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Vestígios de arroz com 3.500 anos são descobertos em caverna

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 26/06/2025 às 11:03
arroz, caverna
Foto: Reprodução
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Descoberta em local preservado pode mudar o que se sabe sobre a agricultura antiga no Pacífico

Uma nova descoberta arqueológica em ilha de Guam, localizada na região da Micronésia, no Oceano Pacífico Ocidental, surpreendeu pesquisadores ao revelar vestígios de arroz com até 3.500 anos.

Os fitólitos — minúsculos fragmentos vegetais — estavam aderidos à superfície de cerâmicas encontradas na Caverna da Praia de Ritidian, no norte da ilha.

Os fragmentos pertencem a cascas e folhas de arroz e foram datados entre 3.500 e 3.100 anos atrás.

Segundo os arqueólogos envolvidos, essa é a evidência mais antiga já identificada do uso de arroz na região do Pacífico remoto.

Até então, os registros mais antigos indicavam presença do grão apenas entre 1.000 e 700 anos atrás. A nova descoberta amplia esse intervalo em mais de dois mil anos.

caverna, arroz
Fitólitos de arroz de escavações na Caverna da Praia de Ritidian, Guam. Barras de escala – 10 μm. Crédito da imagem: Carson 
et al ., doi: 10.1126/sciadv.adw3591.

Origem e significado cultural

Os primeiros austronésios, povos originários de Taiwan, já cultivavam arroz há pelo menos 4.800 anos. Eles migraram por toda a Ásia-Pacífico a partir de 4.200 anos atrás.

Um dos caminhos dessa migração incluiu a longa travessia até Guam, nas Ilhas Marianas, no oeste da Micronésia.

O arroz domesticado carregado por esses povos tem origem na Bacia do Médio Yangtze, na China continental.

Durante as migrações, no entanto, o cultivo do arroz se tornou menos comum nas regiões mais remotas. Apenas Guam e as Ilhas Marianas mantiveram registros históricos de plantio, principalmente nos séculos 1500 e 1600.

A nova descoberta reforça a ideia de que o arroz não era consumido diariamente em Guam. Para o Dr. Hsiao-chun Hung, da Universidade Nacional Australiana, trata-se de uma mercadoria valorizada, usada possivelmente em contextos rituais e cerimoniais.

Cerâmica e camadas culturais

A equipe de cientistas da Austrália, China e Guam encontrou os vestígios na camada mais antiga da caverna. Os fragmentos estavam na superfície de potes de cerâmica vermelha. Para datar o material, os pesquisadores usaram técnicas modernas, como datação por radiocarbono em resíduos de lixo humano encontrados ao redor da caverna.

Apesar da importância da descoberta, os arqueólogos não identificaram vestígios de campos de arroz, sistemas de irrigação ou ferramentas agrícolas. Isso reforça a hipótese de que o arroz não era cultivado em larga escala.

O ambiente úmido da caverna também indica que os grãos não eram armazenados ali. Aparentemente, o arroz era processado e cozido em outro local, com a cerâmica sendo trazida para dentro da caverna depois do uso.

Migração e navegação impressionantes

Um dos pontos mais impressionantes da descoberta é a distância percorrida pelos antigos austronésios. Segundo os pesquisadores, os grãos de arroz foram transportados das Filipinas até Guam, cruzando 2.300 quilômetros de oceano aberto. Essa é considerada a maior viagem marítima conhecida da época.

Para os cientistas, esse feito demonstra um elevado grau de habilidade em navegação e uma forte ligação cultural com o alimento. O esforço para preservar o arroz e levá-lo por distâncias tão grandes mostra sua importância simbólica.

A Dra. Hung destaca que a descoberta fortalece a conexão entre as práticas atuais da população local e as tradições de seus ancestrais.

Um sítio preservado e revelador

A Caverna da Praia de Ritidian tem papel central na pesquisa. Ao contrário de outras áreas de Guam que foram alteradas por conflitos e ocupações militares, o local permaneceu praticamente intocado. Isso garantiu a preservação das camadas mais antigas.

Apesar de diversas escavações em áreas abertas da ilha, esta foi a primeira vez que os pesquisadores encontraram evidências tão claras do uso do arroz em tempos tão antigos. A caverna se tornou, assim, um ponto-chave para o estudo da presença austronésia no Pacífico.

A descoberta abre novas possibilidades para entender como os primeiros habitantes do Pacífico viviam, se moviam e o que valorizavam. E, neste caso, o arroz era muito mais do que apenas comida.

A descoberta foi relatada em um artigo na revista Science Advances.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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