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Ruas vazias, vitrines fechadas e menos clientes: o Brasil assiste ao colapso das lojas de rua diante do avanço das compras digitais

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 05/10/2025 às 00:04
O comércio de rua entra em colapso. Vendas caem 27%, vitrines fecham e o e-commerce fatura bilhões com frete grátis e entregas em 24 horas.
O comércio de rua entra em colapso. Vendas caem 27%, vitrines fecham e o e-commerce fatura bilhões com frete grátis e entregas em 24 horas.
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Comércio de rua vive queda histórica: vendas despencam 27%, grandes redes fecham centenas de lojas e o e-commerce de R$ 5 bilhões domina o consumo brasileiro

Durante décadas, as ruas comerciais foram o coração econômico das cidades. Eram locais movimentados, cheios de vitrines e clientes que circulavam entre lojas e cafés. Hoje, o cenário mudou drasticamente.

O silêncio substituiu o burburinho. Onde antes havia filas, agora há placas de “aluga-se”. O comércio de rua vive uma retração profunda, enquanto o comércio eletrônico alcança recordes históricos e redefine o comportamento de compra no Brasil e no mundo.

A virada começou com a pandemia

Desde a pandemia, o movimento nas lojas físicas despencou e nunca mais voltou ao nível anterior. O comércio eletrônico, ao contrário, atingiu faturamento recorde, alcançando R$ 5 bilhões em 2024. A decisão do consumidor também mudou: sete em cada dez brasileiros acreditam que os preços são melhores online. Em segundos, uma compra é feita pelo celular, sem que o cliente precise atravessar a rua.

Essa mudança representa mais do que uma tendência. O comércio de rua, que já foi o centro da economia urbana, perde espaço de forma contínua para as plataformas digitais. A diferença entre comprar em uma loja física e em um marketplace online deixou de ser discreta — tornou-se gritante.

Preço: a vantagem estrutural do online

Um levantamento feito em 2023 sobre smartphones mostrou que a maioria dos aparelhos custava menos no comércio digital do que nas lojas físicas. E essa diferença deixou de ser exceção para se tornar a regra. Segundo pesquisa da CNDL, 43% dos consumidores apontam os preços mais baixos como principal motivo para comprar pela internet.

O motivo está na estrutura de custos. O comerciante físico paga aluguel, energia, segurança, estoque, vitrine e funcionários, além de enfrentar uma carga tributária pesada. Já o vendedor digital pode operar de casa, com estoque reduzido e integração logística. Plataformas como Mercado Livre, Magalu, Amazon, Americanas e Shopee concentram milhares de vendedores competindo entre si — o que comprime os preços para baixo, em um nível impossível de replicar na rua.

Frete grátis e velocidade mudaram o jogo

O preço não é a única razão para a migração digital. Mais da metade dos brasileiros (56%) afirmam que o frete grátis é o principal fator para escolher uma loja online. Serviços como Amazon Prime e Mercado Pontos transformaram a entrega em estratégia de fidelização, eliminando a antiga vantagem do comércio de rua — pegar o produto na hora.

Além disso, o tempo de espera caiu drasticamente. Se antes comprar pela internet significava esperar dias, hoje a entrega em 24 horas ou até no mesmo dia já é realidade em grandes cidades. Para quase 30% dos consumidores, essa agilidade pesa tanto quanto o preço. O deslocamento, o estacionamento e as filas, comuns nas lojas físicas, passaram a ser vistos como perda de tempo.

O poder das avaliações e da comparação de preços

Outro fator decisivo foi a transparência. Na loja física, o cliente depende da palavra do vendedor. No ambiente digital, ele tem acesso a milhares de avaliações e comentários de outros compradores. Sete em cada dez brasileiros afirmam que as reviews influenciam suas decisões. Essa “sabedoria coletiva” substitui a conversa no balcão.

A facilidade de comparar preços também molda o novo comportamento. Quase metade dos consumidores (49%) destacam esse fator como essencial.

Hoje, antes de entrar em uma loja física, muitos já pesquisam no celular o preço médio do produto.

Isso coloca o comerciante de rua em desvantagem constante — seu preço deixa de ser o da etiqueta e passa a ser o do buscador online.

Promoções digitais, cupons personalizados, cashbacks e liquidações relâmpago completam o ciclo. O consumidor, acostumado a descontos dinâmicos, resiste cada vez mais a pagar o preço fixo da loja física.

