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A Argentina possui um campo de gás gigantesco chamado Vaca Muerta, e o BNDES planeja financiar as operações desse campo; expectativa do Brasil é reduzir dependência do gás boliviano

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 13/02/2023 às 18:39
Atualizado em 18/03/2023 às 14:26
Vaca Muerta
Vaca Muerta (FOTO/divulgação)

A Vaca Muerta, um megacampo de gás natural descoberto na Argentina, trouxe à tona a possibilidade de financiamento do BNDES para o novo trecho do gasoduto Néstor Kirchner com o objetivo de abastecer o mercado brasileiro.

No entanto, muitas dúvidas pairam sobre custos, tempo de implantação e até mesmo disponibilidade da produção para o Brasil. Localizada na Província de Neuquén, Vaca Muerta é uma grande área de óleo não-convencional (shale gas) com vários campos produtores e contratos de operadoras diferentes. O plano pode ser factível na teoria, mas a luz verde definitiva depende de se compreender os riscos envolvidos e outros fatores para que seja benéfico para a economia brasileira.

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Via O BAÚ DO TRADER

O campo de Vaca Muerta estabeleceu um novo recorde de produção de hidrocarbonetos em junho de 2022, com 706 mil barris de óleo equivalente por dia (boed). 

A YPF lidera a exploração do campo, mas grandes petroleiras estrangeiras, como Shell (SHEL), Total (TTE) e ExxonMobil (XOM), também estão presentes. Se as estimativas se confirmarem, o campo alcançará um pico de 1,2 milhão boed em 2033.

O aumento expressivo da produção de petróleo e gás na região América Latina exige uma maior capacidade de transporte dos combustíveis associados. O diretor de pesquisa Marcelo de Assis destacou que, caso isso não aconteça, os volumes produzidos em Vaca Muerta podem sofrer limitações. Por isso, segundo o especialista, é tão importante a construção de um novo gasoduto para suportar esse crescimento.

Gasoduto Néstor Kirchner

O sonho antigo do setor de gás e dos governos envolvidos é uma integração na área entre Brasil, Bolívia e Argentina. O primeiro trecho do gasoduto Néstor Kirchner, que ligará Neuquén a Buenos Aires, está previsto para ser concluído entre 2023 e 2024. Um segundo trecho levaria o insumo da capital argentina até a Província de Santa Fé, onde há uma ligação de dutos até Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.

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O sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, afirmou que, para tornar o projeto de distribuição de gás de Vaca Muerta para o Brasil economicamente viável, é necessário ter uma conexão entre Uruguaiana e Porto Alegre, e lá há os chamados consumidores-âncora que solicitam gás o ano inteiro. 

Além disso, Porto Alegre pode abrigar um polo petroquímico em Triunfo e também uma nova térmica. A nova infraestrutura também pode se conectar ao gasoduto já existente Brasil-Bolívia, permitindo assim a entrega de gás para Santa Catarina e Paraná. No entanto, Pires salientou que a Argentina e a Bolívia não são parceiros confiáveis para tornar esse projeto realidade. 

O CEO da Gas Energy, Rivaldo Moreira Neto, alertou que mudanças nos contratos de fornecimento de gás para o Brasil, com aumentos de preços não previstos, ameaças de cortes de suprimento e fim dos incentivos à produção do insumo, limitaram em muito a oferta disponível. Desse modo, ele destacou que o projeto para ligar Uruguaiana a Porto Alegre teria cerca de 600 quilômetros e custaria bilhões de reais. 

Ainda segundo o CEO da Gas Energy, os planos do governo argentino de expandir a infraestrutura de escoamento de Vaca Muerta tiveram seu desenvolvimento prejudicado pela crise cambial no país vizinho. Assim sendo, não havendo segurança jurídica e estabilidade regulatória, a integração nunca aconteceu. “A ideia é boa porque precisamos de gás, mas, se essa infraestrutura toda não for feita, não adianta”, afirmou Moreira. 

Portanto, devido à falta da necessária estabilidade regulatória e segurança jurídica entre os dois países envolvidos no projeto – Brasil e Argentina – o futuro dessa importante iniciativa continua incerto.

Choque do gás

O mundo todo enfrenta uma necessidade urgente de diversificar suas fontes de energia. O megacampo de gás natural Vaca Muerta, na Argentina, oferece a oportunidade para que o Brasil possa reduzir sua dependência de insumos importados da Bolívia. No entanto, os custos elevados e a falta de disponibilidade da produção no país em certas estações do ano são desafios que precisam ser superados.

Além disso, o risco regulatório e o ambiente jurídico entre os dois países envolvidos também são fatores importantes que colocam em dúvida a realização deste projeto. Uma alternativa promissora é o gás natural liquefeito (GNL), que pode ser transportado por navios para atender à demanda brasileira.

No entanto, para que essa opção seja viável, é necessário ter plantas de liquefação (na origem) e regaseificação (no destino). O Brasil já conta com terminais deste tipo espalhados por vários estados e há estudos sobre novas instalações em outros locais. Mas Walter de Vitto, analista da Tendências Consultoria, alertou que isso não significa que o GNL possa substituir completamente a dependência da Bolívia. “Ainda temos um consumo significativo proveniente da produção doméstica”, disse ele.

Por último, Paulo Moreira acrescentou que, mesmo com as vantagens do GNL, os preços internacionais podem comprometer a competitividade brasileira. “Se quisermos comprar GNL, vamos ter que competir com a Europa”, explicou ele. Ainda assim, é esperado que este recurso possa desempenhar um papel importante no mercado brasileiro no futuro próximo.

Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 2.300 artigos publicados no CPG. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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