Reconstruída após um incêndio e inaugurada em 2020, a Estação Comandante Ferraz é a vanguarda da ciência e da estratégia do Brasil no continente mais frio e remoto do planeta.
No lugar mais frio, seco e isolado da Terra, o Brasil mantém um pé firme. A Estação Antártica Comandante Ferraz, a base brasileira na Antártida, é muito mais do que um posto de pesquisa. Ela é a materialização de uma sofisticada estratégia geopolítica, a prova da resiliência nacional e uma plataforma de ciência de ponta que garante ao Brasil um assento no seleto grupo de países que decidem o futuro do continente branco.
Sustentar essa presença é um desafio logístico monumental, que envolve uma complexa operação anual da Marinha e da Força Aérea para levar tudo o que é necessário para a sobrevivência e a pesquisa. Em 2025, a nova e moderna estação, reconstruída após uma tragédia, está em plena operação, reafirmando o compromisso do Brasil com a ciência e a paz na Antártida.
Uma questão de estratégia: Por que o Brasil criou o PROANTAR em 1982?
A presença do Brasil na Antártida foi uma decisão estratégica. Em 1975, o país aderiu ao Tratado da Antártica, mas para ter direito a voto nas decisões sobre o continente, era preciso provar “substancial interesse de pesquisa científica”. Foi para cumprir essa exigência que, em 12 de janeiro de 1982, foi criado o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR).
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O objetivo era duplo. Geopoliticamente, garantir a presença do Brasil em um continente vizinho e de imensa importância estratégica. Cientificamente, entender os fenômenos que ocorrem na Antártida e que influenciam diretamente o clima e a agricultura em nosso país. A primeira expedição, em 1982, garantiu ao Brasil o status de Membro Consultivo do Tratado no ano seguinte.
A tragédia de 2012 e a reconstrução da Estação Comandante Ferraz
A primeira base brasileira na Antártida foi inaugurada em 6 de fevereiro de 1984. Por quase 30 anos, ela foi a casa da ciência brasileira no continente, até a tragédia de 25 de fevereiro de 2012. Um incêndio de grandes proporções destruiu 70% da estação e, tragicamente, vitimou dois militares da Marinha.
A resposta do Brasil foi rápida e robusta. Em vez de abandonar o local, o que significaria perder o direito de presença, o governo decidiu investir em um salto de qualidade. Com um custo de aproximadamente 100 milhões de dólares, uma nova estação foi projetada. A construção, um desafio logístico internacional, ficou a cargo da empresa chinesa CEIEC. A nova e moderna Estação Antártica Comandante Ferraz foi inaugurada em 15 de janeiro de 2020, com o dobro da capacidade e tecnologia de ponta.
Como a Marinha e a FAB garantem a sobrevivência na Antártida
Manter a base brasileira na Antártida funcionando exige uma operação logística impecável, coordenada pela Marinha do Brasil. A espinha dorsal são as missões anuais OPERANTAR, realizadas durante o verão com os navios polares “Ary Rongel” e “Almirante Maximiano”. São eles que levam toneladas de combustível, alimentos, equipamentos e pessoal para a estação.
O apoio aéreo, feito pela Força Aérea Brasileira (FAB), é igualmente crucial. Com os aviões C-130 Hércules e o moderno KC-390 Millennium, a FAB realiza o transporte rápido de pessoal e, mais importante, garante o reabastecimento da base durante o rigoroso inverno, quando o mar congela e impede a chegada dos navios. Nessas missões, os suprimentos são lançados de paraquedas para a equipe que permanece isolada.
A ciência como passaporte: O que se pesquisa na base brasileira na Antártida em 2025?
A produção científica de alta qualidade é o que legitima a presença do Brasil na Antártida. Em 2025, a estação está em plena atividade, como demonstra a Operação Antártica XLIII (2024-2025). Essa missão dá suporte a 24 projetos de pesquisa e envolve 171 cientistas de diversas áreas.
As pesquisas são variadas, desde o estudo de fungos e os impactos das mudanças climáticas até a geologia e a biologia marinha. A nova estação, com seus 17 laboratórios modernos, oferece uma plataforma de classe mundial para que os cientistas brasileiros possam desenvolver seus trabalhos e contribuir para o conhecimento global sobre o continente.
Desafios e o futuro até 2048: Sustentando a presença brasileira no gelo
O maior desafio para a base brasileira na Antártida e para o PROANTAR é a sustentabilidade financeira. O programa depende de um orçamento complexo, que muitas vezes precisa ser complementado por emendas parlamentares e parcerias, como a histórica colaboração com a Petrobras para o fornecimento de combustível.
Manter um programa científico e logístico forte é um investimento estratégico. Em 2048, o Protocolo de Madri, que proíbe a exploração de minérios na Antártida, poderá ser revisto. A posição do Brasil nesse debate futuro dependerá diretamente do peso de sua ciência e de sua reputação como um ator relevante e responsável no continente. A nova Estação Comandante Ferraz é a peça central dessa estratégia.