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Venezuela quer vender nióbio para a Rússia fazendo o Governo do Brasil entrar em alerta?

Escrito por Flavia Marinho
Publicado em 07/09/2020 às 14:08
Atualizado em 30/12/2021 às 12:19
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Venezuela quer vender nióbio para a Rússia e Governo do Brasil entra em alerta

A notícia sobre as movimentações da Venezuela para explorar e vender o mineral para a Rússia, cria alerta no governo é falsa

Em agosto de 2020, um relatório da área militar alertou o Planalto sobre as movimentações da Venezuela para explorar e vender nióbio à Rússia. A extração ilegal do nióbio pelo governo da Venezuela e a entrada da Rússia na jogada preocuparam os militares. Contudo, não há provas que este fato seja verdade.

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A área militar lembra ao Planalto que os Estados Unidos definiram o nióbio como material estratégico para o desenvolvimento do Brasil. O metal é usado principalmente na produção de aços especiais e superligas e funciona como um “melhorador”: bastam 400 gramas por tonelada para produzir aços mais leves e resistentes.

Segundo os dados do Serviço Geológico do Brasil – CPRM, uma empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia, o Brasil é responsável por cerca de 98% das reservas de nióbio do mundo e 90% do total de transações relacionadas ao minério. Entretanto, não há indícios de que haja contrabando do mineral para os países citados pela no relatório divulgado. Especialistas afirmam que a comercialização do nióbio é pouco atrativo financeiramente nessa atividade ilegal.

Flagelo da mineração ilegal

O estado do Amazonas, onde estão localizadas as jazidas de nióbio, é também o estado com as reservas indígenas mais ameaçadas – um total de 30 vistas por grileiros, latifundiários e empresas de petróleo e gás.

As mineradoras têm pressionado por uma mudança na legislação brasileira, de forma que a mesma lhes permita não apenas minerar em uma reserva, mas também em terras indígenas protegidas em todo o país. 

Essa mudança poderia ser introduzida por meio da lei de mineração há muito tempo paralisada no Congresso, no entanto, ela enfrenta uma série de obstáculos. Uma delas é oriunda da Constituição Brasileira.

A Constituição Brasileira estabelece que nenhuma medida pode ser autorizada para permitir a mineração em áreas indígenas antes que uma série de pré-requisitos sejam satisfeitos, incluindo o consentimento das comunidades afetadas.

A Comissão de Minas e Energia, por exemplo, também já rejeitou uma proposta que criava uma política nacional para a produção do nióbio e exigia que apenas empresas 100% brasileiras poderiam explorar o nióbio. Outros 3 projetos sobre o beneficiamento do nióbio foram rejeitados pela mesma Companhia (PLs 1581/15, 11088/18 e 11249/18). 

O nióbio – também conhecido como columbium – é relativamente incomum no mundo, mas abundante no Brasil. Ele é um importante elemento utilizado como aditivo a produtos siderúrgicos em aplicações industriais, incluindo automóveis, aviões, dutos, espaçonaves, armas nucleares e até perfurações.

Cada vez mais este mineral tem se tornado essencial para a tecnologia e requisitado no mercado por suas característica de resistência às altas temperaturas e à corrosão. Além disso, o nióbio é o ele­mento metálico de mais baixa con­cen­tração na crosta ter­restre, sendo encontrado na natureza a uma pro­porção de 24 partes por mil­hão.

Veja este vídeo e conheça a verdade sobre o nióbio.

O nióbio (Nb) é um metal de transição, e ganhou este nome porque foi inspirado na deusa grega Níobe, que também batizou a personagem (gata) da série Roma. Ele ocorre principalmente como um óxido e tem uma forte coerência geoquímica com o tântalo. 

Os principais minerais de nióbio são pirocloro [(Na, Ca) 2Nb2O6F] e columbita [(Fe, Mn) (Nb, Ta) 2O6], composto por niobato, tantalato, ferro e manganês. Já a columbita é encontrada em pegmatita intrusiva e biotita e em granitos alcalinos. No entanto, uma vez que a maioria desses depósitos é pequena e mal distribuída, eles geralmente são extraídos como subproduto de outros metais.

Breve histórico da exploração do nióbio no Brasil

A primeira grande reserva de nióbio do mundo foi descoberta em 1960 em Araxá. Cinco anos depois, o americano Arthur W. Radford, integrante do conselho da mineradora Molycorp, e o banqueiro brasileiro Walther Moreira Salles montaram uma empresa de exploração desse elemento.

