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Venezuelanos não querem mais saber dos EUA: clima hostil, saudade da família e pressão migratória forçam retorno após anos no exterior

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 06/10/2025 às 16:11
Venezuelanos deixam os EUA e retornam ao país natal, fugindo da deportação, do clima hostil e da saudade da família.
Venezuelanos deixam os EUA e retornam ao país natal, fugindo da deportação, do clima hostil e da saudade da família.
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Políticas migratórias mais duras, medo da deportação e saudade de casa estão levando milhares de venezuelanos a refazer o caminho de volta, em um movimento de retorno inédito após anos de fuga em massa.

O avanço de políticas migratórias mais rígidas nos Estados Unidos, o aumento de episódios de xenofobia e a distância prolongada dos familiares têm levado parte dos venezuelanos a fazer o caminho de volta.

Depois de anos fora, muitos interrompem o projeto migratório e retornam à Venezuela, em uma “rota inversa” alimentada tanto por medidas de deportação e perda de status quanto pela exaustão emocional de viver longe de casa.

Em setembro, autoridades de Colômbia, Panamá e Costa Rica contabilizaram mais de 14 mil pessoas — a maioria venezuelanos — desistindo do destino norte-americano e voltando ao sul.

A diáspora e os números do êxodo venezuelano

Desde 2015, a diáspora venezuelana alcançou dimensões históricas.

Estimativas das Nações Unidas apontam que quase 7,9 milhões de pessoas deixaram o país, com o fluxo de saída ainda predominando, apesar de retornos pontuais.

O volume mantém a crise venezuelana entre as maiores deslocações humanas do mundo recente.

Políticas migratórias dos EUA endurecem em 2025

A política migratória dos EUA sofreu mudanças decisivas em 2025.

Em outubro, a Suprema Corte permitiu que o governo Trump encerre o TPS (Status de Proteção Temporária) para centenas de milhares de venezuelanos, revertendo decisões anteriores que haviam barrado a medida.

Na prática, a suspensão do benefício retira autorização de trabalho e proteção contra deportação de quem havia sido amparado desde 2021.

Ainda no primeiro semestre, deportações e detenções se intensificaram, com registros de picos de pessoas em custódia do ICE.

O endurecimento incluiu voos de repatriação a Caracas, reativados após tratativas bilaterais.

A reabertura dessas rotas deu fôlego às remoções, num contexto em que o governo passou a priorizar ações mais amplas de fiscalização e saída acelerada de imigrantes.

Clima de hostilidade e medo crescente

A sensação de ambiente hostil também pesa.

Migrantes relatam abordagens frequentes e medo de operações que resultem em prisão e expulsão.

O venezuelano Santi Añez contou ter optado por “autodeportar-se” a fim de preservar uma eventual possibilidade de retorno legal no futuro, evitando, segundo ele, o estresse de ser detido e impedido de voltar.

O relato ecoa depoimentos coletados pela Bloomberg de quem, diante da incerteza, preferiu refazer as malas rumo a Maracay, Caracas ou outras cidades.

A rota inversa: coiotes e passagens de volta

A travessia ao sul ganhou caminhos improváveis.

Em vez de contratar coiotes para cruzar a fronteira rumo aos EUA, alguns migrantes passaram a pagar a mesma rede de contrabandistas para o percurso inverso, deixando cidades como El Paso em direção a Ciudad Juárez e, de lá, seguindo a outros países.

Um intermediário relatou cobrar US$ 2.500 por pessoa para esse deslocamento “de volta”, sinal do quanto a demanda por saídas cresceu com a repressão migratória.

Histórias de retorno e o peso da solidão

Voos de deportação e políticas de expulsão em série se combinam com histórias pessoais de isolamento e cansaço.

Era uma vida muito solitária”, disse à Bloomberg o jovem Eduardo Rincón, de 24 anos, que morou em Miami, trabalhou na recepção de um hotel e enviava parte do salário para sustentar a mãe na Venezuela.

Após o Departamento de Segurança Interna informar a revogação do status de liberdade condicional de sua família, a perspectiva de deportação os levou a decidir pelo retorno conjunto.

Decidimos ficar juntos e voltar”, relatou.

Hoje, em Caracas, ele ganha menos e admite a dúvida constante entre o sustento e a convivência com os seus.

Parece que estamos condenados a escolher entre uma vida melhor economicamente, mas sem família e amigos, e uma vida mais pobre, mas cercada por entes queridos”, resumiu.

Deportações em massa e nova onda de saídas

As estatísticas recentes ajudam a dimensionar a virada.

Em 2025, reportagens e dados oficiais apontam mais de 13 mil venezuelanos expulsos dos EUA ao longo do ano, via voos regulares e operações quinzenais, em paralelo a um aumento do número de pessoas detidas à espera de remoção.

Embora os totais variem conforme a fonte e o recorte temporal, o cenário indica um ciclo de remoções em alta e espaço mais estreito para permanência, inclusive para quem antes contava com proteções temporárias.

O retorno pela rota da Darién

No subcontinente, autoridades registram a corrente contrária.

Dados de setembro de 2025 de governos da rota da Darién confirmam a “migração reversa”, com ônibus e embarcações levando famílias de volta pelo Panamá e pela costa colombiana.

Em vários casos, o retorno é improvisado, sem apoio institucional robusto, e expõe vulnerabilidades em trechos controlados por grupos armados, como alertaram agências internacionais.

Há também quem regresse em voos amparados por programas oficiais de repatriação.

A Venezuela informa desembarques sucessivos no aeroporto de Maiquetía desde o início do ano, ora por deportações dos EUA, ora por retorno voluntário organizado.

Esses movimentos, porém, não significam reabsorção plena no mercado de trabalho local, e especialistas lembram que persistem índices de repressão política e limitações econômicas internas que pesam sobre qualquer tentativa de reintegração.

Entre esperança e incerteza

Outro fator citado por migrantes é a percepção de alguma melhora de preços e oferta de produtos em cidades venezuelanas, ainda que longe de um quadro de estabilidade.

Mesmo entre os que enxergam sinais pontuais de recuperação, permanece o temor de prisões, hostilidades e incertezas normativas caso permaneçam nos EUA.

A combinação de risco jurídico e fadiga emocional ajuda a explicar por que parte dos que chegaram ao Norte agora insiste em voltar, ainda que isso envolva novos gastos, viagens longas e perigos.

No pano de fundo, segue a crise institucional pós-eleição de 2024, quando o Conselho Nacional Eleitoral declarou Nicolás Maduro vencedor e organismos internacionais questionaram a transparência do processo.

Relatórios de direitos humanos descrevem repressão a opositores e persistência de violações, quadro que empurra muitos a seguir tentando sair — e que, paradoxalmente, também alimenta os retornos de quem não conseguiu permanecer fora.

Entre saudade, medo e burocracia, a pergunta que cada família tenta responder é simples e dura: até que ponto vale insistir no exterior quando o custo emocional e o risco de deportação só aumentam?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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