Usina em Fortaleza contraria Anatel e operadoras, preocupadas com risco de rompimento dos cabos de fibra ótica podendo deixar o Brasil sem internet
A aprovação da construção de uma nova usina de dessalinização pela Superintendência do Patrimônio da União em Fortaleza marca um avanço significativo em tecnologia e sustentabilidade. Localizada na Praia do Futuro, a instalação promete remover sal da água do mar, uma inovação crucial em tempos de escassez hídrica. Este projeto, apesar de seu potencial transformador, encontra-se no centro de uma controvérsia tecnológica, com preocupações emergindo sobre a segurança dos cabos de internet submarinos essenciais para a conectividade do Brasil.
O governo do Ceará, através da Companhia de Água e Esgoto (Cagece), assegura que a usina não representa ameaças aos cabos de fibra ótica, desafiando as advertências da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A garantia de segurança vem em um momento crítico, quando as operadoras de telecomunicações expressam temores de um possível comprometimento na infraestrutura vital de internet, colocando em jogo a comunicação e o fluxo de informações no país.
A polêmica se aprofunda à medida que detalhes do projeto são revelados. Posicionada estrategicamente no fundo do mar, a usina não apenas visa a remover sal da água do mar, mas também a sustentar o abastecimento de água potável durante períodos de seca intensa no estado. Este avanço representa um marco para o Ceará, prometendo uma solução de longo prazo para os desafios hídricos, ao mesmo tempo em que levanta questões sobre a coexistência harmoniosa entre o avanço tecnológico e a infraestrutura existente.
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Entenda porque a Anatel mantém uma posição firme contra a construção da usina
A Praia do Futuro, reconhecida como um ponto neuralgico para a conectividade entre Brasil e Europa, enfrenta agora um cenário de tensão tecnológica. Este local é o primeiro ponto de contato no Brasil para os cabos de fibra ótica vindos da Europa, estendendo-se até as metrópoles de Rio de Janeiro, São Paulo e diversos países da América Latina. A integridade desses cabos é crucial; qualquer dano pode resultar em um efeito dominó, afetando a velocidade e a disponibilidade da internet em uma escala continental, uma perspectiva que coloca usuários em potencial desconexão ou enfrentando serviços lentos.
A recente aprovação da União, anunciada pela Cagece, introduz uma nova dinâmica no planejamento da usina de dessalinização. A modificação na proximidade das tubulações em relação aos cabos de internet, de 40 para 567 metros, reflete as preocupações de segurança ampliadas pela Anatel. Esta alteração é apenas uma entre várias outras recomendadas pelo International Cable Protection Committee (ICPC) para assegurar a preservação dos cabos submarinos.
No cerne deste debate técnico, a Anatel mantém uma posição firme contra a construção da usina na localidade atual. A agência, que manifestou sua oposição em setembro de 2022, reafirma a necessidade de reconsiderar a localização do projeto, mesmo após as alterações anunciadas. A agência permanece intransigente em sua decisão, não obstante as mudanças propostas, mantendo o foco na proteção da infraestrutura crítica de internet. Esta história ainda está em desenvolvimento, e as deliberações continuam a evoluir com cada novo parecer técnico e discussão pública.
Construção da usina pode resultar em um apagão digital
No horizonte das questões ambientais e tecnológicas, a Cagece delineia os próximos passos para a instalação da usina de dessalinização em Fortaleza. A expectativa é a obtenção da Licença de Instalação junto à Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). Com a aprovação desta licença, projeta-se o início da construção da planta até março de 2024. Este movimento é crítico não apenas para o avanço da infraestrutura hídrica do estado mas também marca um momento significativo na gestão de recursos naturais, com o foco em remover sal da água do mar.
Em contraponto, a Anatel apresenta uma postura cautelosa e crítica em relação ao projeto. Encerrando recentemente um grupo de trabalho sem chegar a um consenso, a agência expressa preocupações substanciais. O temor é que a implementação da usina possa resultar em um apagão digital, afetando a robusta rede de internet que serve todo o país. Segundo a agência, o projeto da SPE – Águas de Fortaleza não contempla uma análise aprofundada dos riscos ou providências relativas à infraestrutura terrestre e marítima, essencial para a integridade dos cabos submarinos.
Além disso, a Anatel aponta uma falta de consideração para com as influências que os dutos marítimos da usina podem ter sobre o leito marinho. Especificamente, há uma preocupação com o despejo de água de alta salinidade após o processo de dessalinização, o que poderia impactar negativamente a infraestrutura submarina. A agência sublinha que o projeto da SPE desconsidera as 11 recomendações feitas pelo International Cable Protection Committee (ICPC), sinalizando uma necessidade premente de revisão e adequação às normativas de segurança e proteção ambiental.
O Governo diz que projeto não representa ameaças aos cabos submarinos de internet
Reafirmando a segurança tecnológica, a Cagece anuncia com convicção que as infraestruturas previstas para a nova usina na Praia do Futuro são seguras, não representando ameaças aos cabos submarinos de internet. Baseando-se em estudos técnicos aprofundados, a estatal defende que o projeto de dessalinização para remover sal da água do mar foi meticulosamente planejado para coexistir harmoniosamente com a infraestrutura existente. Esta garantia vem acompanhada da manutenção do cronograma de construção, visando a operação da usina a partir de julho de 2024, após a obtenção das licenças necessárias.
O projeto liderado pela SPE – Águas do Ceará, segundo declarações, também ecoa o sentimento de segurança, descartando quaisquer riscos aos cabos submarinos ou aos data centers locais. Este posicionamento é reforçado pelo amplo apoio de mais de 20 pareceres técnicos ambientais que endossaram a Licença Prévia para a execução do projeto. A confiança depositada nestes pareceres ilustra um comprometimento com a continuidade tecnológica e ambiental.
No âmbito da implementação, a usina será erguida em uma parceria público-privada com o consórcio Águas de Fortaleza, vencedor do edital com um robusto investimento de R$ 3,2 bilhões. A perspectiva é que, se não houver imprevistos, as obras se iniciem em março de 2024, com a conclusão prevista para o primeiro semestre de 2026. Este investimento sinaliza não apenas um compromisso com a inovação em infraestrutura hídrica, mas também uma aposta no desenvolvimento econômico e tecnológico da região.
A importância estratégica da Praia do Futuro: hub vital para a internet no Brasil
Finalmente, ressaltando a importância estratégica da Praia do Futuro, é crucial notar que este local é um hub vital para a internet no Brasil. Recebendo 17 cabos submarinos que conectam o Brasil à Europa, a Praia do Futuro é a espinha dorsal da conectividade rápida em todo o país. Esta proximidade com o continente europeu, a apenas cerca de seis mil quilômetros, reforça a posição de Fortaleza como um ponto crítico para a infraestrutura de internet nacional, algo que a Anatel e outros órgãos buscam preservar enquanto novas tecnologias, como a usina de dessalinização, são introduzidas.