Falta de soja na China deve se agravar a partir de fevereiro, enquanto o Brasil desponta novamente como principal fornecedor; produção de rações já cresce 10% no ano e supera recorde histórico de 2023
O mercado da soja vive um momento de expectativa. Segundo especialistas, os preços em Chicago estão estáveis, aguardando um sinal concreto da China sobre compras nos Estados Unidos. A questão não é se Pequim comprará, mas quanto irá comprar.
A diferença é enorme: adquirir 20 milhões de toneladas ou menos de 10 milhões pode redefinir os preços globais e alterar a balança de exportação americana. Cada semana sem compras significa 1 milhão de toneladas a menos de potencial negociação.
Atualmente, a cobertura chinesa está em 65% a 70% para outubro, abastecida principalmente com soja do Brasil e da Argentina. Para novembro, a cobertura ainda é baixa, perto de 10%, o que indica que a China precisará comprar entre 13 e 15 milhões de toneladas até dezembro.
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China pressiona margens e coloca EUA em xeque
Apesar do consumo interno aquecido, a indústria esmagadora chinesa enfrenta margens apertadas. O motivo: soja cara, enquanto o farelo (subproduto usado em rações) não acompanha a valorização.
Nos últimos meses, a China registrou 22 semanas consecutivas com fábricas operando acima de 68% de sua capacidade — um recorde. Mas o fluxo atual pode sofrer forte queda entre outubro e janeiro, quando os embarques brasileiros diminuem e a dependência de soja americana cresce.
Vanin alerta: o “pepino” para os chineses está no início de 2025, quando o intervalo até a chegada da nova safra brasileira pode gerar aperto na oferta. Nesse cenário, os Estados Unidos se tornam peça-chave.
Acordo político pode mudar o jogo
A grande incógnita não é apenas o volume de compras, mas como elas serão feitas. Se por meio de um acordo comercial bilateral entre China e Estados Unidos, como ocorreu em 2020, o impacto pode ser imediato.
No entanto, Vanin destaca que, ao contrário de anos anteriores, não há sinais de um grande “acordão”. A tendência é que a China decida unilateralmente quanto comprar, possivelmente em pequenas rodadas de negociação.
Isso gera instabilidade em Chicago: se as compras forem de 15 a 18 milhões de toneladas, o efeito será positivo para os preços. Já compras de apenas 10 milhões ou menos podem derrubar as cotações.
Brasil no tabuleiro: vantagem ou risco?
Enquanto a China avalia a soja americana, o Brasil já comercializou 80% de sua produção e mantém prêmios altos. Caso os chineses fechem acordo com os Estados Unidos, os preços internos podem cair em até 30 dólares por tonelada, mas a demanda da indústria nacional deve segurar parte da pressão.
Além disso, o crescimento da produção de rações na China — 10% no primeiro semestre de 2025 — reforça a necessidade de soja, contrariando análises que ligam importações ao PIB chinês. O fator decisivo, segundo Vanin, é a estabilidade do rebanho suíno e o baixo custo das rações, que garantem lucro aos produtores chineses mesmo com preços da carne em queda.
Cenário político e econômico em aberto
O mercado global de soja segue preso a uma equação política:
- A China precisa comprar para garantir abastecimento em 2025.
- Os Estados Unidos esperam por uma oportunidade de vender.
- O Brasil já aproveitou o momento e embarcou rapidamente sua safra.
O desfecho vai depender da diplomacia e das escolhas de Pequim: comprar mais soja americana de forma estratégica ou seguir apostando no abastecimento sul-americano.
Enquanto isso, Chicago segue de lado, mas pode reagir a qualquer sinal vindo de Pequim. Um eventual acordo político pode mexer não só com os preços, mas também com o equilíbrio de poder no comércio agrícola internacional.