A associação entre os investimentos do banqueiro brasileiro e da mineradora na qual o americano era conselheiro – e que havia adquirido algumas minas em Araxá – resultou no surgimento da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM).

Em 1965, o governo brasileiro permitiu que a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), em parceria com o governo americano, explorasse as reservas disponíveis no país. Nesta época, o nióbio não tinha sua utilização comprovada. 

Apenas em 1970, após alguns estudo que foi atribuído ao nióbio utilidades comerciais. Foi nessa época que Salles, também dono do Banco Itaú, passou a comprar aos poucos a parte da empresa que pertencia aos americanos.

A CBMM comercializa o nióbio sob a forma de ligas metálicas, como o ferronióbio, que se constitui de 2/3 de nióbio e 1/3 de ferro. Em 2011, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração negociou 30% de suas ações com uma empresa asiática com algumas ressalvas, dentre elas, que fosse mantido o sigilo a respeito das etapas de processamento do nióbio desenvolvidas pela empresa de Salles

Já a Anglo American Brazil explora o nióbio em Catalão, estado de Goiás. Análogo a isso, podemos citar as reservas desse minério que existem na Amazônia. Existem dois depósitos de nióbio conhecidos na região, em Seis Lagos e em Santa Isabel do Rio Negro. 

Qual a probabilidade de desenvolvimento de nióbio na Amazônia?

Constituído por uma reserva biológica que cobre 36.900 hectares (91.181 acres) de floresta tropical primária, Seis Lagos inclui também uma colina de inselberg – uma protuberância rochosa isolada – e seis lagos, cada um com água de cores diferentes devido a diferentes minerais dissolvidos, como ferro, manganês e nióbio.

Seis Lagos fica localizado em São Gabriel da Cachoeira (AM), direitos minerários do Serviço Geológico do Brasil/CPRM, tem cerca de 2,9Gton a 2,81% Nb2O5, o que daria em torno de 81,4 Mton de óxido de Nióbio contido, ou seja, cerca de 14 vezes as atuais reservas conhecidas do mundo.

Veja vídeo sobre a maior jazida de Nióbio no mundo na Amazônia.

Entre Seis Lagos e Santa Isabel do Rio Negro, fica o Pico da Neblina, o pico mais alto do Brasil a 2.995 metros (9.827 pés) acima do nível do mar. Os depósitos de nióbio estão localizados na bacia do Rio Negro, a maior bacia de águas negras do mundo. Vinte e três grupos indígenas, incluindo o povo Yanomami, vivem na porção brasileira da bacia do Rio Negro.

O país possui uma reserva suficiente para sustentar a demanda de nióbio do mundo pelos próximos 200 anos. Fazendo um levantamento total, 98,2% das reservas de nióbio do planeta estão no Brasil.

Existe grande aposta e especulação a respeito da comercialização do nióbio e dos benefícios que ela poderia trazer ao Brasil, no entanto, apesar das possibilidades de uso do minério, ele pode ser substituído pelo vanádio ou pelo titânio, por exemplo, que são mais acessíveis a outros países. O custo da exploração do nióbio ainda é muito alto.

Por fim, a quantidade de nióbio que é necessário para a produção de ligas metálicas de utilização industrial é muito pequena, causando uma desvalorização pela regra da oferta e demanda. Para o nióbio ser comercializado a preços mais altos, o ideal seria agregar valor ao minério utilizando-o em novas tecnologias e evitar a venda do composto como matéria-prima.

Brasil é líder mundial de produção de nióbio

Quase todo nióbio do mundo está no Brasil. O país é reconhecido líder produtor e participante do mercado global de commodities minerais, em especial de minerais metálicos. Entre esses, se destacam o minério de ferro, o cobre, o ouro, o alumínio e o nióbio.

Veja o vídeo: Metal do futuro – Brasil é o maior produtor de nióbio do mundo

Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), o país detém cerca de 98% dos depósitos de nióbio em operação no mundo, o que representa um domínio de 82% do mercado global.

As maiores reservas brasileiras concentram-se na cidade de Araxá (MG) com 75% dos depósitos de nióbio, seguido pelo Amazonas com 21% dos depósitos não comerciais e outros 4 % estão em Catalão (GO).

A Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) é a responsável pela exploração do nióbio no Brasil sob o regime de concessão. O nióbio brasileiro é extremamente cobiçado pelo mercado exterior, sem exploração nacional, destinando-o para fora do País.

