Campo de gás Azulão foi vendido por apenas US$ 54 milhões e hoje abastece Roraima com gás natural, virando modelo de energia integrada no Brasil.
Em meio ao programa de desinvestimentos da Petrobras nos últimos anos, muitos ativos considerados de “baixo potencial” foram repassados à iniciativa privada por valores modestos. Um desses casos aconteceu silenciosamente em 2017, quando o campo de gás Azulão, localizado no interior do Amazonas, foi vendido por apenas US$ 54,5 milhões. Na época, o valor não chamou tanta atenção. Mas poucos anos depois, a história mudou de figura. O que parecia mais um campo marginal no meio da floresta amazônica se transformou em um modelo de sucesso energético. Hoje, operado pela Eneva, o Azulão é parte central de uma operação integrada que fornece gás natural para gerar energia elétrica no estado de Roraima — um dos mais isolados do país.
A venda que parecia pequena, mas virou estratégica: campo de gás Azulão
O campo de Azulão havia sido descoberto pela Petrobras em 1999, mas nunca foi plenamente desenvolvido. Sua localização remota e a falta de mercado consumidor próximo tornavam o projeto pouco atrativo para a estatal, que priorizava grandes ativos no pré-sal ou em regiões com melhor infraestrutura logística.
Quando a Eneva comprou o ativo em 2017, o foco era claro: integrar a produção de gás com geração térmica, reduzindo a dependência energética de regiões isoladas. A venda foi parte do plano da Petrobras de concentrar esforços em projetos de maior escala e retorno mais rápido.
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O que parecia uma operação de pequeno porte acabou se tornando uma jogada inteligente para a nova dona.
A virada: gás no meio da floresta para gerar energia em Roraima
A partir de 2018, a Eneva desenvolveu um projeto ousado. O plano consistia em explorar o gás natural do Campo Azulão, liquefazê-lo em uma planta próxima e transportar o GNL (gás natural liquefeito) por caminhões até a Usina Termelétrica Jaguatirica II, localizada em Boa Vista, capital de Roraima — a cerca de 1.000 quilômetros de distância.
A usina começou a operar em maio de 2021, com capacidade instalada de 141 MW, suficiente para atender até 40% da demanda de Roraima. Foi a primeira operação do tipo no Brasil: extração de gás, liquefação, transporte rodoviário e geração elétrica totalmente integrados, em áreas remotas da Amazônia.
Independência energética para um estado isolado
Roraima era, até então, o único estado brasileiro não conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN) de energia. Sua eletricidade vinha principalmente da Venezuela, por meio da linha de transmissão de Guri, que enfrentava instabilidades desde 2016.
A construção da UTE Jaguatirica II, com fornecimento contínuo a partir do gás amazônico, permitiu reduzir a dependência do país vizinho, garantindo segurança energética para o estado e evitando apagões que eram frequentes.
O projeto também trouxe redução de custos e emissão de carbono, já que substituiu usinas movidas a óleo diesel — mais poluentes e menos eficientes.
Mais do que gás: logística, inovação e geração de valor no campo de gás Azulão
O caso do campo Azulão mostra que, com visão estratégica e capacidade de execução, é possível transformar ativos considerados secundários em motores de desenvolvimento regional.
A operação exigiu inovação logística: o GNL percorre quase 1.000 km por rodovia — algo desafiador mesmo com infraestrutura adequada. Cada caminhão transporta cerca de 20 mil litros de gás liquefeito, e a operação é contínua, 24 horas por dia.
O modelo virou referência para o setor energético, mostrando que é viável abastecer regiões isoladas com gás natural mesmo sem gasoduto, utilizando logística líquida e tecnologia nacional.
Números que impressionam
- Valor da venda do campo (2017): US$ 54,5 milhões
- Capacidade de produção estimada do campo Azulão: 2,2 milhões de m³/dia
- Potência da UTE Jaguatirica II: 141 MW
- Distância entre Azulão e Boa Vista: cerca de 1.000 km
- Frota dedicada para transporte do GNL: dezenas de caminhões com operação contínua
O investimento total da Eneva no projeto (campo + liquefação + usina) ultrapassou os R$ 1,8 bilhão — o que mostra o grau de aposta e confiança da empresa na viabilidade técnica e financeira da operação.
O futuro: replicar o modelo em outras regiões?
O sucesso de Azulão e da UTE Jaguatirica II abriu uma nova frente de negócios para a Eneva e pode servir como modelo para levar gás e energia a outros pontos isolados do país — como áreas remotas da Amazônia, Pantanal e até regiões do Nordeste com baixa integração ao SIN.
A companhia já estuda novos projetos que seguem o mesmo conceito de produção integrada off-grid, inclusive com possível expansão da capacidade de Azulão, a depender do comportamento da demanda energética regional.
Além disso, a estratégia fortalece a diversificação da matriz energética brasileira, incorporando gás natural nacional em locais onde antes só se usava óleo diesel ou se dependia de importação instável.
O campo de Azulão, que foi vendido pela Petrobras por um valor considerado baixo em 2017, mostra hoje que o valor de um ativo vai muito além do preço de venda. A operação integrada liderada pela Eneva se tornou referência nacional em inovação, logística e eficiência energética.
Mais do que um caso de sucesso empresarial, Azulão representa uma solução concreta para um dos principais desafios da infraestrutura brasileira: levar energia de qualidade e estabilidade a regiões isoladas, com custos controlados e menor impacto ambiental.
É um exemplo emblemático de como a combinação de visão estratégica, gestão eficiente e coragem para inovar pode transformar um ativo aparentemente modesto em uma solução de alto impacto para todo o país.
As negociatas brasileiras são divertidas. A Petrobrás dispõe de pessoal de área técnica bem como de tecnologia suficientes para saber de antemão a quantidade e a qualidade do petróleo existente no subsolo e o potencial de produção. Somente um **** vai acreditar que a Petrobrás vende campos de petróleo como quem vende uma plantação de mandioca, ou seja, sem saber exatamente o que tem debaixo da terra, se será lucrativo ou não.
No Brasil a regra é clara: sucatear e privatizar. O capitalismo é uma d3sgraç4 social/econômica.
Ele já era lucrativo e foi dado de presente durante governo entreguista… não foi “vendido por valor modesto”. Vergonha !!!