Com a saída do Uber Eats e 99Food, milhares de entregadores e restaurantes buscam alternativas. A decisão é resultado da forte liderança do iFood no país e de uma reestruturação estratégica global das empresas. Movimentações começaram a ser percebidas ainda em 2023.
Após anos disputando espaço no mercado de entrega de comida no Brasil, as plataformas Uber Eats e 99Food deixaram de operar definitivamente no país. O encerramento dos serviços foi confirmado por representantes das duas empresas em março de 2025, com base em decisões tomadas ainda em 2023, quando o Uber Eats já havia deixado de funcionar na maioria das cidades e o 99Food começou a perder cobertura em várias regiões.
De acordo com reportagem do portal BMC News e apuração da EM Brasil, as decisões foram impulsionadas por reestruturações internas, redirecionamento do foco para serviços com maior retorno financeiro e, principalmente, pela dominação do mercado de delivery pelo iFood, que, segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), detém mais de 80% da fatia nacional.
Por que Uber e 99 decidiram sair do mercado de delivery
O Uber Eats já havia encerrado suas operações de entrega de comida no Brasil em março de 2022, mas manteve o serviço de entrega de supermercado em algumas cidades por meio da Cornershop. Já o 99Food, braço da gigante chinesa Didi Chuxing, iniciou sua saída de forma gradual e silenciosa entre o fim de 2023 e o início de 2024. A decisão foi oficializada em março de 2025.
-
Nova lista de profissões insalubres garantem aposentadoria a partir de 55 anos e beneficia trabalhadores com apenas 15 anos de contribuição
-
Em meio ao “tarifaço”, China mira o Brasil com investimento bilionário visando carros elétricos, mineração e logística
-
Brics Pay une Brasil, China e outros 9 países em sistema inspirado no Pix que reduz IOF, contorna o SWIFT e pode ser lançado nas próximas semanas para desafiar a hegemonia dos EUA
-
Estes são os 6 bancos digitais que mais receberam reclamações no Brasil, segundo Procon, Banco Central e Reclame Aqui, com prejuízos que ultrapassam R$ 50 milhões aos clientes
Especialistas ouvidos pelo UAI Notícias e pelo portal Analistas destacam que as margens de lucro do setor de delivery têm sido cada vez mais estreitas, e a presença dominante do iFood tornou difícil a sobrevivência de outras plataformas. O modelo de negócios do iFood, com grandes investimentos em logística própria, parcerias exclusivas e ações promocionais, tornou-se quase imbatível, segundo o economista André Gonsales, da FGV-SP.
A Uber tem ampliado sua atuação no setor de mobilidade e transporte de cargas, enquanto a 99 reforçou seu foco no transporte urbano e serviços financeiros como o 99Pay. Ambas optaram por redirecionar recursos para segmentos considerados mais sustentáveis e lucrativos a longo prazo.
Impacto no consumidor, entregadores e restaurantes
A retirada de duas plataformas importantes do setor afetou diretamente entregadores autônomos e donos de pequenos restaurantes. De acordo com dados da Abrasel, cerca de 12 mil restaurantes estavam ativos na 99Food no auge da operação. Com a saída, muitos desses negócios migraram completamente para o iFood, que já era dominante, ou tentaram desenvolver seus próprios sistemas de entrega.
Para os entregadores, a mudança representou uma redução na oferta de pedidos. Como aponta reportagem da UOL Economia, alguns profissionais relataram queda de até 30% na renda mensal após o fim da operação da 99Food em cidades de médio porte.
Já o consumidor passou a perceber uma diminuição nas opções de aplicativos, o que, segundo levantamento da Proteste, pode gerar redução nas promoções, aumento de taxas e menor poder de escolha, especialmente em regiões fora dos grandes centros.
O cenário atual e o futuro do delivery no Brasil
Hoje, o mercado de delivery brasileiro é praticamente concentrado no iFood, com presença ainda discreta da colombiana Rappi em alguns estados. A saída da Uber e da 99 abre espaço para que startups regionais ganhem força, como a Taki, Apptite e Valeu App, que buscam ocupar lacunas deixadas pelas gigantes.
A analista de mercado digital Luana Furtado, do Sebrae Nacional, aponta que o setor deve se diversificar com foco em nichos — como entregas sustentáveis, gastronomia artesanal e entregas por assinatura. Segundo ela, “o consumidor está mais exigente e espera experiências diferenciadas, não só praticidade”.
Enquanto isso, o iFood segue investindo em drones, inteligência artificial para otimização de rotas e novos modelos de entregas compartilhadas. Ainda não há previsão para a volta de Uber Eats ou 99Food ao Brasil, e ambas empresas evitam comentar o assunto com a imprensa.