Setor da construção civil avança acima do PIB, mas enfrenta carência de profissionais qualificados, com milhões de vagas previstas até 2027. Cursos gratuitos e pagos prometem abrir caminho para quem deseja ingressar ou se atualizar na área.
A construção civil segue acelerando e enfrenta escassez de trabalhadores qualificados.
O Mapa do Trabalho Industrial da Confederação Nacional da Indústria projeta a necessidade de qualificar cerca de 14 milhões de profissionais entre 2025 e 2027, somando 2,2 milhões de novas entradas e 11,8 milhões de requalificações.
Nesse total, a construção é a segunda área com maior demanda de formação, respondendo por 10% do contingente, o equivalente a 1,4 milhão de pessoas.
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Em 2024, o setor cresceu 4,3% no PIB, e a expectativa para 2025 é de 2,5%, o que mantém o ritmo positivo e amplia a pressão por mão de obra.
Demanda por qualificação até 2027
O levantamento da CNI indica que, além de abrir espaço para quem busca o primeiro emprego, a indústria exigirá reciclagem de profissionais já ativos, com atualização de competências técnicas e socioemocionais.
Na construção, a carência se distribui dos canteiros às funções de apoio, passando por operadores de máquinas, trabalhadores de fundações e especialistas em alvenaria, acabamento e instalações.
No Estado do Rio, a projeção indica 103,2 mil novas oportunidades para o período, em papéis como terraplenagem, ajudante de obras civis e atividades estruturais.
Setor cresce acima do PIB, mas falta gente
O crescimento recente ocorreu em paralelo a dificuldades de contratação.
“Reduzimos, mas continuamos crescendo. E a questão da mão de obra é crítica, pois hoje vivemos uma escassez no setor”, afirma Marcelo Kaiuca, vice-presidente da Firjan.
A avaliação é compartilhada por lideranças empresariais e técnicas que monitoram o mercado e apontam a combinação de investimentos, programas habitacionais e retomada de obras como fatores que sustentam a demanda.
Debate setorial: Rio Construção Summit 2025
Para discutir soluções de contratação e qualificação, o Rio Construção Summit 2025 reunirá mais de 200 especialistas no Píer Mauá, no Centro do Rio, entre os dias 24 e 26 deste mês.
O evento terá entre os temas principais a formação profissional, produtividade, segurança e inovação em materiais e processos.
A expectativa é aproximar empresas, instituições de ensino e trabalhadores, com foco em trilhas formativas que reduzam o descompasso entre oferta e necessidade real dos canteiros.
Por que formalizar a qualificação
Embora muitos aprendam “na prática”, a qualificação formal segue diferencial.
Para Ana Paula Pillar, diretora de Formação Inicial e Continuada da Faetec, a sala de aula amplia repertório e empregabilidade.
“O profissional aprende técnica, segurança, novas ferramentas e processos atualizados, o que faz diferença na qualidade do trabalho”, afirma.
Segundo ela, mesmo em ocupações com procura menor em alguns momentos — como pedreiro de alvenaria, aplicador de revestimento cerâmico e carpinteiro de obras — a certificação aumenta as chances de contratação e valoriza o salário.
Vozes do canteiro: tração real na carreira
Há trajetórias que resumem o efeito da qualificação no bolso e no currículo.
Rafael Vieira, 37, começou como servente, sem curso, e foi buscando capacitações enquanto ganhava experiência em campo.
“Fui descobrindo nas obras que existiam outras funções, pedindo oportunidades de prática e fazendo cursos ao mesmo tempo”, conta.
Hoje, trabalha como meio oficial de elétrica e cursa Eletricista de Obras no Senai para registrar a ocupação formalmente na carteira.
Com o reaquecimento da construção e da área elétrica, mira a graduação em Engenharia de Energias Renováveis.
Entre os conteúdos oferecidos, há também disciplinas voltadas a competências comportamentais.
Kátia Cerqueira, 18, estudante de Edificações na Faetec, destaca o peso de matérias ligadas a relacionamento e trabalho em equipe.
Ela teve, no primeiro e no segundo ano, a disciplina Psicologia das Relações Humanas, que aborda sociabilidade, proatividade e dinâmica de grupo.
Na avaliação da estudante, essa base acelera a transição para o estágio e facilita a comunicação no ambiente de obra.
Do lado das empresas, a qualificação serve de certificação de segurança e conformidade.
Para Aluísio Mendes Filho, presidente do Seconci-Rio, “a mão de obra tem que ser qualificada, tanto por exigências legais quanto por questões de segurança e capacitação. Isso é garantia para as empresas e os trabalhadores”.
