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Rússia aposta em império de drones com apoio de startups, escolas e bilhões em investimento

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 02/08/2025 às 20:26
drones
Foto: Reprodução
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Por trás dos bombardeios e dos drones kamikaze que cruzam os céus da Ucrânia, a Rússia constrói discretamente uma poderosa indústria nacional de drones. O plano vai muito além do campo de batalha. Envolve escolas, startups, bilhões em investimento público e uma rede de fábricas espalhadas por todo o país

A Rússia vem estruturando uma estratégia nacional para se tornar uma potência global na produção de drones. O plano envolve múltiplos níveis de ação: apoio governamental direto, incentivos a pequenas empresas e startups, treinamento de crianças e investimentos bilionários até 2030.

O mais importante é que essa política vai muito além do uso militar.

Apesar de a guerra na Ucrânia ter acelerado o desenvolvimento, o governo promove os drones também como ferramentas civis — embora, na prática, essa distinção seja muitas vezes apenas simbólica.

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Crescimento durante a guerra

Desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, os drones se tornaram uma peça central no campo de batalha. Eles são baratos, fáceis de montar com peças comerciais e causam danos significativos tanto em áreas de combate quanto em cidades civis.

Por isso, tanto Moscou quanto Kiev buscaram acelerar a produção nacional e inovar em contramedidas. No caso da Rússia, essa aceleração incluiu uma mudança de escala.

Em 2024, o país produziu 2,5 vezes mais drones do que em 2023. E, no mesmo ano, a produção de drones de longo alcance quintuplicou.

Segundo o presidente Vladimir Putin, o objetivo é tornar a Rússia um dos líderes mundiais em tecnologia de drones até o fim da década.

Ecossistema de startups e empresas estatais

Apesar da forte presença do Estado, a estratégia russa privilegia a descentralização. Cerca de 70% das quase 900 empresas que produzem drones no país são pequenas ou médias. Juntas, essas empresas empregam mais de 7.000 pessoas, de acordo com a agência estatal TASS.

Além disso, grandes companhias também têm espaço. A United Aircraft Corporation (UAC), criada em 2006, anunciou a criação de uma divisão própria de drones. Ela receberá bilhões de rublos em investimentos. A UAC também planeja integrar empresas privadas menores em seus projetos.

Entre 2022 e 2025, o governo russo separou 243 bilhões de rublos (cerca de US$ 3 bilhões) para o setor de drones. Outros 112 bilhões de rublos estão previstos para o próximo orçamento trienal. Esses valores são adicionais aos gastos militares gerais.

Drones civis ou militares?

Os drones promovidos pelo governo são frequentemente apresentados como ferramentas para agricultura, logística e vigilância de infraestrutura. No entanto, o caráter civil muitas vezes serve apenas para manter uma aparência legal e evitar sanções.

Na prática, as mesmas tecnologias podem ser usadas para vigiar oleodutos ou lançar explosivos. “Não há um limite claro — a tecnologia pode ser usada tanto para fins militares quanto civis”, explicou o ministro russo da Agricultura e Comércio, Anton Afanasyev.

Por isso, o governo apoia abertamente as chamadas tecnologias de duplo uso. E esse apoio já começa nas escolas.

Treinamento de crianças e jovens

Diversas escolas russas adotaram currículos voltados para o desenvolvimento de drones. Alunos aprendem desde a construção até a pilotagem. Um instrutor de 17 anos revelou que os projetos sempre devem ter uso duplo. “Fomos proibidos de dizer que era necessário em guerras, e criamos aplicações civis para os desenvolvimentos”, contou ele ao site The Insider.

Essa política educacional é apoiada por instituições como a Agência para Iniciativas Estratégicas e por empresas estatais de defesa. Participações em competições de drones podem render pontos extras em exames e promessas de boas carreiras. Em alguns casos, os alunos ajudam diretamente na montagem de drones militares.

