Yuan já é a 2ª moeda nas reservas do Brasil em 2025, superou o euro e amplia disputa geopolítica contra a hegemonia do dólar.
Enquanto o debate público se concentra em eleições e crises fiscais, um dado do Banco Central do Brasil passou quase despercebido — mas carrega potencial de mudar o tabuleiro financeiro global. Em 2025, o yuan já se consolidou como a 2ª moeda mais importante nas reservas internacionais brasileiras, superando o euro e ficando atrás apenas do dólar.
É um movimento silencioso, construído ao longo dos últimos anos, mas com peso simbólico gigantesco: significa que o Brasil, maior economia da América Latina, escolheu o renminbi como pilar de sua proteção cambial, reforçando os laços com Pequim e ampliando o desafio à hegemonia americana.
Como o yuan chegou ao topo
Até poucos anos atrás, a presença do yuan nas reservas do Brasil era quase irrelevante. Em 2019, não passava de 1,2% do total. Em 2021, já representava 4,99%.
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Em 2022, deu o salto histórico: 5,37% do total, superando os 4,74% do euro, segundo o Relatório de Reservas divulgado pelo BCB.
Desde então, a trajetória só cresceu. Em 2025, mesmo sem números oficiais ainda atualizados, analistas confirmam que a moeda chinesa já é a segunda mais importante do cofre brasileiro, superando também a libra e consolidando-se como símbolo da desdolarização gradual.
Esse avanço foi sustentado por três fatores:
- Swap cambial de R$ 157 bilhões assinado entre Brasil e China em maio de 2025, garantindo liquidez em yuan.
- Expansão do comércio bilateral: hoje, mais de 40% das trocas Brasil–China já ocorrem em moeda chinesa.
- Atração pela estabilidade: em um mundo de juros altos e riscos cambiais, o yuan oferece proteção, especialmente quando lastreado pelos vínculos comerciais reais.
O dólar ainda reina, mas…
É claro que o dólar continua sendo o pilar. Mais de 80% das reservas globais e ainda cerca de 80% das reservas brasileiras estão dolarizadas. Mas o ponto central é outro: pela primeira vez, um país emergente de peso escolheu o yuan como sua 2ª âncora de reservas, deixando moedas europeias para trás.
Isso gera desconforto em Washington e Bruxelas. Para os EUA, significa que o Brasil — tradicionalmente visto como parte de sua esfera de influência financeira — está migrando para o campo monetário da China.
Para a União Europeia, é um alerta de irrelevância: se até o euro perdeu espaço no Brasil, sua pretensão de rivalizar com o dólar fica ainda mais distante.
O tabuleiro geopolítico
A ascensão do yuan nas reservas brasileiras não é apenas uma decisão técnica do BC. É um reflexo direto da geopolítica:
- China como principal parceiro comercial: em 2025, a China compra mais de US$ 100 bilhões por ano em commodities brasileiras (soja, minério, petróleo, carne).
- BRICS como contrapeso: com Índia, Rússia e agora Arábia Saudita, o bloco pressiona pela criação de sistemas paralelos de pagamentos.
- Sanções financeiras como arma: após a guerra na Ucrânia, a Rússia foi cortada do Swift, acelerando a busca de alternativas ao dólar.
Nesse cenário, o Brasil se posiciona no centro de uma disputa: ao mesmo tempo em que mantém a base dolarizada, amplia sua aposta no yuan como seguro contra choques futuros.
O impacto no mercado brasileiro
Na prática, o aumento do yuan nas reservas traz efeitos diretos:
- Proteção ao agronegócio: exportadores que recebem em yuan veem maior previsibilidade, já que o BC tem mais lastro na moeda.
- Redução de custos cambiais: empresas podem acessar linhas em yuan com menor atrito, sem precisar triangular com dólar.
- Maior margem de negociação: o Brasil passa a ter poder de barganha maior com Pequim, usando o yuan como moeda de financiamento de projetos.
Por outro lado, surgem riscos:
- Dependência da China: se o yuan se tornar pilar demais, qualquer mudança política em Pequim impactará diretamente as reservas brasileiras.
- Baixa conversibilidade: o yuan ainda não é totalmente livre, e operações financeiras dependem de autorizações do PBoC.
- Exposição geopolítica: os EUA podem enxergar o movimento como sinal de alinhamento excessivo com Pequim.
Washington em alerta
Em Washington, o avanço do yuan é lido como mais uma fissura na hegemonia do dólar. Se cada país emergente adicionar alguns pontos percentuais de yuan em suas reservas, a soma pode ser suficiente para erosão gradual do sistema financeiro americano.
Analistas ligados ao Federal Reserve já apontam que o “risco não é o dólar perder sua posição dominante de uma vez, mas sim um processo cumulativo de perda de relevância, iniciado por swaps e reservas alternativas.”
Para o Brasil, a presença do yuan como 2ª moeda das reservas é, ao mesmo tempo, uma vitória e uma armadilha. Vitória porque fortalece o país em negociações, reduz custos e mostra que Brasília sabe aproveitar sua posição estratégica entre EUA e China.
Em 2025, o dado é claro: o yuan superou o euro e já é a segunda moeda do cofre brasileiro. A questão é se essa escolha é o início de uma nova autonomia monetária ou apenas a troca de um guardião por outro.