Uma mudança que é também geracional

O comércio de rua não perde apenas clientes, mas gerações inteiras. Uma pesquisa recente mostra que 64% da geração Z já preferem comprar online, enquanto mais de 66% das pessoas acima de 57 anos ainda escolhem lojas físicas. No Rio Grande do Sul, 88% dos consumidores com mais de 40 anos afirmam preferir a compra presencial.

Os mais velhos valorizam a confiança e o contato direto: querem ver, tocar e negociar antes de fechar negócio. Muitos citam o imediatismo de levar o produto na hora como diferencial.

Já os jovens priorizam a conveniência. Para eles, a loja física é apenas ponto de retirada — não um destino de compra.

Três em cada quatro consumidores da geração Z utilizam mais de um canal digital antes de concluir uma compra. Eles pesquisam, comparam, assistem vídeos e leem avaliações antes de decidir. O ato de passear pelas lojas, que antes era lazer, foi substituído por redes sociais e entretenimento digital.

Ruas que envelhecem com seus clientes

Esse contraste geracional se reflete no espaço urbano. Ruas que antes eram polos comerciais viram seus clientes envelhecerem junto com os lojistas.

O resultado são pontos fechados, aluguéis encalhados e mudanças de perfil. Em bairros tradicionais, lojas familiares ainda sobrevivem sustentadas pelo público mais velho. Em áreas com maior presença de jovens, surgem bares, academias e clínicas — serviços que exigem presença física.

Mesmo os consumidores mais velhos que experimentaram o e-commerce reconhecem suas vantagens. Muitos mantêm o hábito de comprar na rua mais por costume do que por necessidade. O comércio físico sobrevive, mas não por competitividade — e sim por estar atrelado a um comportamento em declínio.

A crise em números

Os dados confirmam o colapso. O movimento em lojas físicas no Brasil caiu 3,9% em 2024 em relação ao ano anterior. Comparado a 2019, a queda é de 27%. Milhões de consumidores que migraram para o digital durante a pandemia nunca mais voltaram.

O reflexo é visível: vitrines fechadas e placas de aluga-se se multiplicam nas áreas centrais. Grandes redes também sentem o impacto. A Americanas fechou 120 lojas em 2023; a Marisa, mais de 90; e a Via (controladora das Casas Bahia) reduziu até 100 pontos físicos e demitiu cerca de 6 mil funcionários.

Manter uma loja física tornou-se pesado. Aluguéis em alta, encargos trabalhistas, tributos complexos e custos operacionais crescentes não se ajustam na mesma velocidade das vendas.

Até redes modernas, como o Magazine Luiza — com mais de mil lojas e forte integração digital — registraram resultados negativos em 2023.

O “apocalipse” das lojas não é só brasileiro

O fenômeno é global. Nos Estados Unidos, ficou conhecido como Retail Apocalypse. Apenas em 2024, mais de 7.300 lojas foram fechadas, e as projeções indicam até 15 mil encerramentos até 2025. Grandes redes como Macy’s, Walgreens e Party City reduziram drasticamente sua presença territorial.

A diferença é que, lá, o debate é nacional. No Brasil, a transição ainda se camufla em números gerais do varejo, que misturam o digital e o físico e mascaram o encolhimento das lojas de rua.

Quando a rua vira território de serviços

A transformação das cidades já é visível. Pontos comerciais sem lojistas estão sendo ocupados por outros segmentos: clínicas médicas, consultórios odontológicos, academias, bares e salões de beleza. São negócios baseados em contato humano, que não podem ser substituídos pela internet.

A rua comercial, antes território do varejo, torna-se território de serviços. O comércio físico não enfrenta apenas queda nas vendas, mas uma perda de relevância estrutural. Cada loja fechada reforça a percepção de que o modelo perdeu sentido.

Uma mudança inevitável

O que está em curso é uma mudança de paradigma. O comércio presencial massificado cede lugar ao modelo digital dominante. As lojas físicas passam a ser exceção. A diferença entre os dois mundos já não é apenas econômica, mas também cultural e geracional.

Os jovens não têm paciência para a experiência da loja. Os mais velhos, que ainda a valorizam, estão em declínio demográfico. O tempo, portanto, corre contra o comércio de rua.

A queda das lojas físicas não é mais previsão — é realidade. E ela antecipa um futuro ainda mais disruptivo: um mundo em que a tecnologia redefine não só a forma de comprar, mas também de trabalhar, produzir e viver.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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