Direct-to-Cell da Starlink já opera no Brasil, mas a Anatel emperra a regulamentação e deixa usuários no meio do caminho
Um dos avanços mais comentados na área de telecomunicações em 2025 é a chegada da tecnologia Direct-to-Cell da Starlink ao Brasil. A promessa é ousada: permitir que um simples smartphone, sem antena extra ou aplicativos adicionais, consiga enviar mensagens e compartilhar localização mesmo em áreas totalmente sem sinal de operadora. Para muitos brasileiros que vivem ou trabalham em regiões remotas, isso soa como uma revolução digital prestes a acontecer.
O que é o Direct-to-Cell
A Starlink desenvolveu uma rede de satélites de órbita baixa capaz de se comportar como torres de celular em pleno espaço. Na prática, isso significa que aparelhos compatíveis — já são mais de 50 modelos, incluindo linhas da Apple, Samsung, Motorola e Google — podem se conectar diretamente à constelação da empresa. O telefone reconhece a rede automaticamente e permite o envio de SMS e coordenadas de localização, mesmo em locais onde nunca houve cobertura de operadoras tradicionais.
O plano da empresa prevê uma implementação gradual: mensagens de texto e localização já são possíveis, enquanto transmissão de dados e chamadas de voz estão previstas para os próximos anos. O objetivo final é garantir conectividade plena em qualquer ponto do planeta, especialmente em situações de emergência.
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O caso brasileiro
No Brasil, a discussão ganhou força porque usuários começaram a relatar a detecção da rede em seus aparelhos, especialmente em áreas rurais do Mato Grosso do Sul. A ideia de mandar uma mensagem ou compartilhar posição em plena mata, fazenda ou estrada isolada sem precisar de sinal convencional gerou enorme repercussão.
No entanto, ainda existe um entrave regulatório. A Anatel não autorizou oficialmente o funcionamento comercial dessa modalidade no país. Sem acordos formais com operadoras locais e sem aprovação legal, a conexão permanece em um limbo: tecnicamente viável, mas não reconhecida oficialmente.
Comparação internacional
Enquanto isso, outros países já avançam. Na Ucrânia, operadoras locais realizaram testes bem-sucedidos, comprovando que celulares comuns conseguem se comunicar via satélite sem qualquer modificação. O lançamento comercial está previsto para o fim de 2025. No Chile, parcerias firmadas desde 2023 preparam o terreno para uso progressivo do sistema, que deve começar por mensagens e evoluir para dados móveis.
O Brasil, portanto, corre o risco de ficar para trás em um campo estratégico que pode transformar a inclusão digital e a segurança em regiões afastadas.
Impacto social e econômico
A utilidade de uma tecnologia como essa vai muito além da conveniência. Em casos de desastres naturais, resgates, operações militares, transporte de cargas ou mesmo no dia a dia do campo, a possibilidade de comunicação direta por satélite pode salvar vidas e reduzir custos. Agricultores, caminhoneiros, comunidades ribeirinhas e até turistas em áreas isoladas teriam acesso a um recurso antes inimaginável.
Além disso, o modelo pode abrir espaço para novos negócios de internet rural, impulsionar a telemedicina em locais sem infraestrutura e integrar serviços de segurança pública em áreas onde hoje o rádio ainda é a única alternativa.
O que esperar
A chegada do Direct-to-Cell ao Brasil expõe um dilema: a tecnologia já está pronta, mas depende de uma decisão política e regulatória para se tornar realidade oficial. O potencial de inclusão digital é imenso, mas o embate entre inovação, legislação e interesses das operadoras deve se intensificar nos próximos meses.
Enquanto isso, a sensação é de que estamos diante de uma revolução silenciosa, que já funciona em segundo plano, mas ainda aguarda o sinal verde para transformar definitivamente a maneira como os brasileiros se conectam.