Tarifas elevadas nos Estados Unidos, importações recordes e alta ociosidade no parque industrial brasileiro colocam a siderurgia sob forte pressão em 2025, enquanto executivos e governo buscam estratégias de sobrevivência durante conferência em São Paulo.
A imposição de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre aço e alumínio, somada ao avanço de 6,3 milhões de toneladas em ritmo anualizado de importações e à ociosidade de 35% nas usinas, empurra a siderurgia brasileira para um ponto crítico.
O alerta veio às vésperas de uma das principais conferências do setor em São Paulo, quando executivos discutem medidas para conter perdas e preservar competitividade, de acordo com a Bloomberg Línea.
Tarifas nos EUA ampliam pressão sobre o aço brasileiro
A escalada tarifária americana foi oficializada sob a Seção 232 da Lei de Expansão Comercial de 1962, que autoriza medidas quando importações são consideradas risco à segurança nacional.
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Na prática, a alíquota sobre aço e alumínio importados subiu para 50% a partir de junho.
Além disso, a Casa Branca editou, no fim de julho, um ato específico para produtos brasileiros, criando um adicional ad valorem amplo.
Para bens já contemplados pela Seção 232, como o aço, prevalece a regra setorial.
O resultado é um encarecimento expressivo do acesso ao mercado norte-americano e um redesenho forçado de rotas comerciais. Enquanto isso, o volume de aço estrangeiro que entra no Brasil se mantém elevado.
A leitura do setor é que preços agressivos — muitas vezes abaixo dos níveis domésticos — pressionam margens e deslocam a produção nacional, acendendo um sinal de alerta sobre a sustentabilidade do parque industrial, segundo a Bloomberg Línea.
Importações recordes desafiam o mercado interno
O chairman do conselho da Gerdau, André Gerdau Johannpeter, sintetizou o quadro: “Este talvez seja o ano mais conturbado” para a indústria, disse, citando “conflitos geopolíticos, guerra comercial e muita incerteza no ar”.
Segundo o executivo, a siderurgia opera com uma taxa recorde de importação anual de 6,3 milhões de toneladas, patamar que ele destacou ser superior ao tamanho da própria Gerdau em volume.
A combinação de câmbio, demanda global irregular e excedente de oferta em mercados asiáticos alimenta esse fluxo.
Com o aço importado ocupando mais espaço, produtores locais reduziram preços para tentar preservar participação.
A associação dos distribuidores de aços planos relata que as margens “praticamente desapareceram” em alguns segmentos.
Esse movimento é reflexo de uma disputa mais acirrada entre distribuidores e usinas e da necessidade de queima de estoques, conforme a Bloomberg Línea.
Ociosidade das usinas atinge 35%
A ociosidade — diferença entre a capacidade instalada e o que efetivamente é produzido — avançou para 35%, acima do intervalo considerado saudável pelo setor, entre 15% e 20%.
Para uma indústria intensiva em capital e de investimentos de longo prazo, esse descompasso mina a rentabilidade e desestimula novos aportes.
Johannpeter avaliou que qualquer piora adicional tornaria o negócio “inviável” em algumas plantas.
Além da pressão imediata sobre caixa e resultados, ociosidade elevada por longos períodos costuma se converter em postergação de manutenção, corte de turnos e renegociação com fornecedores.
Esse ciclo cria um efeito cascata em toda a cadeia produtiva.
Por outro lado, reduzir capacidade instalada é uma decisão difícil: exige cronogramas de desmobilização, envolve contratos de trabalho e pode comprometer a capacidade de resposta quando a demanda retornar.
Conferência em São Paulo expõe urgência da crise
O diagnóstico de “corda bamba” ganhou relevo porque surge justamente durante um dos encontros mais importantes do calendário da siderurgia, em São Paulo.
Ali, representantes das usinas, distribuidores e governo discutem medidas de defesa comercial, ajustes tributários e instrumentos para neutralizar distorções competitivas.
A agenda inclui aprimoramento de monitoramento de importações, revisão de ex-tarifários e aplicação mais célere de salvaguardas quando for o caso.
Embora o Brasil mantenha diálogo com parceiros para mitigar impactos das tarifas, o mercado trabalha com a hipótese de um período mais longo de volatilidade comercial.
Nesse intervalo, companhias tendem a reforçar foco em nichos de maior valor agregado, contratos de longo prazo e integração com clientes domésticos, como forma de amortecer choques externos.
Estratégia impactada pelas tarifas americanas
Nos Estados Unidos, a elevação das tarifas sob a Seção 232 afeta diretamente os embarques brasileiros de semiacabados — produto relevante na pauta de exportações do Brasil para aquele mercado.
Mesmo com eventuais exceções regulatórias, a alíquota de 50% eleva o piso de preço para o importador e estreita margens.
Parte dos contratos pode ser renegociada ou redirecionada para outros destinos, mas a realocação não ocorre sem custo logístico e comercial, nem no mesmo ritmo da mudança regulatória.
Para o Brasil, a pressão externa coincide com um consumo aparente que não acelera na mesma proporção do aumento das importações.
Em 2024, o país já havia registrado recorde de compras externas de produtos siderúrgicos.
Em 2025, o ritmo acumulado até meados do ano manteve-se firme, reforçando o desbalanceamento entre oferta local e concorrência importada.
Vetores que influenciam preços e demanda
No curto prazo, três vetores moldam a curva de preços: a paridade internacional, a política tarifária dos EUA e o câmbio.
Se a moeda americana permanecer mais forte, o aço importado perde parte da atratividade, mas esse efeito pode ser neutralizado por descontos adicionais do exportador ou por sobreoferta global.
Por sua vez, a dinâmica das tarifas tende a recalibrar arbitragem entre mercados. Quanto maior o custo de entrada nos EUA, maior a chance de redirecionamento de excedentes a outros países, inclusive o Brasil.
Nesse ambiente, a estratégia defensiva típica passa por calibrar mix de produção, intensificar programas de eficiência e renegociar prazos com a cadeia de suprimentos.
Também cresce a demanda por medidas de defesa comercial que coíbam práticas desleais comprovadas, sem distorcer a concorrência legítima.
Setor busca medidas contra desequilíbrios
Os relatos de distribuidoras sobre margens comprimidas e a deterioração do indicador de ociosidade indicam que o estresse não se limita a uma empresa ou região.
Além do choque tarifário, a discussão no Congresso do setor envolve temas como incentivos estaduais à importação, prazos de licenciamento e tramitação de investigações antidumping.
Há, ainda, o desafio de manter investimentos em descarbonização e tecnologia em um momento em que a geração de caixa está pressionada.
Apesar do quadro adverso, o Brasil conserva vantagens estruturais, como disponibilidade de minério, parque industrial com capacidade instalada de grande porte e proximidade de mercados latino-americanos.
A questão central, segundo executivos, é atravessar o período de turbulência sem destruição permanente de capacidade e preservando competitividade para o próximo ciclo.
Enquanto as conversas avançam, o setor aguarda por sinais de estabilização no comércio internacional e por respostas domésticas que reduzam assimetria frente ao produto importado.
Com tarifas externas mais pesadas, importações em ritmo elevado e 35% de ociosidade, qual deve ser a prioridade imediata para evitar que partes do parque siderúrgico parem de vez?