1. Início
  2. / Economia
  3. / Risco real de shutdown: contas públicas do Brasil estão sob pressão e podem faltar recursos para bolsas, programas sociais e serviços já em 2027, apontam especialistas
Tempo de leitura 7 min de leitura Comentários 0 comentários

Risco real de shutdown: contas públicas do Brasil estão sob pressão e podem faltar recursos para bolsas, programas sociais e serviços já em 2027, apontam especialistas

Publicado em 28/08/2025 às 13:44
Gastos, Governo, Recursos
Imagem: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
  • Reação
Uma pessoa reagiu a isso.
Reagir ao artigo

Projeções para 2027 indicam risco de shutdown no Brasil, com despesas obrigatórias consumindo quase todo orçamento e ameaçando serviços essenciais

As contas públicas do Brasil estão sob forte pressão e o debate já antecipa um cenário crítico para 2027. Especialistas alertam que os gastos do governo Lula, com destaque para as despesas obrigatórias, podem consumir quase todo o orçamento federal.

A consequência direta seria a paralisia administrativa, conhecida como “shutdown”, fenômeno em que o Estado fica sem recursos para manter serviços básicos e investimentos.

O mais importante é que a projeção indica um choque entre arrecadação e obrigações constitucionais. Gastos como salários de servidores, previdência social, saúde e educação têm prioridade e consomem a maior parte do orçamento.

Isso deixaria praticamente nenhum espaço para as chamadas despesas discricionárias, que mantêm a máquina pública funcionando.

Entenda o que é o “shutdown”

O shutdown ocorre quando sobra pouco ou nenhum recurso para as despesas que o governo pode administrar.

São essas as que garantem investimentos em infraestrutura, manutenção de rodovias, contratos com terceirizados, bolsas de estudo e programas sociais. Sem esses recursos, o país pode enfrentar a paralisação de ministérios, escolas e hospitais.

O economista Otto Nogami, professor do Insper, alerta que a situação já mobiliza preocupação no mercado. Ele destaca que a proximidade de despesas discricionárias zeradas é um dos principais desafios fiscais do Brasil nos próximos anos.

O relatório da IFI (Instituição Fiscal Independente), ligado ao Senado, reforça o risco de a paralisia acontecer já em 2026 se nada for feito.

Serviços em risco

Se o cenário projetado se confirmar, o impacto será imediato sobre serviços essenciais. Programas como Farmácia Popular, Pé-de-Meia e Pronatec podem ser suspensos.

Bolsas do CNPq, Capes e até do Bolsa Atleta correm risco de não serem pagas. Obras federais e contratos de limpeza em universidades e hospitais também estariam ameaçados.

Para Nogami, a consequência mais grave seria a impossibilidade de manter hospitais, escolas, universidades e até agências de segurança funcionando. Ele define o quadro como paralisia total da máquina pública.

Orçamento negativo à vista

O PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias) já projeta para 2027 um “orçamento negativo”. O termo descreve a situação em que os gastos obrigatórios consomem todo o recurso disponível.

Nesse caso, não sobra nada para as despesas livres, o que inviabiliza a execução mínima de programas do governo.

Embora cálculos apontem que só em 2029 os gastos obrigatórios alcançariam R$ 2,838 trilhões, restando menos de R$ 10 bilhões para uso livre, o risco é que a eleição de 2026 acelere o processo.

Especialistas temem que a gastança em ano eleitoral, como reajustes generosos para servidores, antecipe a paralisia para 2027.

Risco político

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenta evitar a crise ampliando a arrecadação. Ele defendeu recentemente o aumento do IOF como necessário para manter a máquina em funcionamento ainda em 2024. Segundo Haddad, sem reforço de receita o governo já correria risco de parar.

Mas analistas duvidam que o governo Lula esteja de fato disposto a cortar gastos. Com base parlamentar frágil e às vésperas de eleições, há resistência no Congresso para medidas de ajuste.

Parlamentares priorizam suas próprias reeleições e pressionam por mais recursos, o que agrava a fragilidade fiscal.

As causas da gastança

O estrangulamento previsto tem três pilares principais: aumento das despesas obrigatórias, pressão dos precatórios e crescimento das emendas parlamentares. Cada fator tem efeito direto no orçamento.

No primeiro caso, previdência e salários do funcionalismo crescem acima do espaço permitido pelo arcabouço fiscal. Isso reduz a margem para investimentos.

Já os precatórios, dívidas judiciais do governo, voltam a pressionar em 2027, com previsão de R$ 70 bilhões em despesas.

Por fim, as emendas parlamentares, muitas delas impositivas, ampliam-se em ano eleitoral e já consomem parte significativa do orçamento.

O caminho da arrecadação

A saída defendida pelo governo até aqui é aumentar impostos. A estratégia, apesar das críticas do mercado e da sociedade, tem sido reforçada. Propostas incluem tributar ativos financeiros e casas de apostas, por exemplo.

Para o economista Benito Salomão, da Universidade Federal de Uberlândia, o reconhecimento da gravidade do cenário é parte de uma estratégia política.

