Inaugurado em 1998 na Barra da Tijuca, o Terra Encantada foi o maior parque temático da América Latina, capaz de receber 20 mil visitantes por dia, mas está abandonado desde 2010.
Erguido com a promessa de ser o “maior parque temático da América Latina”, o Terra Encantada, localizado na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, é hoje um dos maiores símbolos de decadência e abandono urbano do país. Inaugurado em 1998, o complexo foi projetado para receber mais de 20 mil visitantes por dia e custou cerca de R$ 220 milhões — valor que, corrigido pela inflação, ultrapassaria facilmente R$ 600 milhões em valores atuais.
O projeto nasceu ambicioso: uma mistura de parque de diversões, centro cultural e polo turístico, com 200 mil metros quadrados de área, montanhas-russas de padrão internacional, cenários inspirados na cultura brasileira e shows diários com centenas de artistas. A ideia era competir diretamente com parques internacionais, como o Disney World, mas adaptando o conceito à identidade tropical e carnavalesca do Brasil.
O auge de um sonho brasileiro de lazer
Nos primeiros anos, o Terra Encantada era sinônimo de modernidade. Seu ingresso era caro para os padrões da época, mas o público lotava as atrações. O parque chegou a empregar mais de 1.000 pessoas entre operadores, técnicos e artistas. Logo na entrada, o visitante era recebido por um imenso portal de concreto com esculturas mitológicas, e dentro havia réplicas de vilas indígenas, templos, montanhas artificiais, cascatas e um lago central de onde partiam os desfiles temáticos.
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O espetáculo principal, chamado “Noite Encantada”, reunia mais de 150 bailarinos e acrobatas, com música, fogos e coreografias. A infraestrutura impressionava: pavilhões climatizados, restaurantes temáticos, um auditório para 3 mil pessoas e brinquedos importados da Europa e dos Estados Unidos.
Mas, por trás do brilho das luzes, o empreendimento acumulava dívidas e falhas estruturais. A promessa de expansão nunca se concretizou, e a administração do parque enfrentava sucessivos problemas de segurança e má gestão.
Da glória ao colapso em pouco mais de uma década
Em 2002, o Terra Encantada foi palco de uma tragédia que marcou seu destino. Um acidente em uma das montanhas-russas causou a morte de uma jovem de 28 anos e ferimentos em outros visitantes. A repercussão foi imediata, e a confiança do público desabou.
Nos anos seguintes, o parque ainda tentou sobreviver com eventos e festas privadas, mas a estrutura começou a se deteriorar. Escassez de manutenção, falta de investimentos e disputas judiciais acabaram levando ao fechamento definitivo em 2010.
Desde então, o que era um dos maiores empreendimentos de entretenimento do país se transformou em um cenário pós-apocalíptico. As esculturas estão cobertas por ferrugem, as fachadas se desmancham e as atrações foram tomadas por vegetação. Em vários pontos, o concreto cedeu, revelando o que restou dos trilhos das antigas montanhas-russas.
O que sobrou do “maior parque da América Latina”
Hoje, o terreno do Terra Encantada é um esqueleto de concreto de quase 200 mil metros quadrados, cercado por tapumes e com acesso restrito. Parte da área foi demolida, mas muitos prédios e estruturas continuam em ruínas. A cena é desoladora: palcos quebrados, restos de brinquedos enferrujados e grafites cobrindo os antigos murais coloridos.
Moradores da região relatam que o espaço é usado ocasionalmente como depósito de entulho e, em alguns períodos, chegou a ser invadido por pessoas em situação de rua. O local também virou ponto de exploração urbana por fotógrafos e curiosos, atraídos pela atmosfera fantasmagórica de um lugar que já foi símbolo de alegria.
As lições de um projeto grandioso que fracassou
O colapso do Terra Encantada é frequentemente citado em estudos de urbanismo e economia como exemplo de planejamento mal executado e gestão insustentável. Apesar do potencial turístico e do público fiel, a falta de reinvestimento e o alto custo de operação inviabilizaram o projeto.
Especialistas apontam que o modelo de negócios do parque era baseado em expectativas irreais: alta dependência de ingressos caros e pouca diversificação de receitas. Com o tempo, a concorrência de outros polos de lazer e as mudanças no perfil de consumo do público contribuíram para o fim do empreendimento.
Ainda assim, o Terra Encantada permanece como um ícone cultural. Durante anos, foi o único parque de grande escala do país com identidade brasileira, exaltando mitos, folclore e diversidade. Hoje, ele sobrevive apenas na memória de quem viveu seus anos de glória — e nas imagens que registram o contraste entre o esplendor e o abandono.
Uma ruína que ainda desperta curiosidade
Mesmo após mais de uma década fechado, o nome “Terra Encantada” continua despertando curiosidade nas redes sociais. Vídeos e reportagens mostrando suas ruínas acumulam milhões de visualizações, e há quem defenda a revitalização da área como patrimônio cultural ou espaço público de lazer.
Mas, por enquanto, o terreno segue esquecido. O que um dia foi um dos maiores símbolos de entretenimento do Brasil hoje é um retrato silencioso do que acontece quando o sonho da grandiosidade não resiste à realidade da manutenção e do tempo.