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Starlink já conecta celulares direto ao satélite no Brasil, mas a Anatel trava a liberação e deixa a tecnologia em um limbo

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 20/08/2025 às 18:05
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Direct-to-Cell da Starlink já opera no Brasil, mas a Anatel emperra a regulamentação e deixa usuários no meio do caminho

Um dos avanços mais comentados na área de telecomunicações em 2025 é a chegada da tecnologia Direct-to-Cell da Starlink ao Brasil. A promessa é ousada: permitir que um simples smartphone, sem antena extra ou aplicativos adicionais, consiga enviar mensagens e compartilhar localização mesmo em áreas totalmente sem sinal de operadora. Para muitos brasileiros que vivem ou trabalham em regiões remotas, isso soa como uma revolução digital prestes a acontecer.

O que é o Direct-to-Cell

A Starlink desenvolveu uma rede de satélites de órbita baixa capaz de se comportar como torres de celular em pleno espaço. Na prática, isso significa que aparelhos compatíveis — já são mais de 50 modelos, incluindo linhas da Apple, Samsung, Motorola e Google — podem se conectar diretamente à constelação da empresa. O telefone reconhece a rede automaticamente e permite o envio de SMS e coordenadas de localização, mesmo em locais onde nunca houve cobertura de operadoras tradicionais.

O plano da empresa prevê uma implementação gradual: mensagens de texto e localização já são possíveis, enquanto transmissão de dados e chamadas de voz estão previstas para os próximos anos. O objetivo final é garantir conectividade plena em qualquer ponto do planeta, especialmente em situações de emergência.

Constelação Starlink já conta com mais de 6.000 satélites em órbita baixa, cada unidade medindo cerca de 2,8 metros de comprimento por 2,4 metros de largura, com painéis solares de até 10 metros.

O caso brasileiro

No Brasil, a discussão ganhou força porque usuários começaram a relatar a detecção da rede em seus aparelhos, especialmente em áreas rurais do Mato Grosso do Sul. A ideia de mandar uma mensagem ou compartilhar posição em plena mata, fazenda ou estrada isolada sem precisar de sinal convencional gerou enorme repercussão.

No entanto, ainda existe um entrave regulatório. A Anatel não autorizou oficialmente o funcionamento comercial dessa modalidade no país. Sem acordos formais com operadoras locais e sem aprovação legal, a conexão permanece em um limbo: tecnicamente viável, mas não reconhecida oficialmente.

Comparação internacional

Enquanto isso, outros países já avançam. Na Ucrânia, operadoras locais realizaram testes bem-sucedidos, comprovando que celulares comuns conseguem se comunicar via satélite sem qualquer modificação. O lançamento comercial está previsto para o fim de 2025. No Chile, parcerias firmadas desde 2023 preparam o terreno para uso progressivo do sistema, que deve começar por mensagens e evoluir para dados móveis.

O Brasil, portanto, corre o risco de ficar para trás em um campo estratégico que pode transformar a inclusão digital e a segurança em regiões afastadas.

Impacto social e econômico

A utilidade de uma tecnologia como essa vai muito além da conveniência. Em casos de desastres naturais, resgates, operações militares, transporte de cargas ou mesmo no dia a dia do campo, a possibilidade de comunicação direta por satélite pode salvar vidas e reduzir custos. Agricultores, caminhoneiros, comunidades ribeirinhas e até turistas em áreas isoladas teriam acesso a um recurso antes inimaginável.

Além disso, o modelo pode abrir espaço para novos negócios de internet rural, impulsionar a telemedicina em locais sem infraestrutura e integrar serviços de segurança pública em áreas onde hoje o rádio ainda é a única alternativa.

O que esperar

A chegada do Direct-to-Cell ao Brasil expõe um dilema: a tecnologia já está pronta, mas depende de uma decisão política e regulatória para se tornar realidade oficial. O potencial de inclusão digital é imenso, mas o embate entre inovação, legislação e interesses das operadoras deve se intensificar nos próximos meses.

Enquanto isso, a sensação é de que estamos diante de uma revolução silenciosa, que já funciona em segundo plano, mas ainda aguarda o sinal verde para transformar definitivamente a maneira como os brasileiros se conectam.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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