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Retomada do grupo extremista Taleban ao poder do Afeganistão provoca mudanças no cenário socioeconômico mundial e deve gerar incertezas no mercado petroleiro

Escrito por Flavia Marinho
Publicado em 23/09/2021 às 10:23
Atualizado em 19/08/2022 às 05:06
petróleo - preço - china - estados unidos - afeganistão - irã -
Campos terrestre de petróleo / Imagem Google

A nação afegã possui forte influência na política econômica oriental e asiática, com a retomada do poder, seu vizinho Irã, um grande produtor mundial de petróleo, pode interferir nos preços sem ter a pressão americana em sua fronteira

O retorno do grupo extremista Taleban ao poder do Afeganistão provoca mudanças no cenário socioeconômico mundial e deve gerar incertezas no mercado do petroleiro. Um novo período de instabilidade e de reaquecimento de preços pode aparecer no horizonte, com a possibilidade do surgimento de novos conflitos na região e das influências do Irã e da China no novo regime. Todos esses elementos devem pressionar ainda mais o custo dos derivados do petróleo no Brasil. Mas, afinal, por que a crise afegã impacta tanto no mercado petroleiro?

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Como o Afeganistão não é um grande produtor mundial do insumo, o que conta nesta interferência, segundo especialistas, é a localização do país. Por estar posicionado entre o Oriente Médio e o Extremo Oriente, a nação afegã possui forte influência na política econômica oriental e asiática. Outro fator é o vizinho Irã, este sim, um grande produtor mundial de petróleo que agora pode interferir nos preços sem ter a pressão americana em sua fronteira.

Com a saída dos EUA na região, a China mira ricas reservas minerais afegãs

Outra peça importante no tabuleiro geopolítico é a China, que já sinalizou diálogo com o novo governo, o que gera um novo ponto de combustão no já agitado confronto econômico com os Estados Unidos, na luta por assumir o pódio como nova potência mundial.

O presidente americano, Joe Biden, perdeu apoio político com a malsucedida retirada de tropas do Afeganistão, algo que, de acordo com analistas, impacta na aprovação do pacote americano de infraestrutura de US$ 3 trilhões, cuja finalidade é reaquecer a atividade econômica do país, após o longo período de pandemia.

Além de medir forças com os Estados Unidos na região, a China tem interesse nos investimentos para a reconstrução do Afeganistão e nas ricas reservas minerais afegãs, cujo valor é de até US$ 1 trilhão e nunca foram devidamente exploradas. Ali há muito cobre, lítio e bauxita, recursos importantes para a produção de carros elétricos, sobretudo no desenvolvimento de suas baterias, além de gás natural, para a geração de energias alternativas, petróleo, ouro, urânio, carvão e uma série de outros minerais valiosos.

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Em 2019, o Ministério de Minas e Petróleo afegão calculou cerca de 30 milhões de toneladas de cobre no país e cerca de 2,2 bilhões de toneladas de minério de ferro, o que resulta em um valor de mais US$ 350 bilhões.

A retomada Taleban e o Day After no mercado petroleiro

A notícia da retomada de poder do Taleban, depois de 20 anos, resultou em um impacto imediato no mercado petroleiro no mercado internacional. Na manhã de segunda-feira, dia 16 de agosto, o day after do retorno dos extremistas, o preço do petróleo chegou a cair 4% diante da apreensão internacional pela volta de conflitos na região com a saída das tropas americanas.

Por volta do meio-dia, os contratos para outubro do petróleo Brent (referência global) recuavam 2,11%, a US$ 69,10 o barril, na ICE, de Londres, enquanto os contratos para setembro do WTI (referência americana), perdiam 2,33%, sendo vendidos a US$ 66,62 o barril, na Bolsa de Mercadorias de Nova York (Nymex). Dois dias depois, e o Brent e o WTI continuaram a registrar queda de mais de 2%. No Brasil, a ação preferencial da Petrobrás acumulou perdas de 2,47% nos dois primeiros pregões da semana. Os registros de queda no preço do petróleo duraram mais sete dias até que, em 23 de agosto, o Brent avançou 5,5% e o WTI, 5,6%.

O dia seguinte do retorno do grupo extremista também foi marcado pela queda generalizada das bolsas de boa parte do mundo, sobretudo na Europa e também no Brasil. A Ibovespa fechou o dia 16 de agosto com queda de 1,66%, ficando abaixo dos 120 mil pontos depois de três meses.

A moeda afegã, chamada afegane, sofreu forte depreciação, perdendo cerca de 80 dólares de valor à semana anterior da retomada. Um declínio que pressiona a inflação e deixa e já frágil economia afegã dependendo de ajuda internacional. Mesmo assim, o esperado não-reconhecimento do governo Taliban como oficial, pela maior parte da comunidade internacional, deve dificultar a busca do Banco Central local por dólares e aportes vindos do FMI.

Como a crise afegã pode afetar o Brasil?

Com uma economia enfraquecida, o Afeganistão não possui influência nas demais economias mundiais e isso permite que a crise no país oriental não seja um fator decisivo no cenário econômico de todo planeta.

No entanto, a presença Irã e China como novos influenciadores geopolíticos e a volta da instabilidade socioeconômica na região, com possibilidade de novos conflitos, são fatores que tendem a contar negativamente no tabuleiro da economia mundial.

Em caso de reaquecimento de preços de petróleo, o Brasil pode ter ainda mais dificuldade em conter a alta de preços da gasolina e do gás de cozinha, dar novo impulso para a alta da inflação, e trazer novas dificuldades para a retomada do crescimento econômico do país.

por Rodrigo Simões Scolaro, economista da Costdrivers

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Flavia Marinho

Flavia Marinho é Engenheira pós-graduada, com vasta experiência na indústria de construção naval onshore e offshore. Nos últimos anos, tem se dedicado a escrever artigos para sites de notícias nas áreas da indústria, petróleo e gás, energia, construção naval, geopolítica, empregos e cursos. Entre em contato para sugestão de pauta, divulgação de vagas de emprego ou proposta de publicidade em nosso portal.

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