Medidas de tarifas em larga escala, ataques ao Federal Reserve e novas regras para stablecoins mostram como Trump quer desvalorizar dólar, mas especialistas alertam que a manobra pode gerar instabilidade global e corroer a confiança na moeda americana
Donald Trump tem adotado um conjunto de medidas que, segundo especialistas ouvidos pelo g1, convergem para um mesmo objetivo: enfraquecer o dólar. Ao promover um ambiente de incerteza com o tarifaço contra parceiros comerciais, pressionar o Federal Reserve por cortes de juros e até introduzir a regulamentação de stablecoins, o presidente republicano sinaliza que quer tornar os produtos americanos mais competitivos no mercado externo.
O plano, no entanto, está longe de ser simples. O dólar é a moeda mais utilizada em reservas internacionais e transações globais, o que lhe garante hegemonia mesmo em momentos de turbulência. Economistas como André Perfeito e André Roncaglia, citados por André Catto no g1, afirmam que a estratégia de Trump pode ter efeitos colaterais perigosos, como aumento da inflação e enfraquecimento estrutural das exportações dos Estados Unidos.
Por que Trump insiste em um dólar mais fraco
O próprio presidente admitiu em discursos recentes que um dólar forte prejudica setores estratégicos da economia.
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“Você não consegue vender tratores, não consegue vender caminhões, não consegue vender nada”, disse Trump, destacando que a valorização da moeda pode ser positiva apenas para o controle da inflação, mas representa entraves ao comércio exterior.
A lógica por trás desse movimento é clara: quanto mais valorizado o dólar, mais caros ficam os produtos americanos para outros países.
Ao enfraquecer a moeda, Trump busca reduzir o déficit da balança comercial e estimular a produção doméstica.
Ainda assim, especialistas lembram que políticas cambiais unilaterais dificilmente sustentam resultados no longo prazo, já que dependem de fatores como juros, confiança global e fluxo de capitais.
Os riscos de desvalorizar a moeda hegemônica
A política de tarifas em larga escala adotada por Trump criou um cenário de instabilidade que se refletiu diretamente no câmbio.
Em 2025, o índice DXY, que compara o dólar a uma cesta de moedas fortes, acumulou queda superior a 10%.
O movimento beneficiou moedas emergentes, como o real, mas também elevou os preços do ouro, ativo de segurança que subiu quase 40% no ano.
Segundo André Catto, do g1, o risco é que o dólar, mesmo se mantendo como moeda de reserva, perca parte de sua atratividade.
Isso poderia pressionar ainda mais a economia americana, que convive com déficits comerciais persistentes e depende de financiamento externo para manter seu alto nível de consumo.
Trump e os ataques ao Federal Reserve
Outro eixo da estratégia é a ofensiva contra o Fed. Trump já chamou o presidente da instituição, Jerome Powell, de “burro” e “teimoso” e passou a indicar aliados dispostos a reduzir os juros de forma mais agressiva.
Em setembro, a taxa básica caiu para a faixa de 4% a 4,25% ao ano, e a pressão do governo era por cortes ainda maiores.
Para especialistas, essa postura visa reduzir a entrada de capitais nos EUA, forçando uma desvalorização do dólar.
A ideia é que, com rendimentos menores, investidores busquem outros mercados, diminuindo a demanda pela moeda americana sem comprometer seu status de reserva internacional.
O papel das stablecoins no plano de Trump
Em paralelo, Trump sancionou o Genius Act, primeira lei federal dos EUA a regulamentar stablecoins.
Essas moedas digitais, lastreadas em ativos seguros como títulos do Tesouro, criam uma nova fonte de demanda estrutural para a dívida americana.
Economistas explicam que, ao comprar uma stablecoin, o investidor financia indiretamente o governo, o que pode compensar parte da pressão causada por juros mais baixos.
Segundo André Perfeito, essa inovação pode funcionar como um “atalho” para manter a confiança nos títulos americanos mesmo diante de cortes de juros.
Mas a eficácia depende da aceitação do mercado e da credibilidade das regras impostas pela nova lei.
Uma estratégia antiga, mas com novos riscos
A tentativa de desvalorizar o dólar não é inédita na história dos EUA. Nixon, Reagan e Obama também recorreram a políticas semelhantes em diferentes contextos.
Mas, como lembra Roberto Dumas, professor do Insper, o problema americano vai além do câmbio: envolve baixa poupança doméstica e gastos excessivos.
Sem atacar essas causas, medidas pontuais tendem a fracassar.
A diferença agora é que Trump combina políticas fiscais agressivas, ataques institucionais e regulação de ativos digitais em uma mesma ofensiva.
O resultado pode ser imprevisível, tanto para os EUA quanto para a economia global.
A ideia de Trump em forçar a desvalorização do dólar pode até parecer um caminho rápido para aumentar exportações, mas especialistas alertam para consequências que podem comprometer a credibilidade da moeda mais importante do mundo.
Se, de um lado, a medida favorece alguns setores da indústria americana, de outro pode abrir brechas para instabilidade, inflação e perda de confiança internacional.
E você, acredita que Trump quer desvalorizar dólar para proteger a economia americana ou que a estratégia pode se transformar em um risco para os próprios Estados Unidos? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir sua visão sobre esse movimento.