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Um megaprojeto chinês ambicioso, de R$ 570 bilhões, que prometia inovação, agora está abandonado, com seu desenvolvedor à beira da falência

Publicado em 24/10/2024 às 16:42
Um megaprojeto chinês ambicioso, de R$ 570 bilhões, que prometia inovação, agora está abandonado, com seu desenvolvedor à beira da falência
Forest City (Imagem: Reprodução)

Imagine um projeto imobiliário tão audacioso que parecia desafiar as leis da realidade: 100 bilhões de dólares investidos, quatro ilhas artificiais, 700 mil apartamentos e uma promessa de um paraíso tropical para a classe média chinesa. Estamos falando da Forest City, o megaprojeto chinês que se tornou uma “cidade fantasma” na Malásia. E sim, parece exagero digno de filme de ficção científica, mas é a realidade de um dos maiores colapsos imobiliários da atualidade.

A Forest City nasceu de um sonho colossal: criar uma cidade futurista e verde, um oásis de luxo. O projeto imobiliário foi idealizado pela Country Garden, uma das maiores construtoras da China, que prometia um novo tipo de vida para quem pudesse pagar. As expectativas eram altíssimas para o megaprojeto chinês, especialmente entre a classe média chinesa, que via a oportunidade de ter uma residência de luxo a um preço muito mais acessível do que no território chinês. A localização estratégica da cidade, na costa da Malásia, próximo a Cingapura, parecia perfeita para atrair investidores de todo o mundo.

No entanto, o sonho começou a desmoronar pouco depois de os primeiros caminhões de areia começarem a despejar toneladas de material sobre os manguezais, transformando a natureza em urbanismo. Problemas ambientais, restrições financeiras e políticas, além de uma má gestão, transformaram o megaprojeto chinês em um exemplo clássico de excesso e fracasso.

O colapso do megaprojeto chinês

Um megaprojeto chinês ambicioso, de R$ 570 bilhões, que prometia inovação, agora está abandonado, com seu desenvolvedor à beira da falência

O que era para ser um “paraíso dos sonhos” hoje é um cenário desolador. As ruas de Forest City estão vazias, as luzes dos prédios raramente acesas e, entre os arranha-céus que se erguem imponentemente à distância, a vida parece ter se esvaído. Dos 700 mil apartamentos planejados, apenas uma ilha foi parcialmente construída, com 26 mil unidades habitacionais, muitas delas nunca ocupadas.

A Country Garden, o desenvolvedor por trás desse gigantesco projeto imobiliário, foi duramente atingida por uma série de problemas financeiros que culminaram na falência do grupo no ano passado. A empresa, que já foi uma das mais prolíficas da China, viu seu modelo de negócios, construir em grande escala e esperar que os compradores viessem, se desfazer. Com a crise do setor imobiliário na China e o fluxo de dinheiro reduzido, muitos dos apartamentos em Forest City permanecem desabitados.

Além disso, o governo chinês, em 2016, impediu a saída de capital para o exterior, o que bloqueou novos investidores chineses de adquirir propriedades no exterior, afetando diretamente as vendas de Forest City. Essa medida foi um golpe fatal para o megaprojeto chinês.

Uma cidade sem alma

Atualmente, a Forest City parece mais um cenário de filme do que uma cidade de verdade. Muitos dos poucos residentes permanentes são funcionários contratados para manter a infraestrutura mínima funcionando: jardineiros, seguranças e trabalhadores de limpeza, a maioria vinda de países como Indonésia, Nepal e Bangladesh. A cidade virou uma “tela em branco”, com apartamentos escuros e edifícios vazios, servindo de cenário para reality shows e, ironicamente, atraindo turistas curiosos pelo fracasso grandioso do projeto imobiliário.

As lojas de luxo que eram parte do plano inicial agora estão fechadas, muitas com sinais de abandono: portas trancadas, materiais de construção largados e vitrines cheias de poeira. À noite, a cidade parece ainda mais fantasmagórica, com apenas algumas luzes piscando e sombras se movendo entre os arranha-céus.

Tentativas de ressuscitar o sonho

Apesar de todo o caos, a Country Garden insiste que o plano para Forest City não foi abandonado. Em um comunicado recente, a empresa garantiu que ainda pretende concluir o projeto imobiliário, ajustando o desenvolvimento às demandas do mercado. No entanto, os sinais de que a demanda foi superestimada estão por toda parte. Tentativas de revitalizar a área incluem transformá-la em uma zona financeira especial e atrair investidores ultra-ricos ao isentar seus escritórios de impostos. No entanto, até agora, os resultados não foram animadores.

Em uma visita recente, a torre de escritórios, que deveria ser o coração do distrito financeiro de Forest City, estava trancada e vigiada por seguranças. Os edifícios comerciais ao redor estavam quase todos vazios, com exceção de algumas lojas de conveniência que servem os poucos turistas e trabalhadores locais.

O futuro incerto de Forest City

Um megaprojeto chinês ambicioso, de R$ 570 bilhões, que prometia inovação, agora está abandonado, com seu desenvolvedor à beira da falência

Com poucos sinais de que o megaprojeto chinês vai retomar o rumo planejado, Forest City continua sendo um lembrete sombrio dos riscos de ambições desmedidas no setor imobiliário. A esperança inicial de criar uma cidade modelo para o futuro se transformou em um exemplo clássico de como grandes sonhos podem rapidamente virar grandes pesadelos.

Enquanto alguns compradores de apartamentos, como o investidor chinês Su Mu, continuam otimistas, a maioria parece ter aceitado que o retorno prometido jamais virá. Muitos apartamentos estão alugados ou vazios, enquanto os proprietários, que vivem na China, raramente visitam o local.

Ao olhar para os arranha-céus de Forest City, um sentimento de vazio persiste. O que deveria ser um símbolo de prosperidade se tornou uma lição de cautela: um megaprojeto chinês que prometia o céu, mas acabou se transformando em uma cidade fantasma.

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Bruno Castilho Barreto

Jornalista com foco em petróleo e gás, investimentos e oportunidades no mercado nacional.

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