Em 2018, a CBMM destinou 95 mil toneladas de ferro nióbio, nióbio metálico, níquel nióbio e óxido de nióbio para o mercado externo, segundo levantamento da Revista Pesquisa Fapesp.

Aproximadamente 10% de todo o aço produzido no mundo contém Nióbio como elemento de liga. A China é o principal mercado que demanda este elemento, consumindo cerca de 25% de todo a produção mundial, principalmente para a produção do aço (ela produz cerca de metade do aço mundial).

Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração do Brasil aumenta a capacidade de ferronióbio para atender ao crescimento da demanda do setor de tecnologia

A Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração concluiu recentemente uma expansão  de US $ 555 milhões em sua planta de ferronióbio em Araxá, estado de Minas Gerais, no sudeste do Brasil. Este fato proporcionará um aumento nas vendas de ferroliga que abastece principalmente o setor automotivo global, energia renovável e eletrônicos.

A capacidade de ferronióbio na planta da CBMM foi estimada em cerca de 100.000 toneladas / ano antes da expansão. Com essa expansão, a capacidade de produção de ferronióbio da planta aumentou para 150.000 toneladas / ano, ou seja, isso é mais do que a atual demanda total do mercado de cerca de 110.000 toneladas / ano.

O mercado de ferronióbio encolheu para cerca de 95.000 toneladas em 2020 devido ao impacto da pandemia COVID-19. No ano passado, a CBMM vendeu cerca de 72.000 toneladas de ferronióbio. 

O uso de ferronióbio está crescendo em aplicações de aço de baixa liga de alta resistência na indústria automotiva, em superligas para turbinas, incluindo turbinas eólicas, em semicondutores e equipamentos de imagem médica, e também é usado em gasodutos, disse ele. O óxido de nióbio é a matéria-prima para a produção de superligas.

O Brasil detém as maiores reservas de nióbio do mundo e a CBMM é a maior produtora de nióbio do mundo, produzindo óxido de nióbio e ferronióbio, que descreve como seu principal negócio e produto carro-chefe. 

O Brasil produz a liga Fe-Nb e outros produtos, além de participar ativamente de todos os segmentos que envolvem o Nióbio. A CBMM – Cia Brasileira de Metalurgia e Mineração (privada) detém cerca de 80% da produção nacional, o restante com a Mineração Catalão de Goiás; a CBMM lavra a céu aberto e sem o uso de explosivos

O ferronióbio também é produzido pela China Molybdenum Corp no Brasil e pela Niobec no Canadá. Outros países com potenciais jazidas de nióbio são: Angola, Rússia, Arábia Saudita, República Democrática do Congo, Dinamarca, Finlândia, Gabão, Tanzânia, Nigéria, Malawi, Etiópia, EUA, dentre outros.

1ª Feira Brasileira do Nióbio e da inauguração de novas instalações do CNPEM/MCTI, em Campinas (SP)

O presidente da República, Jair Bolsonaro, e os ministros Marcos Pontes, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e Milton Ribeiro, do Ministério da Educação (MEC), participam na tarde do dia 8 de outubro de 2021, de uma série de eventos e inaugurações no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social supervisionada pelo MCTI.

Confira o vídeo da cerimónia alusiva à 1a. Feira Brasileira do Nióbio

O nióbio, considerado um dos “metais novos” teve sua utilização realçada pelas tecnologias de ponta surgidas nos últimos anos. No Brasil, os mais explorados são, em particular, os metais de Terras Raras (REE), nióbio, tântalo, lítio, vanádio, cobre e níquel.

A 1ª Feira Brasileira do Nióbio apresentou produtos já desenvolvidos pelas empresas em conjunto com a academia, voltados para a aplicação do mineral com intuito de contribuir com o posicionamento do Brasil no cenário mundial como referência voltada à produção, caracterização e aplicação do nióbio.

Flavia Marinho

Flavia Marinho é Engenheira de Produção pós-graduada em Engenharia Elétrica e Automação, com vasta experiência na indústria de construção naval onshore e offshore. Nos últimos anos, tem se dedicado a escrever artigos para sites de notícias nas áreas da indústria, petróleo e gás, energia, construção naval, geopolítica, empregos e cursos, com mais de 7 mil artigos publicados. Sua expertise técnica e habilidade de comunicação a tornam uma referência respeitada em seu campo. Entre em contato para sugestão de pauta, divulgação de vagas de emprego ou proposta de publicidade em nosso portal.

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