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Raízen inicia liquidação de R$ 15 bilhões em ativos: usinas com até 30% de ociosidade, operação na Argentina por US$ 1,5 bi e foco total em corte de dívida de R$ 34 bi

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 18/08/2025 às 16:57
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Empresa acelera programa de desinvestimentos para reduzir dívida bilionária, vende usinas deficitárias e mira ativos na Argentina, enquanto mantém liquidez robusta e cronograma de pagamentos espaçado.

A Raízen acelerou o plano de desinvestimentos para reduzir a dívida líquida de R$ 34 bilhões e simplificar o portfólio.

A companhia mapeou R$ 15 bilhões em ativos potencialmente à venda, com prioridade para a operação na Argentina, estimada em US$ 1,5 bilhão, e para um novo pacote de usinas no Brasil, onde parte das unidades opera com ociosidade que chega a 30%.

A expectativa no mercado é de anúncios ainda em 2025, enquanto a empresa divulga, nesta quarta-feira (13), o primeiro balanço do ano fiscal 2025/26.

Raízen vende usinas e ativos de R$ 15 bi para reduzir dívida de R$ 34 bi, incluindo operação na Argentina avaliada em US$ 1,5 bi.
Raízen vende usinas e ativos de R$ 15 bi para reduzir dívida de R$ 34 bi, incluindo operação na Argentina avaliada em US$ 1,5 bi.

Desinvestimentos avançam e caixa já sente alívio

De tudo o que foi colocado na vitrine, pouco mais de R$ 3 bilhões já entraram no caixa, segundo apuração do InvestNews.

Em geração distribuída, os ativos mais relevantes foram alienados.

Na bioenergia, a empresa levantou mais de R$ 2 bilhões com a venda das usinas MB, Leme e Santa Elisa, em São Paulo, sendo que as duas últimas ainda passam por trâmites de conclusão.

Executivos e interlocutores entendem que, neste momento, a rota mais viável de monetização segue sendo a saída de unidades deficitárias ou desalinhadas ao desenho de clusters operacionais.

Raízen vende usinas e ativos de R$ 15 bi para reduzir dívida de R$ 34 bi, incluindo operação na Argentina avaliada em US$ 1,5 bi.
Raízen vende usinas e ativos de R$ 15 bi para reduzir dívida de R$ 34 bi, incluindo operação na Argentina avaliada em US$ 1,5 bi.

Portfólio em recalibragem: menos ociosidade, mais eficiência

Após as três transações já anunciadas, a Raízen continua operando 27 unidades e avança em duas frentes: se desliga de ativos onde a ociosidade e o custo fixo drenam caixa e também se desfaz de unidades que perderam sinergia com seus clusters regionais.

Em algumas negociações, incluem-se indústria e cana; em outras, apenas a produção agrícola.

O objetivo é elevar a utilização por planta e reduzir gargalos logísticos.

Na prática, a liquidez dos ativos tende a cair à medida que os compradores mais óbvios são atendidos.

As opções de venda dentro do estado de São Paulo estão diminuindo”, diz uma fonte do setor.

Leme e Santa Elisa ilustram a fase mais fácil desse ciclo: eram deficitárias, mas situadas em regiões com forte demanda por cana e muitos potenciais compradores num raio de 100 quilômetros.

Impacto operacional: índice médio de ociosidade deve recuar

Com a saída de Leme e Santa Elisa, especialistas estimam que a ociosidade média da Raízen caia de pouco acima de 20% para algo próximo de 18%.

A companhia não divulga produtividade por usina, mas números de mercado apontam clusters com ociosidade superior a 25%, como Araraquara e Assis, em áreas com menos concorrência — o que pode reduzir o número de interessados.

Entre analistas, a leitura é de que ao menos quatro usinas podem ser vendidas até o início de 2026.

Alvos prováveis: Mato Grosso do Sul e divisa SP–MG

Os ativos mais citados por investidores são as duas usinas de Rio Brilhante e a unidade de Caarapó, no Mato Grosso do Sul.

As primeiras operam com ociosidade perto de 30%, enquanto Caarapó tem alta utilização.

Também há menções a unidades na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, onde parte do portfólio faria mais sentido sob outro controlador.

