UFPE lança curso inédito de Medicina para membros do MST e assentados da reforma agrária, sem exigência do ENEM, com 80 vagas e início previsto para dezembro de 2025.
Uma decisão inédita no ensino superior brasileiro está movimentando o debate sobre educação, políticas públicas e inclusão social. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) anunciou, em setembro de 2025, a criação do primeiro curso de Medicina do país voltado exclusivamente a assentados da reforma agrária, quilombolas e integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O projeto, autorizado pela instituição e vinculado ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), prevê a oferta de 80 vagas no Campus do Agreste, em Caruaru, e chamou atenção por um detalhe inédito: não exige nota do ENEM para ingresso. O curso terá inicio no dia 2 de dezembro.
Um projeto voltado à inclusão e à saúde rural
O curso faz parte de uma iniciativa federal que visa formar médicos para atuação em áreas rurais e comunidades isoladas, historicamente afetadas pela falta de profissionais de saúde.
Segundo o edital publicado pela própria universidade, o processo seletivo será realizado fora do Sistema de Seleção Unificada (SISU), e a seleção ocorrerá por meio de análise do histórico escolar e uma redação, sem necessidade de nota do Exame Nacional do Ensino Médio.
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A proposta surgiu de uma parceria entre a UFPE, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), dentro das diretrizes do Pronera. O programa, criado em 1998, tem como objetivo ampliar o acesso à educação em todos os níveis para famílias que vivem em assentamentos rurais, oferecendo desde cursos de alfabetização até graduações e pós-graduações.
PAra saber mais informações sobre o programa acesse a nota do governo federal 👈
De acordo com o Incra, o modelo adotado para o curso de Medicina visa fortalecer a atenção primária à saúde no campo, formando profissionais comprometidos com a realidade local e com a permanência nas regiões onde vivem. A previsão é de que as aulas tenham início ainda em outubro de 2025, com duração de seis anos, seguindo o padrão dos demais cursos de Medicina do país.
Polêmica e debate sobre critérios de ingresso
A criação do curso, entretanto, dividiu opiniões e gerou um intenso debate no meio acadêmico e médico. Entidades como o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) manifestaram preocupação com o modelo de seleção, argumentando que a dispensa do ENEM poderia “reduzir critérios de mérito e qualidade técnica” no acesso ao curso.
Por outro lado, representantes da universidade e do governo federal defendem que o projeto segue rigorosos padrões de ensino e tem caráter de reparação social e inclusão educacional.
“O objetivo não é criar um atalho, mas garantir que pessoas de origem rural tenham a mesma oportunidade de se formar e atender às necessidades de suas próprias comunidades”, explicou Maria do Socorro Carvalho, coordenadora do curso e professora da UFPE, em entrevista ao Diário de Pernambuco.
O reitor da UFPE, Alfredo Macedo Gomes, também reforçou que o curso foi plenamente aprovado pelo Conselho Universitário e segue todas as diretrizes curriculares do Ministério da Educação (MEC). “Estamos formando médicos com competência técnica e compromisso social. O Pronera é uma política pública reconhecida e legítima, que existe há décadas”, destacou.
Estrutura e metodologia diferenciada
O curso de Medicina voltado ao Pronera será ofertado em tempo integral e combinará aulas teóricas, práticas e módulos de campo realizados em unidades básicas de saúde no interior de Pernambuco. O foco do currículo será a saúde pública rural, a atenção primária e a gestão de políticas de saúde em comunidades vulneráveis.
Segundo a UFPE, os alunos terão apoio pedagógico, psicológico e moradia estudantil garantidos durante a formação. O projeto prevê ainda parcerias com universidades estrangeiras especializadas em medicina comunitária, como a Universidad de Ciencias Médicas de La Habana (Cuba), para intercâmbio e capacitação de docentes.
A primeira turma contará com 40% de mulheres e ampla participação de jovens oriundos de assentamentos rurais do Nordeste. Os estudantes deverão comprovar vínculo com o MST, com o Incra ou com programas de agricultura familiar.
Repercussão nacional e impacto social
A notícia repercutiu amplamente na imprensa nacional. Portais como JC Online, Diário de Pernambuco e G1 Pernambuco destacaram que o curso representa um marco histórico na democratização do ensino superior, sendo o primeiro da área médica com recorte social e territorial explícito.
O Ministério da Educação elogiou a iniciativa, ressaltando que ela está alinhada à Política Nacional de Educação do Campo, que visa reduzir desigualdades no acesso ao ensino. Já lideranças do MST classificaram o programa como “um passo concreto na luta pela igualdade educacional e pelo direito à saúde no campo”.
Do ponto de vista estratégico, o governo avalia o projeto como um laboratório de inclusão que poderá inspirar universidades de outros estados a criarem turmas semelhantes, especialmente em cursos de enfermagem, odontologia e agronomia.
Um marco na educação pública brasileira
O curso de Medicina da UFPE destinado a membros do MST é, acima de tudo, um retrato da complexa relação entre educação, política e equidade social no Brasil. Ele simboliza o esforço de levar o ensino superior a grupos historicamente marginalizados, ao mesmo tempo em que reacende a discussão sobre critérios de acesso e qualidade acadêmica.
Independentemente das divergências, o fato é que, pela primeira vez, o Brasil vê uma universidade federal abrir vagas de Medicina sem ENEM, com base em um projeto que une inclusão social, políticas públicas e a busca por um novo modelo de desenvolvimento humano no campo.


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