1. Início
  2. / Economia
  3. / A chinesa que ameaça Apple e Elon Musk: Xiaomi monta carro a cada 76 segundos com 700 robôs e desafia Tesla com chip de 3nm, SUV recordista e produção própria de componentes
Tempo de leitura 6 min de leitura Comentários 0 comentários

A chinesa que ameaça Apple e Elon Musk: Xiaomi monta carro a cada 76 segundos com 700 robôs e desafia Tesla com chip de 3nm, SUV recordista e produção própria de componentes

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 28/08/2025 às 13:22
Xiaomi desafia Tesla com fábrica ultrarrápida, SUV recordista e chip de 3nm, ampliando domínio em carros elétricos e tecnologia.
Xiaomi desafia Tesla com fábrica ultrarrápida, SUV recordista e chip de 3nm, ampliando domínio em carros elétricos e tecnologia.
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

Xiaomi transforma fábrica em atração tecnológica em Pequim, aposta em chips de 3nm e desafia Tesla no mercado chinês com produção acelerada, novos modelos elétricos e estratégia de integração vertical.

A Xiaomi transformou sua fábrica de veículos elétricos em Pequim numa vitrine de tecnologia e eficiência. Visitas precisam ser agendadas com antecedência e, em períodos de pico, a entrada é definida por sorteio.

Enquanto fãs — os “mi fen” — acompanham de perto a linha automatizada que monta um carro a cada 76 segundos com mais de 700 robôs, a empresa acelera uma estratégia de integração vertical que mira rivais como Tesla e Apple, do carro ao chip de 3 nm.

Fábrica em Pequim e corrida por volume

Instalada na capital chinesa, a planta ganhou status de atração turística pela transparência dos processos e pelo nível de automação em etapas críticas.

A companhia opera com foco em escala e repetibilidade industrial, combinando robótica, visão computacional e controle de qualidade em tempo real para reduzir gargalos e manter ritmo constante na produção.

Além da vitrine, há metas ambiciosas. A empresa amplia a capacidade com a segunda fase do complexo de veículos, planejada para sustentar a entrega de 350 mil unidades em 2025.

Em paralelo, desenvolve uma fábrica de eletrodomésticos em Wuhan para iniciar a produção própria de aparelhos de ar-condicionado, reforçando a aposta em manufatura própria.

Do rótulo de “montadora de Lego” à indústria própria

A marca nasceu em 2010 com ambições modestas — “milhete”, no nome em chinês, e a referência de Lei Jun ao espírito de “milho mais rifles” dos anos de escassez —, mas cresceu rápido.

Em três anos, já figurava entre as líderes globais de celulares e expandia o portfólio para produtos de casa conectada. A despeito do sucesso, críticos apontavam dependência excessiva de fornecedores.

“Essa variedade de produtos não era historicamente da Xiaomi; a empresa tem uma ampla rede de parceiros”, disse Richard Windsor, da Radio Free Mobile.

A leitura começou a mudar com o avanço de P&D. “Costumávamos dizer que a Xiaomi pegava tudo de fora e montava como se fosse um bloco de Lego”, afirmou Ivan Lam, da Counterpoint Research; para ele, o investimento em pesquisa vem reequilibrando a equação.

Smartphones premium ganham produção própria

O primeiro movimento concreto ocorreu em 2020, com a fábrica para séries pequenas do dobrável. Em início de 2024, a companhia levou os modelos premium de smartphones para linhas próprias.

O resultado veio nos números: no primeiro trimestre, as remessas de celulares premium cresceram 81% na comparação anual, bem acima do avanço do mercado total.

A leitura interna é direta: “Marcas de tecnologia podem cobrar um prêmio quando são conhecidas por usar tecnologia avançada, e fábricas de ponta são uma das representações tangíveis disso”, disse a empresa ao Financial Times.

Três anos do anúncio ao primeiro sedã

Nos carros, a execução foi mais rápida que a de muitos concorrentes.

Em 28 de março de 2024, a Xiaomi lançou o SU7, sedã esportivo produzido em Pequim, três anos depois de anunciar que entraria no setor. A Apple, por contraste, encerrou seu projeto automotivo um mês antes.

O SU7 chegou com condução assistida de última geração e sistema operacional integrado ao ecossistema de celulares e eletrodomésticos.

A fabricante também ressaltou componentes e equipamentos desenvolvidos internamente, como liga de alumínio proprietária, aço de ultra-alta resistência e moldes para fundição de grandes partes da carroceria.

