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Vale, ferro e bilhões: os bastidores do projeto Carajás que colocou o Brasil no mapa mundial da mineração

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 21/06/2025 às 17:46
Descubra como o projeto Carajás mudou o Brasil, tornou-se gigante da mineração mundial e agora enfrenta pressões por sustentabilidade e responsabilidade social.
Descubra como o projeto Carajás mudou o Brasil, tornou-se gigante da mineração mundial e agora enfrenta pressões por sustentabilidade e responsabilidade social.
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A descoberta acidental da maior jazida de ferro do mundo transformou a Amazônia em potência global da mineração, impulsionando economia, conflitos socioambientais e inovações sustentáveis.

O projeto Carajás começou em um voo desviado na Amazônia em julho de 1967. Na ocasião, o geólogo Breno Augusto dos Santos, da subsidiária brasileira da US Steel, recolheu fragmentos avermelhados de rocha.

Em laboratório, constatou-se que se tratava de minério de ferro de altíssima pureza, com teor acima de 60%.

Essa descoberta, inicialmente mantida em sigilo, revelou a maior província mineral de ferro do planeta: a Serra dos Carajás, localizada no sudeste do Pará.

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A relevância da região levou o regime militar brasileiro, em 1970, a criar a estatal Companhia Vale do Rio Doce, atual Vale SA, com o objetivo de gerir esses recursos estratégicos.

Em 1977, a Vale assumiu o controle da área, enquanto a US Steel permaneceu com uma participação acionária e direitos sobre parte da produção.

Estrutura do complexo mineral de Carajás

O complexo de Carajás é formado por três grandes frentes de exploração: Serra Norte, Serra Sul e Serra Leste.

Além disso, a Vale estuda novas áreas, como a Serra Arqueada, que pode agregar 1 bilhão de toneladas às reservas conhecidas.

A Serra Norte opera desde 1984, com cavas que atingem mais de 300 metros de profundidade.

Seu minério apresenta teor médio de 66% de ferro, e a produção anual ultrapassa 100 milhões de toneladas.

O projeto S11D, ativo desde 2016 na Serra Sul, é considerado o maior empreendimento mineral da história da empresa.

Utiliza tecnologia a seco para extração e beneficia 90 milhões de toneladas ao ano.

A Serra Leste, por sua vez, contribui com 10 milhões de toneladas anuais desde 2012.

Logística e exportação do minério

A operação inclui a Estrada de Ferro Carajás, com 892 km de extensão, ligando as minas ao porto de São Luís, no Maranhão.

Trens de carga com até 3,3 km de comprimento realizam cerca de dez viagens diárias.

Cada composição transporta 39 mil toneladas de minério por viagem.

No terminal de Ponta da Madeira, o material é carregado em navios Valemax, com capacidade para 400 mil toneladas cada.

Os destinos incluem grandes economias da Ásia, como China, Japão e Coreia do Sul.

Produção de ferro e expansão econômica

O projeto Carajás é um dos pilares da economia mineral brasileira.

Em 2023, a produção total da Vale atingiu 321,1 milhões de toneladas de minério de ferro.

Desse total, 177,5 milhões vieram de Carajás, consolidando a importância da região.

Em 2022, as exportações de minério renderam US$ 33 bilhões ao Brasil.

Além do ferro, a Vale expande a produção de cobre com o projeto Bacaba, previsto para iniciar operações em 2028, com 50 mil toneladas por ano.

O Programa Novo Carajás, anunciado em 2025, prevê R$ 70 bilhões em investimentos até 2030, para ampliar a produção de ferro e cobre no estado do Pará.

Sustentabilidade e inovação na mineração

A Vale tem adotado iniciativas para reduzir impactos ambientais.

O S11D opera com beneficiamento seco, diminuindo o consumo de água em 93%.

Outro projeto, denominado Gelado, visa reaproveitar rejeitos e alcançar 6 milhões de toneladas reutilizadas até 2030.

A empresa estabeleceu a meta de neutralidade de carbono até 2050 e uma redução de 33% nas emissões até 2030.

Para isso, investe na eletrificação de trens e veículos, e na transição para fontes renováveis de energia.

Além disso, em parceria com o ICMBio, protege 800 mil hectares de floresta na região.

Desafios sociais e ambientais no Pará

O projeto Carajás também enfrenta críticas relacionadas aos seus impactos sociais e ambientais.

A ferrovia atravessa áreas de preservação e terras indígenas, gerando atritos com comunidades locais.

Entre 1988 e 2021, a Amazônia Legal perdeu 469 mil km² de vegetação, parte devido à atividade mineradora.

O crescimento acelerado de municípios mineradores como Parauapebas trouxe desigualdades urbanas.

Enquanto áreas nobres cresceram, periferias ficaram sem saneamento básico.

Casos como o tremor de 2018 em Parauapebas e vazamentos em 2023 no rio Paraupebas revelam falhas em segurança e monitoramento ambiental.

Relevância estratégica e papel geopolítico

A expansão do complexo de Carajás é central na estratégia da Vale até 2030.

O plano prevê alcançar 200 milhões de toneladas anuais de minério de ferro e 350 mil toneladas de cobre.

Esses minerais são essenciais para setores como a siderurgia, a indústria automotiva e a transição energética.

Com iniciativas como o “ferro verde”, que utiliza carvão vegetal de reflorestamento, a empresa tenta responder às exigências ambientais de investidores e consumidores internacionais.

Tecnologias como drones, sensores e satélites vêm sendo empregadas para aumentar o controle ambiental das operações.

Caminhos para a sustentabilidade na mineração

O futuro do projeto Carajás depende de avanços técnicos e de uma governança ambiental robusta.

A conciliação entre produção mineral e preservação da Amazônia é uma exigência crescente no cenário internacional.

A atuação conjunta do setor público, da sociedade civil e das empresas será determinante para garantir que os benefícios econômicos se concretizem sem comprometer os ecossistemas e populações locais.

Como o Brasil deve conduzir o projeto Carajás diante das exigências do mercado global, dos desafios ambientais da Amazônia e da crescente pressão por responsabilidade socioambiental?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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