026, caso o ritmo de produção e a demanda pelos dois modelos se mantenham.
A meta operacional para 2025 — 350 mil carros —, somada ao ganho de eficiência industrial, indica que a empresa não pretende retroceder para o papel de mera integradora de componentes.
Ainda assim, há riscos.
O avanço em semicondutores próprios pode esbarrar em sanções e restrições geopolíticas, já que a fabricação do XRING O1 depende da TSMC.
No curto prazo, a pressão competitiva no mercado chinês e a execução da segunda fase da fábrica de veículos serão determinantes para transformar pré-encomendas em entregas e margem.
Reinvenção que mira além dos smartphones
A empresa que ficou conhecida por celulares acessíveis e eletrônicos “de ecossistema” reorganizou prioridades para se firmar como potência manufatureira.
A produção interna de smartphones premium, a estreia acelerada no automóvel, a construção de uma linha de eletrodomésticos com fábrica própria e o salto para chips avançados formam um mesmo arco estratégico: capturar valor onde a barreira tecnológica é mais alta e onde o controle de processo pode virar vantagem.
Hoje, a pergunta deixa de ser se a Xiaomi compete com Apple e Tesla e passa a ser quando e em quais frentes essa disputa se tornará mensurável em participação de mercado, receita e lucro — você apostaria que o próximo grande divisor de águas virá do carro, do chip ou da fusão dos dois no ecossistema da casa conectada?