A travessia de 20 mil km de uma ponte: o que levou o Guldbron da China até a Suécia a bordo do navio Zhen Hua 33
Pouca gente imagina, mas um dos maiores feitos logísticos dos últimos anos envolveu um navio chinês, um colosso flutuante de carga pesada, atravessando metade do planeta com nada menos que um trecho de ponte dourado sobre o casco. Era o Guldbron, uma estrutura metálica de mais de 140 metros de comprimento e quase 4 mil toneladas que cruzou os oceanos em cima do navio semissubmersível Zhen Hua 33, vindo direto da Ásia para a Escandinávia.
Uma ponte de ouro viajando pelo mar
A história começou em 2018, quando o governo da cidade de Estocolmo, capital da Suécia, encomendou uma nova ponte para ligar pontos estratégicos do centro urbano. O projeto, batizado de Guldbron (ou “ponte dourada”), foi inteiramente produzido na China pela empresa CCCC Third Harbor Engineering Co. O objetivo: construir tudo em um estaleiro asiático com mais agilidade e depois enviar a peça já pronta para a Europa.
O problema? O transporte.
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A estrutura tinha 140 metros de comprimento, 45 metros de largura e pesava 3.700 toneladas. Era grande demais para contêineres, fragatas ou qualquer cargueiro convencional. Foi aí que entrou em cena o Zhen Hua 33.
Um navio construído para o impossível
O Zhen Hua 33 é um dos maiores navios semissubmersíveis do mundo, pertencente à estatal chinesa ZPMC (Shanghai Zhenhua Heavy Industries). Esse tipo de embarcação consegue literalmente afundar parte do casco para receber cargas de proporções colossais — como pontes, plataformas de petróleo ou guindastes — e depois subir novamente para navegar com tudo seguro na superfície.
O transporte do Guldbron não foi apenas um desafio de engenharia naval, mas também um feito geopolítico e ambiental. A travessia durou quase dois meses, com o navio saindo do porto de Zhongshan, na China, e cruzando o Oceano Índico, o Canal de Suez, o Mar Mediterrâneo e finalmente o Mar Báltico, onde atracou em Estocolmo no início de 2020.
No total, o Guldbron percorreu mais de 20 mil quilômetros, literalmente dando a volta no mundo sobre um navio.
Quando a ponte virou assunto global
O visual chamou atenção. Quem olhava de longe via uma ponte flutuando no mar, como se tivesse sido arrancada de uma cidade futurista e teletransportada para o oceano. As imagens viralizaram em portais europeus, principalmente quando o navio encostou na costa sueca sob forte escolta marítima e drones sobrevoando a operação.
Na chegada a Estocolmo, engenheiros suecos e chineses trabalharam juntos para posicionar a ponte com precisão milimétrica. O processo de instalação durou dias e exigiu marés controladas, guindastes flutuantes e cálculos feitos em tempo real para alinhar a estrutura.
O impacto ambiental e as críticas
Apesar do feito impressionante, a operação não escapou de críticas. Ambientalistas suecos protestaram contra o transporte internacional de uma estrutura que poderia ter sido construída localmente, evitando toneladas de emissões de carbono associadas ao transporte marítimo. A prefeitura de Estocolmo respondeu que a fabricação na China reduziu os custos em mais de 30% e que o navio Zhen Hua 33 utilizava rotas otimizadas para reduzir o consumo de combustível.
Ainda assim, estima-se que a travessia do Guldbron tenha gerado cerca de 3.000 toneladas de CO₂, um dado que reacendeu debates sobre o real impacto ambiental da globalização da engenharia pesada.
ZPMC: a China movendo o mundo
A empresa por trás do navio é a ZPMC, um dos maiores fabricantes de guindastes portuários e estruturas offshore do planeta. É também a responsável por operar uma frota de navios semissubmersíveis que percorrem o mundo levando grandes estruturas metálicas.
Esse tipo de projeto exemplifica o alcance atual da indústria naval chinesa, que não apenas fabrica, mas entrega engenharia de grande escala em qualquer ponto do globo — algo impensável até poucas décadas atrás.
A ponte Guldbron hoje é parte integrada da paisagem de Estocolmo, conectando o distrito de Södermalm ao centro da cidade. Mas poucos moradores sabem que, antes de repousar sobre as águas do Mar Báltico, ela cruzou o planeta sobre um colosso marítimo vermelho com nome em letras brancas: Zhen Hua 33.