Partes do programa educacional foram pessoalmente aprovadas por Vladimir Putin.

Produção espalhada pelo território

A estratégia russa também se baseia na ideia de “profundidade estratégica”. O objetivo é dificultar que ataques aéreos destruam toda a capacidade de produção. Para isso, a Rússia espalhou seus centros de pesquisa e montagem por diversas regiões.

Entre 2025 e 2027, o país vai investir 21 bilhões de rublos (US$ 260 milhões) em 11 centros regionais de drones. Alguns estão em zonas de livre comércio ou parques tecnológicos, como em São Petersburgo, Tomsk e Perm.

Cada região foca em uma parte da cadeia produtiva. Tomsk fabrica componentes elétricos e sistemas de bordo. Perm desenvolve motores. Moscou e São Petersburgo se concentram em pesquisa avançada. Já o Tartaristão abriga o maior polo de montagem do país.

Fábrica gigante no Tartaristão

No Tartaristão, região central da Rússia, está em construção o que pode se tornar a maior fábrica de drones do mundo. Localizada na zona econômica especial de Alabuga, a planta já opera com três turnos diários.

Ali é montado o Geran-2, versão russa do drone iraniano Shahed-136. Esse modelo, conhecido por seu formato de asa voadora e explosivo potente, se tornou peça-chave nos ataques aéreos russos à Ucrânia.

A empresa responsável, a Albatross, originalmente fabricava drones agrícolas. Seu modelo civil foi adaptado para funções militares, em mais um exemplo da lógica de duplo uso adotada pelo governo.

Empresas camufladas como civis

A prática de disfarçar drones militares como civis não é exclusiva da Albatross. Em 2023, uma investigação revelou que a empresa Integrated Robotics Technologies (IRT), que se apresenta como produtora de drones industriais e agrícolas, na verdade desenvolve veículos explosivos.

A IRT continua ativa e abriu uma nova filial em São Petersburgo. Um de seus modelos aparece inclusive em um baralho de cartas com drones, publicado por uma universidade russa. Mesmo assim, o site da empresa não menciona qualquer atividade militar.

Até o momento, a IRT segue sem autorização oficial, mas atua abertamente no setor.

Substituição de importações

Outro foco da estratégia russa é a substituição de importações. O termo designa o esforço para produzir internamente todos os componentes necessários à tecnologia de drones, desde fuselagens até motores, chips e rotores.

Essa política busca reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros, especialmente da China. Apesar da parceria estratégica entre Moscou e Pequim, a vulnerabilidade permanece. Os controles de exportação e as sanções ocidentais também dificultam o acesso a componentes de ponta.

Além da Rússia, países como Irã e Coreia do Norte seguem estratégias semelhantes. Porém, seus casos mostram os limites do crescimento quando se está isolado do comércio global.

Parcerias com Irã e Coreia do Norte

O Irã teve papel fundamental na montagem da fábrica de Alabuga. Segundo o Washington Post, os iranianos forneceram os projetos e os materiais para o Geran-2.

A inteligência ucraniana também afirma que a Coreia do Norte fornece mão de obra barata para a fábrica. Além disso, existe a possibilidade de que a Rússia esteja ajudando o país a desenvolver seus próprios drones.

Como contrapartida, a Coreia do Norte poderia receber pagamentos ou parte da produção. Para facilitar o crescimento do setor, a Duma russa aprovou uma lei que elimina o imposto sobre drones e seus componentes importados, como motores.

Objetivo: exportar e liderar

A longo prazo, a Rússia espera não apenas dominar o uso de drones no campo de batalha, mas também liderar o mercado global. A eliminação de impostos e o incentivo à substituição de importações visam fortalecer os produtores nacionais.

Com isso, Moscou poderá oferecer seus drones ao “maior lance”, ampliando sua influência tecnológica e geopolítica. A combinação entre investimento, treinamento e adaptação civil-militar é o coração dessa nova estratégia.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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