Indiano constrói sozinho réplica do Taj Mahal em 22 anos em homenagem à esposa, criando um monumento real de amor eterno que comoveu o mundo.
Na pequena cidade de Bulandshahr, no norte da Índia, um homem simples provou que o amor pode atravessar o tempo, a dor e até os limites da arquitetura. Seu nome é Faizul Hasan Qadri, um ex-carteiro que dedicou mais de duas décadas de sua vida a erguer, com as próprias mãos e recursos limitados, uma réplica do Taj Mahal — o mais icônico símbolo de amor do planeta.
O monumento, construído em homenagem à sua esposa falecida, Tajammuli Begum, transformou-se em um símbolo de devoção e persistência. Feito sem apoio governamental ou patrocínio, o projeto foi tocado com fé, engenhosidade e um compromisso inabalável. E assim, no meio de uma vila modesta, ergueu-se um novo Taj Mahal — não de império, mas de humanidade.
A origem do sonho
A história começou em 1982, quando Faizul Hasan Qadri, então com 45 anos, perdeu sua esposa após décadas de casamento. Sem filhos e devastado pela solidão, ele prometeu a si mesmo que construiria um mausoléu para que o amor deles jamais fosse esquecido.
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Inspirado pelo Taj Mahal original — erguido no século XVII pelo imperador Shah Jahan em memória de Mumtaz Mahal —, Qadri decidiu criar uma versão em escala reduzida, mas com o mesmo propósito: transformar a dor em beleza eterna.
“Eu não tinha filhos para carregar meu nome, então decidi que este monumento seria o nosso legado”, disse ele em uma entrevista à BBC News India em 2013, quando o projeto já chamava atenção da mídia nacional.
Construindo um sonho com as próprias mãos
Sem formação em engenharia ou arquitetura, Qadri começou sozinho, estudando imagens e plantas antigas do Taj Mahal. Contratou pedreiros locais apenas para etapas específicas, supervisionando pessoalmente cada tijolo e cada arco.
A obra foi feita quase inteiramente com arenito vermelho e mármore branco, os mesmos materiais usados no monumento original. O tamanho, entretanto, foi reduzido: o “mini Taj” tem cerca de um terço da escala real, com minaretes de 8 metros e uma cúpula central de 12 metros de altura.
O custo total, segundo o próprio Qadri, ultrapassou 1,5 milhão de rúpias (aproximadamente R$ 90 mil na época) — uma quantia impressionante para alguém que vivia de uma aposentadoria simples.
“Cada vez que eu colocava uma pedra, sentia que estava conversando com ela novamente”, contou o viúvo em entrevista ao The Times of India. “O trabalho me fazia companhia.”
O “Taj Mahal do pobre”
Com o passar dos anos, a construção se tornou uma atração local. Moradores passaram a chamar o monumento de “Garib ka Taj Mahal” — que em hindi significa “O Taj Mahal do pobre”.
Mas, para Qadri, não havia comparação que diminuísse o valor simbólico do que ele fez. O local não é apenas um mausoléu, mas também o túmulo real de sua esposa, onde ele mesmo seria enterrado décadas depois.
O homem recusou diversas ofertas de ajuda financeira, incluindo doações de políticos locais e empresários indianos. “Se eu aceitasse, o monumento deixaria de ser uma expressão do meu amor e se tornaria uma obra de outros. Eu quis que fosse inteiramente nosso”, afirmou à India Today.
22 anos de trabalho, uma vida inteira de amor
Entre 1982 e 2004, Qadri dedicou praticamente todos os dias ao projeto. Chegava ao local ao amanhecer e trabalhava até o pôr do sol. Mesmo com problemas de saúde, nunca interrompeu o processo.
Em 2011, após quase 30 anos de dedicação, o mausoléu foi finalizado. O local passou a receber visitantes de todo o país — e até do exterior —, que se impressionavam com a simetria, os jardins e o ambiente sereno.
O casal foi sepultado lado a lado, no centro da estrutura, sob a cúpula branca que Qadri havia erguido em sua homenagem. Hoje, o monumento permanece aberto à visitação e continua sendo cuidado por moradores da região, que veem nele um símbolo da força do amor e da fé.
O reconhecimento internacional
A história de Faizul Hasan Qadri viralizou na Índia após uma reportagem da BBC News em 2013, chegando a ser reproduzida em portais internacionais como The Guardian e Al Jazeera. A comoção foi tamanha que ele passou a ser chamado de “o último romântico da Índia”.
Quando perguntado sobre o que o motivou, Qadri respondeu com simplicidade:
“O amor é eterno. Não são os ricos que o provam, mas os que constroem algo com o coração.”
A frase rodou o mundo e inspirou dezenas de reportagens, livros e curtas-metragens. Em 2018, o homem faleceu aos 82 anos, e seu corpo foi enterrado ao lado da esposa, conforme havia desejado — completando o círculo perfeito de sua promessa.
Uma história de amor e resiliência
A grandiosidade do gesto de Qadri não está na escala física do monumento, mas em sua simbologia. O “mini Taj Mahal” representa a universalidade do amor e da perda, mostrando que não é preciso ser um imperador para construir algo eterno.
Sua história ecoa a do próprio Taj Mahal original, construído por amor, mas com uma diferença essencial: enquanto Shah Jahan contava com exércitos de artesãos e recursos imperiais, Qadri construiu com mãos comuns, fé e paciência inumana.
É essa simplicidade que torna seu feito ainda mais poderoso — uma lembrança de que o verdadeiro legado humano não é feito de luxo, mas de propósito.
O monumento hoje
Hoje, o Taj Mahal de Bulandshahr é visitado por turistas, estudantes e casais que buscam inspiração. Embora menor, sua beleza e serenidade rivalizam com a imponência do original. Muitos moradores consideram o local um santuário de amor, e há quem diga que o espírito do casal ainda guarda o lugar.
O governo de Uttar Pradesh reconheceu oficialmente o valor cultural da construção e designou voluntários para preservar o espaço, garantindo que o monumento continue de pé por gerações.
O que Faizul Hasan Qadri deixou para o mundo não foi apenas um monumento — foi uma lição. Em tempos em que tudo é efêmero, ele provou que a dedicação pode transformar dor em arte e ausência em presença eterna.
Seu “Taj Mahal do pobre” é, paradoxalmente, uma das maiores riquezas espirituais já erguidas por um homem comum. E, assim como o Taj original, é prova de que o amor verdadeiro não se mede em poder, mas em tempo, paciência e fé.