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Romanos transformaram fóssil de 450 milhões de anos em joia usada como amuleto espiritual e isso é surpreendente

Publicado em 24/07/2025 às 16:57
Simulações de computador do exemplar de trilobita achado montado para uso como ornamento pessoal
Simulações de computador do exemplar de trilobita achado montado para uso como ornamento pessoal. Foto: Foto: Fernández et al.
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Fóssil raro foi encontrado junto a cerâmicas e moedas, com marcas de desgaste que indicam uso simbólico em rituais domésticos da Roma Antiga

Pesquisadores fizeram uma descoberta incomum no sítio arqueológico romano de “A Cibdá de Armea”, localizado perto da cidade de Ourense, na Espanha. Durante escavações no local, uma trilobita fossilizada foi encontrada em meio a restos de cerâmica, moedas e ossos de animais. O fóssil, com cerca de 4 centímetros, pode ter sido usado como joia ou amuleto entre os séculos 1 e 3 d.C.

As trilobitas são animais marinhos extintos, que viveram entre 520 e 250 milhões de anos atrás. Eram artrópodes, com corpo segmentado e aparência semelhante a um besouro blindado.

Apesar de serem bem conhecidas pela ciência atual, com mais de 22 mil espécies descritas, fósseis desse tipo em contextos arqueológicos são extremamente raros.

Segundo a revista La Brújula Verde, essa é a primeira trilobita encontrada em um sítio do Império Romano.

Em todo o mundo, só se conhecem 11 exemplares ligados a culturas antigas. O item encontrado em Armea se destaca por apresentar sete marcas de desgaste artificial, localizadas em sua face inferior, o que indica que foi adaptado para uso como pingente ou pulseira.

O artigo que descreve o achado foi publicado em 15 de julho na revista Archaeological and Anthropological Sciences.

A equipe responsável concluiu que a trilobita pertence ao gênero Colpocoryphe sp. e viveu durante o período Ordoviciano, há cerca de 450 milhões de anos.

A coloração avermelhada e a fossilização em óxido de ferro sugerem que o fóssil não é originário da Galícia, mas sim do centro-sul da Península Ibérica.

A possível origem inclui regiões como Toledo, Ciudad Real ou Badajoz, distantes mais de 430 km de Armea.

Para os pesquisadores, o transporte desse objeto até o local pode estar ligado às antigas rotas comerciais do Império Romano, especialmente a Via da Prata.

Essa via conectava cidades importantes da época, como Mérida (Emerita Augusta) e Astorga (Asturica Augusta).

O trilobita pode ter viajado com metais e outros bens como um objeto único e exclusivo, valorizado na Galícia por suas propriedades protetoras e curativas”, afirma o estudo.

Outra hipótese é que um visitante da região da Lusitânia tenha trazido o fóssil, atraído pela mineração da área onde ele foi achado.

Na Roma Antiga, fósseis costumavam ser considerados objetos místicos. Restos de grandes animais, por exemplo, eram associados a criaturas mitológicas.

Já os invertebrados fossilizados, como as trilobitas, eram tidos como amuletos de proteção contra forças sobrenaturais. A equipe aponta que o exemplar de Armea provavelmente teve essa função.

Marcas na base do fóssil sugerem que ele foi fixado em algum suporte, como couro ou metal, deixando sua face superior visível.

A forma segmentada e o desenho característico podem ter ajudado a reforçar sua função simbólica. Uma possibilidade considerada é que o item tenha sido parte de um lararium, altar doméstico usado em casas romanas para oferendas e rituais.

Esse uso se baseia na inscrição “MAXSIMVS” encontrada junto ao objeto. A palavra pode indicar que o local era um espaço sagrado de uma casa de alto status, onde o fóssil servia como símbolo espiritual ou protetor da família.

Além disso, os pesquisadores lembram que o formato das trilobitas pode ter influenciado uma peça decorativa típica da Roma Antiga: a conta de colar conhecida como trilobitenperlen.

Feitas de vidro preto ou azeviche, essas contas imitavam a aparência segmentada do fóssil e eram populares entre mulheres e crianças.

Embora nenhuma dessas joias tenha sido encontrada em Armea, elas reforçam a ideia de que a trilobita podia ter um papel protetor e simbólico.

O achado em Armea amplia o conhecimento sobre o uso de fósseis em tempos antigos e mostra como objetos naturais eram reaproveitados com outros significados no mundo romano.

A presença do fóssil em um lixão indica que, em algum momento, ele perdeu seu valor ou se quebrou, sendo então descartado.

Ainda assim, trata-se de um dos poucos exemplares de trilobita com evidência de modificação humana e uso simbólico em contexto arqueológico romano.

A descoberta levanta novas questões sobre o comércio de fósseis e seu valor espiritual em diferentes regiões do Império.

Com informações de Revista Galileu.

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Romário Pereira de Carvalho

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