Nova regra de 8 de setembro cria exceções para produtos sem oferta doméstica, mas a disputa legal sobre os poderes tarifários segue para julgamento em 5 de novembro na Suprema Corte. Impactos atingem agricultores, indústria de alimentos e varejo.
A combinação de tarifas recíprocas e retaliações de parceiros comerciais criou um ambiente de custos e incertezas para toda a cadeia alimentar dos Estados Unidos. Em 8 de setembro, uma Ordem Executiva ajustou a lista de produtos isentos, contemplando itens que não podem ser cultivados, minerados ou produzidos no país em volume suficiente. A medida atenua pressões em alguns insumos, mas não resolve a instabilidade de fundo.
O contencioso jurídico ganhou novo capítulo quando, em 29 de agosto de 2025, o Tribunal de Apelações do Circuito Federal decidiu por 7 a 4 que grande parte das tarifas globais do governo Trump é ilegal. O caso foi levado à Suprema Corte, que marcou 5 de novembro para ouvir os argumentos, mantendo negócios, fazendas e supermercados em compasso de espera.
De um lado, a Casa Branca tenta calibrar alívios pontuais. Do outro, Canadá e China anunciaram tarifas retaliatórias que atingem alimentos e insumos agrícolas, com reflexos diretos no preço ao consumidor e na margem das empresas.
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O que mudou em 8 de setembro
A nova ordem atualizou o Anexo II das tarifas recíprocas para ampliar isenções a itens estratégicos, como minerais críticos e alguns insumos farmacêuticos, além de sinalizar exclusões para produtos impossíveis de suprir internamente. A lógica é preservar cadeias essenciais sem estimular gargalos.
Setores industriais e alimentares que dependem de insumos importados ganham folga parcial. Entidades do comércio e logística detalham que as mudanças entraram em vigor às 00h01 de 8 de setembro, afetando entradas e retiradas de armazém a partir desse horário.
Analistas observam, porém, que houve também remoção de isenções para outros códigos tarifários, trazendo parte dos produtos de volta ao guarda-chuva das tarifas. Ou seja, alívios seletivos convivem com novos pontos de pressão na mesma regra.
A batalha judicial e o calendário da incerteza
A decisão por 7 a 4 no Circuito Federal acendeu alertas sobre os limites legais para tarifas amplas sob a IEEPA. O governo argumenta que derrubar as medidas prejudica negociações sensíveis, enquanto os autores alegam danos econômicos severos. A Suprema Corte incluiu o tema no calendário e ouvirá o caso em 5 de novembro.
Até lá, empresas operam com planejamento de cenários. Muitos contratos e repasses de preço ficam condicionados ao desfecho ou a novas ordens executivas. Em mercados perecíveis, semanas fazem diferença no custo final e na disponibilidade.
Para o varejo alimentar, a indefinição jurídica adiciona risco ao mix de marcas próprias e fornecedores regionais, estratégia usada para diluir choques de preços. Compradores negociam prazos e estoques para não perder sortimento em categorias sensíveis.
Agricultura no fogo cruzado, insumos e retaliações
A agricultura americana depende fortemente de fertilizantes importados. No caso do potássio (potash), cerca de 80 a 79% das importações vêm do Canadá, elo que fica mais caro e incerto em ambiente de tarifas e retaliações. Custos mais altos nessa base pressionam margens no plantio de grãos.
No front externo, China anunciou sobretaxas de 10% a 15% sobre produtos agrícolas dos EUA, e o Canadá mirou 25% sobre mais de US$ 20 bilhões em importações americanas. Para produtores que dependem de exportação, isso mexe em preço, volume e destino de vendas.
O quadro chega num momento de trade deficit agrícola e importações recordes de alimentos. Em 2024, as importações agrícolas alcançaram US$ 213 bilhões, puxadas por itens de alto valor como frutas, vegetais e bebidas. Dependência externa maior amplia a transmissão de choques tarifários ao consumidor.
Impacto das tarifas em restaurantes e indústria de alimentos
Restaurantes típicos operam com margens de 3% a 5%, espaço estreito para absorver saltos em custo de ingredientes. A associação setorial vem relatando pressões de insumo e repasse limitado, o que leva parte das redes a reduzir porções ou ajustar cardápios.
Do lado dos fabricantes, multinacionais como PepsiCo e Nestlé indicam cautela com volatilidade e sensibilidade do consumidor após anos de reajustes. Sinais de portfolio reshaping e foco em produtos essenciais surgem como resposta ao ambiente de tarifas e demanda mais elástica.
Nos supermercados, alguns preços-chave seguem elevados. Em agosto de 2025, a carne moída custava em média US$ 6,32/lb nas cidades americanas, mostrando que a inflação de alimentos ainda pesa no bolso e complica a formação de preço para o food service.
Impacto para o consumidor e o varejo alimentar
A isenção para itens sem produção doméstica reduz risco de desabastecimento em categorias como especiarias, cacau e café, mas a recomposição de cadeias depende de negociações bilaterais e tempo de ajuste. Lojas devem reforçar marcas próprias e priorizar origem regional onde for possível.
Com o calendário da Suprema Corte e a possibilidade de novas alterações na lista de isenções, varejistas tendem a encurtar contratos, proteger estoques críticos e redesenhar planogramas para reduzir exposição a itens mais voláteis. A coordenação com fornecedores locais ganha valor.
Para o consumidor, o efeito vai além do preço: pode haver menor variedade temporária e substituições em produtos processados que dependem de ingredientes importados. Em contrapartida, cadeias bem-sucedidas podem usar o momento para simplificar o sortimento e destacar produtos nacionais.
Você acha que as tarifas devem proteger a indústria americana mesmo com alta de preços e retaliações de parceiros, ou o custo ao consumidor e ao agro não compensa o benefício? Deixe seu comentário.