Para os ativos sul-mato-grossenses, agentes de mercado veem espaço para compradores ligados ao etanol de milho, tese com a qual a Raízen não tem o mesmo grau de alinhamento, em uma região propícia para a commodity.

Preços efetivos vs. expectativas e efeito no fluxo de caixa

Houve, contudo, um ajuste nas expectativas de preço.

A avaliação inicial para usinas do setor variava entre US$ 70 e US$ 100 por tonelada de cana moída, mas transações recentes têm saído entre US$ 40 e US$ 50 por tonelada, de acordo com consultorias especializadas.

Apesar do desconto, gestores e analistas consideram o movimento estratégico, por retirar a necessidade de aportes em operações deficitárias e, assim, preservar ou até melhorar o fluxo de caixa.

Argentina no centro: o “big ticket” da rodada

O pacote de desinvestimentos inclui a operação na Argentina, tida como a peça mais valiosa deste ciclo.

A Argentina é o big ticket, mas não é um cheque simples”, afirma uma pessoa próxima do processo.

A administração entende que a venda deve ocorrer por valor superior ao desembolsado em 2018, então perto de US$ 1 bilhão, e o mercado especula em US$ 1,5 bilhão.

A precificação, porém, é desafiada por múltiplos historicamente mais baixos em refino e por riscos operacionais do país, como restrições para remessas de recursos, ainda citadas por interlocutores mesmo no ambiente atual.

Pessoas com conhecimento das tratativas mencionam mais de três interessados na fase de propostas não vinculantes.

Na semana passada, a Agência Estado apontou a Trafigura como um dos potenciais compradores.

O BTG Pactual detém o mandato para conduzir a venda dos ativos argentinos.

Lojas de conveniência: Oxxo vira ativo à venda

A leitura da empresa sobre o Grupo Nós — joint venture com a Femsa — também ficou mais clara.

A rede Oxxo, que chegou a ter a expansão projetada em 5 mil lojas no Brasil, passou a ser tratada como ativo à espera de comprador.

A venda, contudo, é vista internamente como item que não move o ponteiro da desalavancagem no curto prazo, razão pela qual não há tanta pressa em concluir essa saída.

Direção e estratégia: foco no core e desalavancagem

A guinada estratégica foi reforçada publicamente.

Toda essa reciclagem de ativos que estamos implementando – e vamos continuar a implementar –, tem dois grandes objetivos. O principal, e o mais importante, redução do nosso endividamento, mas também buscando a simplificação dos nossos negócios”, afirmou o CEO Nelson Gomes em teleconferência de resultados em maio.

Gomes assumiu o comando no fim de 2024, vindo da controladora Cosan, e substituiu Ricardo Mussa, executivo que liderou a abertura de capital e uma agenda de crescimento agressiva no Brasil e no exterior.

A gestão anterior investia cerca de R$ 12 bilhões por ano, com apostas em etanol de segunda geração, ativos de energia renovável e aquisições na Argentina e no Paraguai, além da incursão no varejo de proximidade com a Oxxo.

Segundo um profissional que acompanha a companhia, “era uma agenda de crescimento muito intensa, mas com juros altos, era preciso olhar para a qualidade dos ativos e entrar num ciclo de mais geração de valor”.

Perfil financeiro: liquidez robusta e cronograma de dívida espaçado

Ao fim do ano fiscal 2024/25, a Raízen reportava R$ 34 bilhões de dívida líquida.

Em contrapartida, mantinha R$ 22,1 bilhões entre caixa e títulos de alta liquidez, e apenas R$ 4,8 bilhões vencem até dezembro.

Esse colchão financeiro dá conforto para negociar sem pressa e sustentar o programa de desinvestimentos com ênfase no preço e na aderência estratégica, segundo pessoas próximas à companhia.

A orientação é ser seletivo: vender o que não faz falta ao desenho de longo prazo e evitar transações das quais a empresa possa se arrepender.

Próximos passos: ritmo de vendas e expectativa do mercado

Enquanto o balanço de abril a março abre o calendário do novo exercício, investidores acompanham o compasso das alienações.

A percepção dominante é que novas usinas devem ser negociadas ainda em 2025 e que a operação argentina, embora mais complexa, tende a ser resolvida até meados de 2026, se as condições de mercado ajudarem. A empresa, procurada, não comentou.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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