Relatório internacional alerta: planos da Petrobras para expandir produção de petróleo e gás podem gerar prejuízo se o mundo cumprir metas climáticas e reduzir a demanda por combustíveis fósseis.
Um estudo divulgado nesta quarta-feira (11) por organizações internacionais aponta que os planos da Petrobras de ampliar em mais de 20% sua produção de petróleo e gás até 2030 podem não ser rentáveis. A conclusão leva em consideração um cenário de transição climática global que limite o aumento da temperatura média do planeta a 1,5°C, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris. Segundo a análise, até 85% da produção planejada pela estatal daria prejuízo nesse contexto devido à redução da demanda.
Estudo projeta que petróleo pode perder valor com transição energética
O relatório “Brasil em uma Encruzilhada: Repensando a Expansão de Petróleo e Gás da Petrobras”, elaborado pelo Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD), World Benchmarking Alliance (WBA) e WWF-Brasil, avalia os impactos econômicos e ambientais dos projetos da estatal para os próximos anos.
De acordo com Ricardo Fujii, líder de transição energética do WWF-Brasil e coautor do estudo, a demanda por combustíveis fósseis tende a cair nos próximos anos, pressionando os preços para baixo. Nesse cenário, a maioria da produção futura da Petrobras teria um custo maior do que o valor de venda, tornando-se financeiramente inviável.
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Petrobras prevê investir US$ 97 bilhões até 2029
Entre 2025 e 2029, a Petrobras planeja investir US$ 97 bilhões em atividades ligadas à produção de petróleo e gás, incluindo exploração, transporte e refino. Parte desses recursos será destinada a projetos em áreas sensíveis, como a foz da Bacia Amazônica, onde o governo brasileiro prevê realizar um leilão com 47 blocos offshore nos próximos dias.
O plano de expansão tem como meta tornar o Brasil o quarto maior produtor de petróleo do mundo, posição atualmente ocupada pelos Estados Unidos, Rússia e Arábia Saudita. Hoje, o Brasil está em oitavo lugar no ranking da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), e a estatal responde por mais da metade da expansão prevista.
Relatório diz que expansão só é lucrativa em cenário de aquecimento elevado
O estudo alerta que os empreendimentos da Petrobras só se tornariam lucrativos em um cenário climático mais grave, com aumento da temperatura global de pelo menos 2,4°C. Esse panorama indicaria um fracasso na implementação de políticas de redução da demanda por combustíveis fósseis.
“Considerando os custos dos campos petrolíferos brasileiros e o cenário competitivo global, os novos projetos da empresa só dariam retorno em um mundo perigosamente superaquecido”, afirma o relatório.
População apoia mudança para fontes renováveis
Uma pesquisa realizada pela Pollfish para o portal Climainfo em 2024 mostra que 81% dos brasileiros defendem que a Petrobras passe a investir prioritariamente em fontes de energia renovável. Apenas 19% disseram que a estatal deveria manter seu foco na produção de combustíveis fósseis.
Segundo os autores do relatório, esse dado reforça a expectativa da sociedade em relação ao papel da empresa na transição energética global. O estudo destaca ainda que a empresa destina atualmente apenas 15% de seu orçamento à descarbonização de operações e à diversificação energética.
Especialistas defendem redefinição do papel da Petrobras
Para os analistas envolvidos no estudo, o Brasil tem condições de liderar a agenda climática global. De acordo com Joachim Roth, da World Benchmarking Alliance, isso exigiria uma redefinição do mandato da Petrobras, com foco em metas de sustentabilidade e alinhamento às políticas nacionais de transição energética.
“É possível preparar a economia para o futuro encerrando novas licenças de petróleo e gás e integrando os planos de transição pública e privada”, afirma Roth.
Leilão de novos blocos deve acontecer nos próximos dias
A divulgação do relatório ocorre poucos dias antes do leilão previsto pelo governo federal para novas áreas de exploração. A iniciativa inclui blocos na foz da Bacia Amazônica, região considerada sensível do ponto de vista ambiental.
O momento coincide com um debate global sobre o futuro da indústria do petróleo e os compromissos assumidos no Acordo de Paris. A produção de petróleo e gás, apesar de continuar relevante para a economia brasileira, enfrenta desafios crescentes diante da necessidade de redução da demanda e adaptação à nova matriz energética global.