Separação de iceberg gigante revela criaturas desconhecidas sob as águas da Antártida. Cientistas aproveitam oportunidade rara para estudar ecossistemas escondidos por milhares de anos
Um colossal iceberg na Antártida se desprendeu da plataforma de gelo George VI, em 13 de janeiro. A separação revelou um trecho do fundo marinho que ficou coberto por décadas.
O que parecia um ambiente inóspito revelou-se um ecossistema rico e cheio de vida desconhecida. A descoberta surpreendeu cientistas a bordo do navio Falkor, do Schmidt Ocean Institute.
Biodiversidade sob o gelo da Antártida
Sob a liderança de Patricia Esquete, da Universidade de Aveiro, em Portugal, a expedição encontrou uma biodiversidade inesperada. Aranhas marinhas gigantes, polvos, corais e peixes-do-gelo estavam entre as criaturas descobertas no leito marinho recém-exposto na Antártida.
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Apesar das expectativas modestas, os cientistas identificaram um ambiente vivo e ativo. “É o tipo de evento que, quando acontece, você abandona o que estava fazendo”, disse Esquete.
Ela contou que os pesquisadores duvidavam que tanta vida pudesse existir sob o gelo espesso. A surpresa foi grande quando foram encontradas várias espécies diferentes.
Coletas e registros em águas profundas
A equipe utilizou um veículo operado remotamente para registrar imagens e realizar a coleta de amostras. Durante quase um mês, o equipamento foi enviado às partes profundas do oceano na região do Mar de Bellingshausen. A coleta incluiu crustáceos, vermes, caracóis e peixes que podem ser novos no ponto de vista científico.
A descoberta foi anunciada na quinta-feira e trouxe entusiasmo à comunidade científica. Os cientistas disseram que este achado pode ajudar a entender como a vida se adapta em regiões extremas, principalmente em um planeta em aquecimento. A mudança climática e o derretimento do gelo marinho possibilitaram o acesso a esse local remoto.
Mudanças no gelo da Antártida
A plataforma de gelo George VI, de onde o iceberg se separou, tem passado por derretimentos significativos nos últimos anos. O evento mais severo ocorreu entre 2019 e 2020, quando houve um registro de derretimento da superfície.
A plataforma está localizada entre a Península Antártica e a Ilha Alexander, o que a torna mais estável do que outras da região, mesmo com o calor.
Ainda não se sabe exatamente como a vida consegue prosperar sob o gelo da Antártida. Em outros oceanos, organismos fotossintéticos na superfície servem de alimento ao descerem em direção ao fundo do mar.
Mas, sob o gelo antártico, esse processo não acontece da mesma forma. Os cientistas acreditam que correntes oceânicas, água glacial derretida ou outro fator ainda não identificado podem ser responsáveis por levar os nutrientes até as profundezas.
Próximos passos da pesquisa
“A maior parte do trabalho começa agora”, explicou Esquete. Confirmar se as descobertas são de espécies de fato novas exigirão meses de estudo em laboratório. As amostras encontradas com o desprendimento do iceberg na Antártida serão examinadas com cuidado para garantir a precisão dos resultados.
Desde o início de uma série de expedições iniciadas na costa do Chile no ano passado, o Schmidt Ocean Institute já encontrou mais de 70 espécies até então desconhecidas. Entre elas estão diferentes tipos de caracóis e lagoas marinhas.
Segundo Jyotika Virmani, chefe do instituto, esta é agora uma área de intensa investigação científica. A presença de vida em um ambiente considerado tão extremo levanta novas questões sobre os limites da vida no planeta.
O iceberg na Antártida que se desprendeu mede aproximadamente 30 quilômetros. Ele abriu caminho para essa descoberta ao expor uma parte do oceano que não via a luz solar há décadas.
Com informações de Interesting Engineering.