SUV YU7 dispara pedidos e mira Tesla Model Y

Em 26 de junho de 2025, a Xiaomi apresentou o YU7, SUV posicionado para rivalizar com o Model Y.

A resposta inicial foi incomum: 200 mil pré-encomendas em 3 minutos e 289 mil em 1 hora, com preço de partida abaixo do concorrente da Tesla.

A demanda robusta pressionou prazos de entrega, enquanto o SU7 já figurava entre os mais vendidos do disputado mercado chinês.

O impacto foi imediato também no mercado financeiro: as ações acumulam alta próxima de 200% em 12 meses, sustentadas pelo desempenho dos carros e pela percepção de que a empresa domina mais etapas críticas da cadeia.

Chips de 3nm e aposta em integração vertical

A estratégia de verticalização alcançou um marco com o XRING O1, SoC de 3 nm produzido pela TSMC que equipa smartphones e tablets premium da marca.

Segundo analistas, a decisão abre espaço para um ecossistema mais coeso entre dispositivos, serviços e, potencialmente, recursos do carro conectado.

A Xiaomi anunciou investimentos mínimos de 50 bilhões de yuan em dez anos para chips e 200 bilhões de yuan em cinco anos para tecnologias de ponta, como sistemas operacionais e inteligência artificial.

Para Lu Weibing, presidente da empresa, a diferenciação virá dessa capacidade: no futuro, disse ele, haverá “apenas dois tipos de negócios: os que desenvolvem seus próprios chips e os que não desenvolvem”, com uma distância geracional de competitividade entre eles.

Xiaomi desafia Tesla com fábrica ultrarrápida, SUV recordista e chip de 3nm, ampliando domínio em carros elétricos e tecnologia.
Xiaomi desafia Tesla com fábrica ultrarrápida, SUV recordista e chip de 3nm, ampliando domínio em carros elétricos e tecnologia.

Visitas guiadas reforçam narrativa de fábrica

A abertura de visitas guiadas ajudou a consolidar a narrativa de manufatura avançada.

Podem me chamar de diretor de fábrica Lei”, escreveu Lei Jun em rede social, em tom de provocação e orgulho industrial, depois de exaltar as virtudes das linhas de carros elétricos e de smartphones.

A Xiaomi também surfa uma tendência doméstica: o incentivo de Pequim para construir “novas forças produtivas de qualidade”, que combinam automação, dados e controle de processos.

Um editorial aprovado pelo People’s Daily resgatou os esforços de engenheiros dos anos 1950 e os comparou ao uso de mais de 700 robôs hoje na fábrica da marca.

O próximo degrau: superar a Tesla na China

Se a tração comercial se sustentar, o desafio à Tesla deve ganhar contornos estatísticos.

Projeções da Citic Securities apontam que os carros da Xiaomi podem ultrapassar as vendas da Tesla na China em 2026, caso o ritmo de produção e a demanda pelos dois modelos se mantenham.

A meta operacional para 2025 — 350 mil carros —, somada ao ganho de eficiência industrial, indica que a empresa não pretende retroceder para o papel de mera integradora de componentes.

Ainda assim, há riscos.

O avanço em semicondutores próprios pode esbarrar em sanções e restrições geopolíticas, já que a fabricação do XRING O1 depende da TSMC.

No curto prazo, a pressão competitiva no mercado chinês e a execução da segunda fase da fábrica de veículos serão determinantes para transformar pré-encomendas em entregas e margem.

YouTube Video
Xiaomi desafia Tesla com fábrica ultrarrápida, SUV recordista e chip de 3nm, ampliando domínio em carros elétricos e tecnologia.

Reinvenção que mira além dos smartphones

A empresa que ficou conhecida por celulares acessíveis e eletrônicos “de ecossistema” reorganizou prioridades para se firmar como potência manufatureira.

A produção interna de smartphones premium, a estreia acelerada no automóvel, a construção de uma linha de eletrodomésticos com fábrica própria e o salto para chips avançados formam um mesmo arco estratégico: capturar valor onde a barreira tecnológica é mais alta e onde o controle de processo pode virar vantagem.

Hoje, a pergunta deixa de ser se a Xiaomi compete com Apple e Tesla e passa a ser quando e em quais frentes essa disputa se tornará mensurável em participação de mercado, receita e lucro — você apostaria que o próximo grande divisor de águas virá do carro, do chip ou da fusão dos dois no ecossistema da casa conectada?

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x