Em paralelo, análises do Observatório Nacional da Indústria registram que, após um 2024 de forte expansão, atividade e número de empregados continuam avançando em 2025, ainda que em ritmo mais moderado, sustentados por investimentos e demanda habitacional.
Persistem desafios como juros elevados e acesso ao crédito, fatores que podem limitar novos projetos.
Cursos que abrem portas: onde estudar
Para quem busca entrada rápida ou progressão de carreira, há opções gratuitas e pagas com início ao longo do segundo semestre e do início do próximo ano.
Os requisitos variam, mas a maioria dos cursos básicos pede a partir do 5º ou 6º ano do ensino fundamental e idade mínima entre 16 e 18 anos.
Já os cursos técnicos costumam exigir ensino médio em andamento.
No Firjan Senai, a programação prevê 10 mil vagas gratuitas neste ano, em cerca de 40 cursos ligados à construção.
No estado do Rio, há 692 vagas em qualificação com início entre setembro e dezembro, em itinerários como Instalador de Sistemas Drywall, Pintor de Edificações e Pedreiro de Alvenaria de Vedação.
Em áreas correlatas, como Eletricidade e Energias Renováveis, são mais 330 vagas gratuitas com início previsto até novembro.
A Faetec abre, a cada semestre, mais de três mil vagas em cursos gratuitos de qualificação.
Entre as formações mais procuradas estão Eletricista, Pintor, Serralheiro, Soldador, Pedreiro, Aplicador de Revestimentos e Instalador de Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica.
A instituição também anuncia novas turmas técnicas — com destaque para Edificações — em calendário a partir de outubro.
Em parceria com o Senai-RJ, a Secretaria Municipal do Trabalho (SMTE) vai ofertar 1.048 vagas gratuitas na área de construção, com trilhas como Pedreiro de Alvenaria Estrutural, Carpinteiro de Obras, Caldeireiro, Instalador de Sistemas Drywall e Pintor de Edificações.
Os requisitos variam conforme o curso, mas, em geral, pedem mínimo de 16 anos e 5º ano do fundamental.
As capacitações são presenciais em unidades do Senai na cidade, com carga horária de 180 a 540 horas.
A varejista Obramax mantém a Academia de Profissionais, com turmas gratuitas aos sábados em lojas de Benfica, Jacarepaguá e Guadalupe, na capital, e em Duque de Caxias e Mesquita, na Baixada.
Há turmas exclusivas para mulheres e oferta de aulas virtuais durante a semana, no período noturno, voltadas a boas práticas de execução, qualidade, segurança e eficiência.
No campo da segurança e da saúde do trabalho, o Seconci-Rio capta interessados em cursos gratuitos e encaminha para o Senai.
A entidade também oferece treinamentos normativos — como NR-5 (CIPA) e NR-23 (Proteção contra Incêndios) — com valores entre R$ 30 e R$ 700, realizados na sede na Praça da Bandeira.
Trabalhadores de construtoras associadas têm condições diferenciadas.
Para carreiras de engenharia e arquitetura, o G+P Lab anunciou, a partir de janeiro de 2026, cursos pagos e gratuitos em orçamento, gerenciamento de obra, finanças pessoais, planejamento, gestão de projetos e carreira, em formato EAD e presencial na Barra da Tijuca.
Quem atua no mercado imobiliário com registro ativo no Creci encontra, na plataforma Uniphacz, trilhas gratuitas de duas a seis semanas focadas em vendas, negociação, oratória, marketing pessoal, bem-estar e conteúdos técnicos aplicados ao setor.
Já a Tenda realiza seleções periódicas voltadas a imigrantes interessados em formação para atuar na construção.
É desejável ter ensino fundamental e habilidade para manusear materiais e ferramentas.
Após a seleção, os aprendizes iniciam capacitação voltada ao canteiro, com ênfase em Estrutura — montagem de formas, armação, embutidos e arremates.
Como escolher sua trilha
Segundo especialistas do setor, a contratação tende a ocorrer de forma mais rápida quando o trabalhador combina certificação reconhecida, prática supervisionada e atualização constante.
Cursos de instalações elétricas, sistemas drywall, alvenaria estrutural e pintura de edificações são portas de entrada recorrentes.
Para quem pretende avançar em salário e responsabilidade, formações técnicas como Edificações e qualificações em energia solar fotovoltaica e energias renováveis ampliam o leque.
Especialistas sugerem iniciar por uma ocupação com alta demanda local e, em seguida, ampliar a experiência prática em obras, reformas e estágios.
Diante desse cenário de aquecimento, qual qualificação você pretende buscar primeiro para garantir sua vaga em 2025?