Réplicas baratas viram ferramenta estratégica e custam caro ao inimigo que desperdiça munições de alto valor
Em junho de 2023, um vídeo publicado em canais pró-guerra da Rússia mostrou um drone atingindo um tanque ucraniano que explodiu em chamas. No entanto, logo depois, uma nova gravação desmentiu a cena. Um soldado ucraniano revelou que o alvo não passava de um tanque de madeira usado como isca, criado para enganar os russos.
Esse caso marcou apenas um entre muitos episódios da guerra. Assim, tanto Rússia quanto Ucrânia utilizam réplicas em larga escala — desde veículos até soldados falsos — para confundir inimigos e economizar recursos.
Réplicas que confundem até militares experientes
Na linha de frente, quase tudo pode ser falso: radares, jipes, caminhões, lançadores de granadas e até soldados. Além disso, as cópias podem ser infláveis, bidimensionais ou desmontáveis, refletindo sinais de radar e simulando calor de motores.
-
China quebra tradição, não reserva soja dos EUA, pressiona Trump e transforma Brasil em peça-chave no tabuleiro global do grão
-
Três MiG-31 russos invadem espaço aéreo da Estônia e são interceptados por caças da OTAN em alerta máximo
-
Nem China, nem Estados Unidos: perguntaram ao ChatGPT quem começaria a terceira guerra mundial e a resposta foi direta; ‘há um país que acenderia o estopim sem disparar o primeiro tiro’
-
China decidiu aproveitar a grave crise econômica de Cuba para ampliar sua presença militar a poucos quilômetros dos Estados Unidos
Militares ucranianos relatam que, em certos tipos de armamentos, metade das unidades presentes no campo de batalha são cópias. Portanto, a lógica é clara: forçar o inimigo a gastar munições caras contra alvos baratos.
Obuseiros M777 falsos e prejuízos milionários
Um dos principais alvos dessas réplicas são os obuseiros M777, apelidados de “Três Machados”. Aliados ocidentais entregaram mais de 150 unidades reais à Ucrânia em 2022, segundo o Ministério da Defesa do Reino Unido.
Para multiplicar a eficácia, voluntários ucranianos fabricam cópias em grande escala. Além disso, elas são entregues rapidamente às tropas. O grupo Na Chasi, coordenado por Ruslan Klimenko, já entregou 160 réplicas. Montar cada uma leva três minutos, com apenas duas pessoas e sem ferramentas.
Outro grupo, o Reaktyvna Poshta, liderado por Pavlo Narozhny, mantém entre 10 e 15 iscas em produção contínua. Enquanto cada réplica custa entre US$ 500 e US$ 600 (R$ 2.700 a R$ 3.200), os drones russos Lancet chegam a US$ 35 mil (R$ 190 mil).
O contraste de valores impressiona. Por isso, a réplica apelidada de Tolya tornou-se símbolo da estratégia. Ela resistiu a 14 ataques de drones Lancet. Mesmo após danos, soldados remontaram o modelo com fita adesiva e o devolveram ao front.
Disfarces criados para aumentar a ilusão
Para aumentar o realismo, as tropas montam cenários completos, incluindo marcas de pneus, caixas de munição e até banheiros improvisados. Assim, mesmo comandantes experientes foram enganados e acreditaram que se tratava de peças originais.
O oficial Carisma, da 33ª Brigada Mecanizada, destacou em 2023 que a estratégia também envolve substituir rapidamente artilharia real por réplicas após disparos. Dessa forma, o inimigo perde tempo e desperdiça munições.
Rússia aposta em drones falsos e soldados cenográficos
Do outro lado, a Rússia também recorre a armamentos falsos. Além disso, o volume de imitações cresceu ao longo de 2023. Segundo o porta-voz ucraniano Yuri Ihnat, metade dos drones Shahed usados em ataques eram falsos.
Essas versões baratas, muitas feitas de compensado, aparecem nos radares como drones reais. Consequentemente, o objetivo é sobrecarregar a defesa aérea ucraniana e forçar o disparo de mísseis caríssimos contra alvos sem valor.
A empresa russa Rusbal fabrica iscas infláveis, 2D e térmicas, capazes de simular calor de motores, transmissões de rádio e sinais de radar. Além disso, voluntários do movimento Frente Popular, em Novosibirsk, criaram bonecos soldados com uniformes equipados com cabos de aquecimento, capazes de enganar câmeras térmicas.
A velha tática ganha nova vida
Apesar da inovação tecnológica, essa técnica não é novidade. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os Aliados organizaram exércitos fictícios na Inglaterra para confundir os nazistas antes do Dia D.
Hoje, os drones não tripulados e as armas de precisão mudaram a guerra. Ainda assim, a ilusão permanece essencial. Réplicas infláveis, tanques de madeira e soldados cenográficos provam que enganar o inimigo continua estratégico.
Enquanto a guerra continua, fica claro que, além de armas modernas e drones letais, a ilusão tornou-se parte fundamental do arsenal militar. Afinal, cada míssil disparado contra uma réplica representa uma vitória estratégica para quem aposta na dissimulação.
Você acredita que o futuro da guerra será definido pela tecnologia avançada ou pela criatividade das ilusões estratégicas?