A 240 km de distância da costa, brasileiros que trabalham no FPSO Cidade de Itaguaí revelam tudo o que acontece abordo desta unidade offshore
[supsystic-social-sharing id=’1′]Em uma unidade offshore que extrai cerca de 150 mil barris de petróleo e mais de 8 milhões m³ diariamente com profundidades que superam 7 km facilmente no pré-sal brasileiro na Bacia de Santos, são estatísticas que fazem parte da vida dos mais de 100 profissionais a bordo no FPSO Cidade de Itaguaí, o que nos leva a seguinte pergunta: O que tem para fazer quando termina o turno em um lugar tão remoto e confinado?
Acontece que esta unidade foi um navio transportava petróleo e acabou sendo adaptada para seu um FPSO(Unidade flutuante de armazenamento e transferência). Ele tem incríveis 300 metros de comprimento, o que permite a instalação de restaurantes, casario, fumódromo, salas de TV, academia e salas de jogos e outros espaços que não precisam de EPI’s.
Para minimizar a falta de contato com a família e de ambiente externos, hoje em dia a maioria dessas plataformas conta com Wifi liberado e telefone, com um limite diário de 15 minutos. Luiz Grady que é Engenheiro Químico da Petrobras, usa talbet para matar a saudade da família em terra, depois da ele jogo video game com seus companheiros abordo e conversa sobre outras coisas, sobre tudo futebol.
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“O clima é bem caseiro e tem que ser, né? A gente cria muita amizade a bordo, porque passa a metade da nossa vida aqui”, diz ele, que já trabalha embarcado há oito anos e também aproveita a internet para, vez ou outra, saber o rendimento de seus investimentos.
Churrasco e festas
Para quem é brasileiro, é comum fazermos churrasco, principalmente aos domingos para socializar, não é verdade? Na plataforma também há esse tipo de atividade, mas só que a cerveja tem que ser sem álcool. Além disso, também há rodízios de pizzas e cultos evangélicos neste dia, os pastores são montadores de andaimes. A cada 15 dias há comemoração dos aniversariantes no mês com tudo o que tem direito.
Bruna Pacheco, é funcionária da MODEC e sua função é de operadora de produção, que alias é uma das poucas mulheres a bordo. Ela diz que seu trabalho é pesado, mas ela gosta do que faz: “Eu sou de Macaé e sempre vi meu pai trabalhar offshore. Já no ensino médio, eu sempre tive essa referência, sempre quis trabalhar nessa área”, diz ela, que acredita que o trabalho em alto mar não é para qualquer um. “Tem um pouco de aventura e é hostil se você for pensar nos riscos. Tem também a distância da família, o confinamento”.
Ela relata que gosta muito de fazer academia, assistir filmes, fazer e ler sobre atividades religiosas “A academia, para mim, é uma necessidade, porque sempre gostei de extravasar me exercitando. Apesar de estar me esforçando fisicamente, eu relaxo na academia”.
Lucas Azevedo, Técnico de Segurança da Modec, diz que embarca a 3 anos e ganhou muito peso devido a disponibilidade de comida 24 horas por dia. “Aqui a gente come muito. Se não for para a academia, está morto”, brinca. Para ele, a grande dificuldade é a passagem de datas comemorativas, como o Natal e o Ano Novo. “A ceia aqui é muito boa, com camarão, lagosta. Nunca comi tão bem. Mesmo assim, é a pior parte. Sinto muita falta da minha mãe e dos meus irmãos, principalmente no meu aniversário”.
Convivência com gringos no FPSO
Lucas que é morador do município de Nova Friburgo-RJ, diz que a falta do inglês o impedia de conseguir um trabalho offshore, mas ele superou esta dificuldade da seguinte forma: “Em 2014, eu decidi que me dedicaria a isso, peguei todas as minhas reservas e fui para o Canadá. Passei oito meses estudando inglês e, logo quando voltei, consegui o emprego”, conta. Seu chefe direto na plataforma é um sul-africano, com quem Lucas só conversa em inglês, muitas vezes traduzindo as orientações para outros funcionários.
85% dos funcionários a bordo são brasileiros, o restante é composto de estrangeiros. Um verdadeira mistura de pessoas e culturas de diferentes que têm como base a lingua inglese como intercâmbio. Há pessoas da Polônia, Ucrânia, Cingapura, Itália, Índia e Filipinas. “A troca de culturas aqui é muito grande. Para trabalhar aqui, tem que aprender a respeitar coisas que não são do nosso costume”. Diz Lucas.
Osvaldo Kawakami, que é o gerente de Produção da Petrobras a bordo do FPSO Cidade de Itaguaí, diz que nos anos 80 nem sonhava com estas comodidades que eles tem hoje em dia e as horas de descanso eram preenchidas jogando baralho ou pescando. “Se eu fosse comparar, antes era um hotel de uma estrela, e hoje é de cinco”, diz ele. “Não tinha restrição à pesca, e o que a gente fazia era pescar, jogar baralho, dama, xadrez. Hoje, eles jogam videogame. A rotina dos trabalhadores mudou muito. Costumávamos jogar muito carteado, totó, sinuca. A angústia toda era saber como estava o mundo, como estava a família”, diz ele, que também se recorda da sensação de uma noite silenciosa em alto-mar. “A sensação de calma e tranquilidade é absurda. Eu sempre digo que em nenhum lugar do mundo vi um pôr do sol ou um nascer do sol como o de uma plataforma”.