O governo usa o alerta para justificar sua pauta arrecadatória. Segundo ele, cortar gastos obrigatórios é inviável politicamente porque a população depende diretamente deles. Portanto, a única saída é elevar a carga tributária.

Na avaliação de Salomão, o governo seguirá equilibrando as contas nessa “arte de arrecadar”, ainda que seja impopular.

Ele aponta que mesmo com o pessimismo em torno do novo arcabouço fiscal, o governo tem conseguido avançar nesse caminho.

Gastos fora de controle

João Mauricio Rosal, economista-chefe da Terra Investimentos, avalia que a raiz do problema está nos gastos obrigatórios.

Ele cita como exemplo o seguro-desemprego, que cresce sem controle. Para ele, o aumento do salário mínimo e a vinculação de gastos a receitas comprometem ainda mais as contas.

Rosal defende a revisão dos mínimos constitucionais de saúde e educação. Segundo ele, a vinculação automática ao crescimento da arrecadação perdeu sentido, especialmente na educação, já que a população brasileira envelhece.

Ele critica a estratégia de Haddad de aumentar receitas apenas de forma emergencial, comparando-a a “correr atrás do próprio rabo”.

O risco de paralisia

Apesar dos alertas, Rosal não acredita em shutdown. Para ele, não interessa a nenhum governo permitir que o país pare. Ele aposta que, em 2026, o novo presidente negociará exceções e ajustes para evitar a paralisação.

Será, segundo ele, uma nova fase de transição fiscal, com regras flexibilizadas e soluções improvisadas.

Na prática, o economista acredita que haverá uma corrida de última hora, mas um acordo político impedirá o colapso. O esforço, no entanto, exigirá cortes e contenção de despesas obrigatórias.

Debate adiado

Salomão também vê margem para evitar o pior. Para ele, ainda há tempo até 2027 para corrigir os rumos. Mas reforça que será preciso disciplina fiscal e consenso político para estabilizar a dívida pública.

Seja com o teto de gastos, arcabouço ou outro mecanismo, o governo terá de adotar regras mais rígidas.

O consenso entre especialistas é claro: a gastança do governo Lula cria um problema fiscal grave. O debate, porém, vem sendo adiado.

As medidas impopulares são deixadas de lado em nome de interesses políticos, especialmente diante das eleições. A grande dúvida é se a conta estourará antes ou depois de 2026.

Possíveis consequências

O risco não está apenas em programas sociais e bolsas de estudo. A paralisação pode afetar diretamente a vida dos cidadãos.

Universidades sem limpeza, hospitais sem contratos de manutenção, rodovias abandonadas e atraso em repasses a estados e municípios são algumas das consequências práticas.

Além disso, investidores e o mercado podem perder confiança no Brasil. A instabilidade fiscal compromete a capacidade do governo de planejar e executar políticas públicas. O ambiente de incerteza afasta investimentos privados, piorando o quadro econômico.

Caminho estreito

O quadro para os próximos anos é de difícil solução. A pressão por gastos é alta, os compromissos são constitucionais e a base parlamentar é frágil.

Qualquer tentativa de corte enfrenta forte resistência social e política. Aumentar impostos é o caminho escolhido, mas gera desgaste e limita o crescimento.

Portanto, o país caminha em uma trilha estreita. De um lado, o risco de shutdown. De outro, o aumento da carga tributária. Entre eles, a necessidade de reformas e ajustes que parecem cada vez mais distantes no ambiente eleitoral.

Eleição como ponto de inflexão

A eleição de 2026 será decisiva. O comportamento do governo no período pode acelerar ou adiar a crise. Se houver aumento exagerado de gastos para fins eleitorais, o próximo presidente assumirá em 2027 com a máquina paralisada.

Caso contrário, será possível ganhar tempo até 2029, mas ainda assim com enorme dificuldade.

Os especialistas divergem sobre o desfecho, mas concordam que a atual trajetória é insustentável. Sem mudanças estruturais, o Brasil enfrentará um período de forte instabilidade fiscal. O próximo governo, seja qual for, terá de lidar com o problema de imediato.

As projeções de orçamento negativo colocam em xeque a capacidade do Estado brasileiro de funcionar. Os gastos obrigatórios crescem sem controle e as saídas encontradas até agora se resumem ao aumento de impostos. Enquanto isso, programas sociais, bolsas e serviços básicos correm o risco de parar.

O mais importante é que o debate não pode mais ser adiado. O país precisa discutir medidas concretas antes que a crise se instale de forma irreversível.

Até lá, o Brasil seguirá em um equilíbrio instável, entre arrecadação forçada e gastos incontroláveis, com a ameaça constante de shutdown no horizonte.

As informações deste artigo são do portal ND Mais e outras fontes renomadas.

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Tags
Romário Pereira de Carvalho

Já publiquei milhares de matérias em portais reconhecidos, sempre com foco em conteúdo informativo, direto e com valor para o leitor. Fique à vontade para enviar sugestões ou perguntas

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x