Sindicato, que celebra 70 anos, projeta retomada gradual da atividade nos estaleiros, superando desafios e mirando novas oportunidades no setor naval.
O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) completa 70 anos e vislumbra um futuro de reaquecimento para o setor. Ariovaldo Rocha, presidente da entidade, prevê uma ocupação progressiva de todos os estaleiros. Após um hiato de quase uma década de baixa atividade, entre 2015 e 2023, alguns estaleiros já começam a se movimentar. Outros ainda aguardam sua inserção nas demandas anunciadas pela Petrobras e Transpetro.
Desafios atuais e a urgência por garantias financeiras para os estaleiros
A retomada plena dos estaleiros, no entanto, enfrenta obstáculos. Ariovaldo Rocha aponta a necessidade de superá-los. “Há necessidade da remoção de alguns obstáculos, como, por exemplo, a questão das garantias financeiras”, analisa Rocha. Ele explica que a viabilização de contratos depende dessas garantias. O antigo Fundo Garantidor, crucial para o setor, não está atualmente em eficácia.
Oportunidades com margem equatorial, desmantelamento e eólica offshore
O Sinaval identifica novas frentes de expansão para os estaleiros. A exploração do pré-sal da Margem Equatorial, por exemplo, deve impulsionar a demanda por ativos. Destacam-se as embarcações de apoio marítimo. Neste segmento, o Brasil desenvolveu especialização e é competitivo mundialmente. “Com providências adequadas do governo, cremos que a indústria naval crescerá e atingirá patamares não atingidos nos ciclos anteriores”, acredita Rocha.
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Outra vertente promissora é o mercado de desmantelamento e reciclagem de navios e estruturas marítimas. Caso se consolide, poderá trazer alívio aos estaleiros em períodos de menor atividade. Rocha também projeta a construção de ativos para o mercado de energia eólica offshore. Esta pode se tornar uma atividade importante para a consolidação da indústria brasileira.
Ciclos históricos e a consolidação dos estaleiros brasileiros
Em entrevista à Portos e Navios, Rocha relembrou os ciclos da indústria. Mencionou períodos críticos que exigiram reinvenção e superação. Um deles foi durante os primeiros Planos de Construção Naval (PCNs), em 1973 e 1975. Estaleiros, antes focados em embarcações menores, assumiram contratos de grande porte, até para exportação. Isso demandou grande formação de mão de obra. O número de empregos saltou de 19.200 em 1972 para 39.000 em 1979.
Desafios surgiram na engenharia e no comércio exterior, sem os recursos computacionais atuais. A partir de 2003, outro período crítico envolveu a construção de ativos para exploração de petróleo e gás. Foram demandados navios de apoio, PLSVs, petroleiros, gaseiros e plataformas. Rocha ressalta que todos os desafios foram superados. A indústria naval atingiu alto grau de excelência, tornando-se um player importante no mercado offshore. “Nesta retomada, alguns aspectos estão se repetindo”, avaliou Rocha, referindo-se ao longo período de baixa atividade.
Os estaleiros brasileiros estiveram mais fortes e competitivos entre 2003 e 2014. Naquele período, o governo estimulou novos estaleiros e a modernização dos existentes. O Brasil tornou-se o segundo maior construtor de navios de apoio marítimo, atrás apenas da Noruega. Os ativos mais complexos já fabricados no país incluem navios de apoio marítimo, como os PLSVs, e plataformas de produção de petróleo.
Governo, transição energética e parcerias estratégicas
Rocha observa que o governo atual tem se mostrado sensível às pautas do setor naval. Medidas para remover barreiras e aperfeiçoar a legislação estão em andamento. Uma Frente Parlamentar atuante facilita a interlocução com o Congresso. O Fundo da Marinha Mercante (FMM) tem aprovado projetos com rapidez. Essas iniciativas geram otimismo para um novo ciclo de progresso nos estaleiros.
Quanto às ameaças, Rocha menciona a incerteza na política internacional. No aspecto técnico, há uma preocupação com as demandas futuras por sustentabilidade. A “economia verde” e a transição energética exigirão adaptação. Contudo, o acompanhamento de discussões em órgãos internacionais ajudará a resolver questões técnicas.
O Sinaval é favorável a novas parcerias entre empresas brasileiras e grupos estrangeiros. Essas colaborações já renderam bons frutos em ciclos anteriores. A entidade também acompanha as discussões sobre transição energética. Temas como combustíveis alternativos, “hidrogênio verde” e energia eólica no mar estão no radar para os estaleiros.