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R$ 1,3 bilhão no ralo: aeroporto internacional virou um ‘fantasma’ com só um voo por semana e suspeitas sobre seu verdadeiro propósito

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 30/10/2025 às 15:02
Terminal construído pela China em Gwadar opera com apenas um voo semanal, gerando questionamentos sobre o uso real de um investimento de R$ 1,3 bilhão.
Terminal construído pela China em Gwadar opera com apenas um voo semanal, gerando questionamentos sobre o uso real de um investimento de R$ 1,3 bilhão.
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Inaugurado como símbolo de inovação, esse aeroporto internacional movimenta apenas um voo por semana e desperta dúvidas sobre o uso real de um investimento de mais de R$ 1 bilhão.

O Novo Aeroporto Internacional de Gwadar (NGIA), inaugurado em janeiro, é considerado o maior do Paquistão em área total e um dos projetos mais ambiciosos do Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC).

Apesar do porte, o terminal opera apenas um voo semanal, cenário que tem levantado questionamentos sobre sua viabilidade e sobre o destino de um investimento de US$ 246 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão).

Localizado na província do Baluquistão, região estratégica do sudoeste do país, o aeroporto foi financiado majoritariamente pela China, dentro da Iniciativa Cinturão e Rota, programa lançado por Pequim para fortalecer rotas comerciais e ampliar sua presença econômica na Ásia, África e Europa.

Aeroporto de grande porte, mas com operação mínima

Com uma pista de 3.658 metros de extensão, o NGIA foi projetado para receber aeronaves de grande porte, como o Airbus A380 e o Boeing 747-8.

A estrutura inclui torres de controle modernas, pátios amplos e capacidade estimada para um milhão de passageiros por ano.

Terminal construído pela China em Gwadar opera com apenas um voo semanal, gerando questionamentos sobre o uso real de um investimento de R$ 1,3 bilhão.
Terminal construído pela China em Gwadar opera com apenas um voo semanal, gerando questionamentos sobre o uso real de um investimento de R$ 1,3 bilhão.

Desde sua inauguração, no entanto, o aeroporto mantém apenas um voo doméstico semanal entre Gwadar e Karachi, segundo dados da Autoridade de Aviação Civil do Paquistão (PCAA).

Imagens recentes mostram pouca movimentação nos terminais e pistas vazias.

De acordo com fontes do setor aéreo paquistanês ouvidas pela imprensa local, a baixa demanda de passageiros e os custos de operação são os principais motivos para a limitação de voos regulares.

Financiamento internacional e metas estratégicas

O projeto começou em 2014, com participação dos governos do Paquistão, China e Omã, este último por ter sido o antigo administrador do território de Gwadar até 1958.

As obras ficaram sob responsabilidade da China Communications Construction Company (CCC), estatal chinesa envolvida em outras obras de infraestrutura na região.

O aeroporto faz parte do CPEC, um conjunto de investimentos bilionários destinados a conectar o território chinês ao porto de Gwadar, no mar da Arábia, considerado estratégico para o comércio marítimo.

Segundo especialistas em geopolítica da região, o complexo logístico chinês no Paquistão busca reduzir a dependência do estreito de Malaca, rota atualmente sujeita a tensões internacionais e controlada por potências ocidentais.

Localização estratégica no sul da Ásia

Gwadar está situada próxima ao Golfo de Omã e ao Estreito de Ormuz, por onde passa grande parte do petróleo transportado por navio em todo o mundo.

Por essa razão, analistas de segurança regional avaliam que o investimento chinês na cidade tem importância tanto econômica quanto estratégica.

Autoridades paquistanesas, porém, afirmam que o objetivo do projeto é estritamente comercial.

De acordo com o governo, o aeroporto deve impulsionar o turismo e os negócios locais no longo prazo, integrando o Baluquistão ao restante do país e atraindo investidores estrangeiros.

Questionamentos sobre uso e transparência

Terminal construído pela China em Gwadar opera com apenas um voo semanal, gerando questionamentos sobre o uso real de um investimento de R$ 1,3 bilhão.
Terminal construído pela China em Gwadar opera com apenas um voo semanal, gerando questionamentos sobre o uso real de um investimento de R$ 1,3 bilhão.

A limitação operacional do aeroporto tem despertado críticas de parlamentares e da imprensa paquistanesa.

Alguns analistas afirmam que o terminal foi superdimensionado para o volume atual de passageiros da região.

Outros observadores, no entanto, apontam que a infraestrutura pode ter sido pensada com foco no transporte de cargas, e não apenas no uso civil.

Até o momento, as autoridades da PCAA não divulgaram dados oficiais sobre movimentação de voos internacionais nem previsão de ampliação da malha aérea.

Em nota divulgada em abril, a Autoridade de Aviação afirmou que a operação em escala reduzida é temporária e que novas rotas serão abertas “à medida que houver demanda comercial”.

Homenagem política e simbolismo histórico

Em 2023, o Parlamento do Paquistão aprovou a mudança do nome do aeroporto para homenagear Feroz Khan Noon, ex-primeiro-ministro responsável por negociar a incorporação de Gwadar ao território nacional.

A decisão teve caráter simbólico e foi vista como um gesto de reforço à soberania paquistanesa sobre a região.

Durante a inauguração, em janeiro de 2025, representantes dos governos da China e do Paquistão destacaram o empreendimento como um marco da cooperação bilateral.

Segundo o Ministério do Planejamento paquistanês, o aeroporto deve “servir como centro de transporte e desenvolvimento” nos próximos anos.

Impacto econômico ainda limitado

Apesar das expectativas, moradores e comerciantes de Gwadar relatam que o impacto econômico do projeto ainda é reduzido.

Em entrevistas a veículos locais, empresários afirmaram que o fluxo de visitantes não aumentou e que muitas das oportunidades criadas durante a construção desapareceram após a conclusão das obras.

Terminal construído pela China em Gwadar opera com apenas um voo semanal, gerando questionamentos sobre o uso real de um investimento de R$ 1,3 bilhão.
Terminal construído pela China em Gwadar opera com apenas um voo semanal, gerando questionamentos sobre o uso real de um investimento de R$ 1,3 bilhão.

Economistas paquistaneses apontam que o desenvolvimento de Gwadar depende também da expansão de infraestrutura terrestre e energética da região, que avança em ritmo mais lento do que o previsto inicialmente.

Desconfianças regionais e cenário futuro

A presença chinesa em Gwadar é acompanhada com atenção por países vizinhos, como Índia e Irã, que observam a expansão da influência de Pequim no Oceano Índico.

Fontes diplomáticas consultadas por agências internacionais afirmam que o governo indiano considera o porto e o aeroporto de Gwadar parte de uma rede logística que fortalece a presença militar e econômica chinesa na região.

Autoridades paquistanesas rejeitam essa interpretação e reforçam que o CPEC é um programa voltado exclusivamente para fins comerciais e de infraestrutura.

Especialistas em transporte e aviação afirmam que, para que o NGIA cumpra o papel de hub regional, será necessário ampliar as conexões domésticas e internacionais e estimular o crescimento econômico local.

Até o momento, porém, não há cronograma público para essa expansão.

O futuro do Novo Aeroporto Internacional de Gwadar dependerá da capacidade do Paquistão de atrair voos, investidores e passageiros para uma das regiões mais estratégicas — e, ao mesmo tempo, mais isoladas — do país.

Se o investimento bilionário não gerar resultados nos próximos anos, o projeto poderá continuar sendo lembrado como um símbolo de promessas ainda não cumpridas ou se tornará o ponto de virada da infraestrutura paquistanesa?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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