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Sob uma montanha no Japão, uma câmara dourada guarda 50 mil toneladas de água tão pura que se torna corrosiva, capaz até de danificar metal, devido à ausência de impurezas

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 08/09/2025 às 10:40
Sob uma montanha no Japão, uma câmara dourada guarda 50 mil toneladas de água tão pura que se torna corrosiva, capaz até de danificar metal, devido à ausência quase total de impurezas
Foto: Sob uma montanha no Japão, uma câmara dourada guarda 50 mil toneladas de água tão pura que se torna corrosiva, capaz até de danificar metal, devido à ausência quase total de impurezas
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Sob uma montanha no Japão, o Super-Kamiokande, o maior detector de neutrinos do mundo, guarda milhões de litros de água tão pura que se torna corrosiva e revela segredos dos neutrinos e do cosmos.

Sob a montanha de Kamioka, na província de Gifu, Japão, existe uma das câmaras científicas mais impressionantes já construídas pelo ser humano. De fora, parece apenas uma antiga mina abandonada, mas a mil metros de profundidade se revela um espaço monumental que mais parece saído de uma ficção científica: um gigantesco cilindro dourado, iluminado por milhares de tubos fotomultiplicadores, guardando uma água tão pura que chega a ser corrosiva, capaz de danificar metais expostos por longos períodos.

É o Super-Kamiokande, o mais famoso detector de neutrinos do planeta e uma verdadeira “janela” para os segredos mais profundos do universo.

A água que corrói por ser pura está no maior detector de neutrinos do mundo

A primeira impressão causa espanto: como a água pode ser corrosiva? Não se trata de acidez, mas da ausência quase total de sais minerais e impurezas.

O processo de purificação no Super-Kamiokande é tão extremo que a água fica quimicamente instável, “buscando” dissolver qualquer íon disponível. Essa característica significa que metais, concreto e até superfícies plásticas sofrem desgaste acelerado se mantidos em contato direto.

Essa pureza é essencial para que não haja interferência nos raríssimos sinais de neutrinos que atravessam o detector, vindo do Sol, da atmosfera ou até de explosões estelares a milhões de anos-luz de distância.

O funcionamento do Super-Kamiokande – maior detector de neutrinos do mundo

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O observatório é um cilindro de 40 metros de altura por 40 metros de diâmetro, preenchido com 50 mil toneladas de água ultrapura.

Ao redor, mais de 11 mil tubos fotomultiplicadores — enormes sensores circulares que lembram olhos dourados — ficam atentos a cada clarão produzido dentro do tanque. Esse clarão não é visível a olho nu, mas é registrado como um flash de radiação Cherenkov, que ocorre quando uma partícula carregada gerada por um neutrino se move mais rápido do que a luz consegue se propagar dentro da água.

Neutrinos são partículas quase fantasmagóricas, atravessando montanhas, planetas e até nossos corpos sem deixar rastros na maior parte do tempo.

Por isso, a única maneira de detectá-los é justamente criar um ambiente gigantesco e protegido, onde raríssimos sinais possam ser distinguidos do “ruído” das demais partículas.

A profundidade de 1.000 metros na mina serve exatamente para filtrar a chuva de raios cósmicos que atinge a superfície terrestre, permitindo que apenas os eventos mais sutis cheguem até a câmara dourada.

A descoberta que rendeu um Nobel

Foi graças ao Super-Kamiokande que a física de partículas deu um dos maiores saltos do século XX. Em 1998, análises feitas no detector revelaram que os neutrinos mudam de identidade ao viajar pelo espaço — fenômeno chamado de oscilação de neutrinos.

Essa descoberta significou que eles possuem massa, ainda que minúscula, contrariando previsões anteriores.

O feito foi tão impactante que garantiu ao físico japonês Takaaki Kajita o Prêmio Nobel de Física em 2015.

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A revelação abriu novas linhas de pesquisa fundamentais: entender como a matéria se comporta no universo primordial, explicar por que o cosmos contém mais matéria do que antimatéria e até investigar se os neutrinos guardam pistas sobre dimensões além do Modelo Padrão da Física.

O futuro: Hyper-Kamiokande

Se o Super-Kamiokande já impressiona, o Japão prepara um projeto ainda mais monumental: o Hyper-Kamiokande, previsto para iniciar operações em 2027.

Será cinco vezes maior, com 260 mil toneladas de água ultrapura e mais de 40 mil sensores de luz, tornando-se o maior detector de neutrinos do mundo.

O Hyper-Kamiokande buscará respostas para perguntas ainda mais profundas: será que os neutrinos podem explicar a assimetria entre matéria e antimatéria? Poderá detectar neutrinos vindos de supernovas distantes, oferecendo informações em tempo real sobre o nascimento de buracos negros? E, quem sabe, ajudar a montar o quebra-cabeça sobre a própria origem do universo.

Entre ciência e maravilha

No coração das montanhas japonesas, essa “caverna dourada” não guarda tesouros de ouro ou pedras preciosas, mas algo infinitamente mais valioso: dados que podem revelar a estrutura invisível do cosmos.

Cada clarão captado nos sensores é um sussurro vindo das estrelas, um fragmento de história cósmica atravessando a Terra silenciosamente.

Enquanto o Hyper-Kamiokande avança, o legado do Super-Kamiokande permanece como símbolo da engenhosidade humana: transformar a água mais pura do planeta em um portal para os mistérios do universo.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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