Mais de 50% de retração em apenas um mês mostra o impacto direto das tarifas norte-americanas sobre a carne bovina de Mato Grosso do Sul.
As exportações de Mato Grosso do Sul atingiram US$ 903,3 milhões em agosto de 2025, conforme dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).
Desse total, a celulose liderou a pauta com US$ 219,1 milhões, seguida pela carne bovina fresca, refrigerada ou congelada, que alcançou US$ 173,3 milhões.
Entretanto, para os Estados Unidos, os números despencaram. Apenas US$ 7,6 milhões da carne sul-mato-grossense chegaram ao mercado norte-americano, em forte queda em relação a julho de 2025, quando o volume alcançava US$ 15,8 milhões. Essa retração representou uma queda de 51,9% em um único mês.
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Efeito imediato das tarifas de agosto
A queda decorreu da tarifa de 50%, anunciada pelo governo de Donald Trump em 6 de agosto de 2025.
Segundo o vice-presidente do Sicadems, Alberto Sérgio Capucci, o setor já aguardava a redução. Ele afirmou que parte da carne enviada em agosto ainda havia sido embarcada antes da cobrança da tarifa, em operações de antecipação realizadas pelo mercado.
Vale destacar que, desde abril de 2025, já incidia uma tarifa padrão de 10% sobre determinados produtos brasileiros. O novo acréscimo de 40% elevou o total para 50%, em linha com uma política protecionista mais rígida.
Comparativo anual mostra contrastes
Apesar da queda nos EUA, o desempenho total da carne bovina de MS seguiu positivo. Em julho de 2025, os embarques haviam somado US$ 166,4 milhões. Já em agosto, o valor subiu para US$ 173,3 milhões, representando uma alta de 4,1%.
Na comparação anual, o crescimento se mostrou ainda mais expressivo. Em agosto de 2024, a carne bovina havia rendido US$ 103,4 milhões, contra os US$ 173,3 milhões de agosto de 2025, ou seja, uma alta de 67,5%.
Para os EUA, porém, o resultado foi o inverso. O volume caiu de US$ 14 milhões em agosto de 2024 para US$ 7,6 milhões em agosto de 2025, caracterizando uma queda anual de 45,8%.
China amplia liderança como principal destino
Enquanto os Estados Unidos reduziram drasticamente sua participação, a China reforçou sua liderança absoluta.
Em agosto de 2025, o país asiático comprou US$ 91 milhões em carne bovina, além de adquirir US$ 132,6 milhões em soja e US$ 112,8 milhões em celulose.
Na mesma linha, Chile e México também se colocaram à frente dos EUA como compradores da carne bovina sul-mato-grossense.
Em julho de 2025, os dados já revelavam essa tendência: a China havia importado US$ 74 milhões em carne bovina, além de US$ 317 milhões em soja e US$ 128,8 milhões em celulose. Naquele mês, os norte-americanos figuraram como o terceiro maior comprador, posição que perderam logo após a imposição do tarifaço.
Setor avalia impactos e busca alternativas
Para Alberto Sérgio Capucci, a retração era esperada e reflete apenas a nova realidade do mercado. Ele ressaltou que, embora os EUA tenham reduzido seu peso nas exportações, outros destinos seguem absorvendo a produção de Mato Grosso do Sul com consistência.
De acordo com o dirigente, o tarifaço torna a carne brasileira pouco competitiva no mercado norte-americano, mas a diversificação para mercados como China, Chile e México mantém a atividade em patamares elevados.
Política protecionista e cenário futuro
As tarifas impostas por Trump fazem parte de uma estratégia mais ampla, adotada desde sua reeleição em 2024, que busca proteger a indústria e o agronegócio dos EUA.
A taxa adicional de 40%, somada à tarifa anterior de 10%, levou o custo da carne bovina brasileira a níveis que, segundo especialistas, inviabilizam a competitividade no mercado norte-americano.
O desafio, portanto, está em fortalecer mercados alternativos e em ampliar a inserção em países onde a demanda segue em alta, especialmente na Ásia.
O que o futuro reserva para as exportações de MS?
Economistas e representantes do setor avaliam que a queda para os EUA não compromete o desempenho global de Mato Grosso do Sul.
Ao mesmo tempo, reforçam que a China continuará determinando o ritmo das exportações de carne, com forte potencial de crescimento.
O caminho do estado dependerá de governança comercial eficiente, transparência nas negociações e diversificação de parceiros, para que a dependência de poucos mercados não se torne uma vulnerabilidade.
Enquanto isso, a redução nas vendas para os EUA ilustra como decisões políticas internacionais impactam diretamente o agronegócio brasileiro.
E você, acredita que o Brasil deve investir ainda mais na China e em outros países asiáticos para compensar o tarifaço dos EUA, ou deve buscar alternativas que mantenham o equilíbrio nas exportações?