Uma via aquática de 193 km construída em 10 anos por 1,5 milhão de trabalhadores encurtou a rota Europa-Ásia em 7.000 km e redefiniu o mapa do comércio global
Erguida no século XIX, a via aquática do Canal de Suez foi um dos projetos de infraestrutura mais ambiciosos da história moderna. Construída em apenas dez anos, entre 1859 e 1869, mobilizou cerca de 1,5 milhão de trabalhadores e consumiu um investimento total de 433 milhões de francos, o dobro do orçamento inicial.
Inaugurada em 17 de novembro de 1869, a via aquática de 193 km ligou o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, eliminando a necessidade de contornar todo o continente africano para chegar à Ásia. O feito reduziu a distância marítima entre Europa e Ásia em aproximadamente 7.000 km, tornando-se uma revolução logística sem precedentes.
Engenharia ao nível do mar e a diferença para o Canal do Panamá
O Canal de Suez é um canal ao nível do mar, sem eclusas, o que o torna estruturalmente distinto do Canal do Panamá.
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Essa característica simplificou o trânsito de embarcações, permitindo a travessia contínua de norte a sul, do Porto Said até o Porto Tawfik, na cidade de Suez.
Quatro lagos naturais integram o trajeto — Manzala, Timsah, Grande Bitter e Pequeno Bitter — formando uma via aquática estratégica com cerca de 170 metros de largura e 20 metros de profundidade média.
Hoje, estima-se que 12% de todo o comércio global passe por esse corredor, consolidando o Egito como um ponto de intersecção vital entre o Ocidente e o Oriente.
Um projeto milenar retomado na era moderna
A ideia de conectar o Mediterrâneo ao Mar Vermelho não nasceu no século XIX.
Registros apontam que faraós egípcios, como Sesóstris III, já haviam tentado unir o Rio Nilo ao Mar Vermelho há quase quatro mil anos, dando origem ao chamado “Canal dos Faraós”.
O projeto só se concretizou com o engenheiro francês Ferdinand de Lesseps, que liderou a Companhia de Suez e obteve o apoio financeiro da França e do Egito.
Décadas depois, as dívidas externas obrigaram o Egito a vender sua participação para o Reino Unido, alterando o equilíbrio de poder sobre a via.
Do controle europeu à soberania egípcia
A Convenção de Constantinopla de 1888 determinou que a via aquática permaneceria aberta a todas as nações, mesmo em tempos de guerra.
No entanto, a geopolítica tratou de desafiar essa regra. Em 1956, o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou o Canal de Suez, provocando uma crise internacional e consolidando o símbolo da soberania egípcia sobre uma rota vital para o comércio mundial.
Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, o canal foi bloqueado e permaneceu fechado por oito anos, até sua reabertura em 1975.
Esses episódios transformaram o Canal de Suez em um termômetro das tensões internacionais, revelando como uma única via aquática pode se tornar o epicentro de disputas econômicas e políticas de escala global.
Expansões e desafios contemporâneos da via aquática
Em 2015, o Egito inaugurou o chamado Novo Canal de Suez, ampliando em 35 km a estrutura original e aprofundando o leito para aumentar a capacidade de tráfego.
O investimento, de cerca de US$ 8,5 bilhões, foi visto pelo governo como uma forma de impulsionar a economia nacional e reduzir o tempo médio de travessia, que varia de 11 a 16 horas.
Ainda assim, a dependência global dessa via aquática expôs vulnerabilidades.
Em 2021, o bloqueio causado pelo cargueiro Ever Given interrompeu a passagem por seis dias e gerou prejuízos bilionários ao comércio internacional.
O episódio mostrou que, mesmo 150 anos após sua inauguração, a importância do Canal de Suez continua inabalável, mas também frágil diante de imprevistos logísticos.
Um elo entre continentes e um símbolo de poder
Mais do que uma obra de engenharia, essa via aquática se tornou um símbolo de integração entre civilizações e um lembrete da interdependência econômica que molda o século XXI.
A cada navio que atravessa seus 193 km, passa também uma narrativa de conquistas técnicas, interesses políticos e desafios de soberania.
O Canal de Suez permanece como um dos marcos mais expressivos da história da infraestrutura mundial, sustentando a conexão entre Europa, África e Ásia e reafirmando o papel do Egito no centro do comércio global.
O que o Canal de Suez revela sobre a dependência global de rotas estratégicas? Você acredita que megaprojetos como essa via aquática ainda representam poder ou vulnerabilidade para as nações? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem acompanha os impactos reais dessas infraestruturas na economia mundial.