Inaugurado como símbolo de inovação, esse aeroporto internacional movimenta apenas um voo por semana e desperta dúvidas sobre o uso real de um investimento de mais de R$ 1 bilhão.
O Novo Aeroporto Internacional de Gwadar (NGIA), inaugurado em janeiro, é considerado o maior do Paquistão em área total e um dos projetos mais ambiciosos do Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC).
Apesar do porte, o terminal opera apenas um voo semanal, cenário que tem levantado questionamentos sobre sua viabilidade e sobre o destino de um investimento de US$ 246 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão).
Localizado na província do Baluquistão, região estratégica do sudoeste do país, o aeroporto foi financiado majoritariamente pela China, dentro da Iniciativa Cinturão e Rota, programa lançado por Pequim para fortalecer rotas comerciais e ampliar sua presença econômica na Ásia, África e Europa.
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Aeroporto de grande porte, mas com operação mínima
Com uma pista de 3.658 metros de extensão, o NGIA foi projetado para receber aeronaves de grande porte, como o Airbus A380 e o Boeing 747-8.
A estrutura inclui torres de controle modernas, pátios amplos e capacidade estimada para um milhão de passageiros por ano.

Desde sua inauguração, no entanto, o aeroporto mantém apenas um voo doméstico semanal entre Gwadar e Karachi, segundo dados da Autoridade de Aviação Civil do Paquistão (PCAA).
Imagens recentes mostram pouca movimentação nos terminais e pistas vazias.
De acordo com fontes do setor aéreo paquistanês ouvidas pela imprensa local, a baixa demanda de passageiros e os custos de operação são os principais motivos para a limitação de voos regulares.
Financiamento internacional e metas estratégicas
O projeto começou em 2014, com participação dos governos do Paquistão, China e Omã, este último por ter sido o antigo administrador do território de Gwadar até 1958.
As obras ficaram sob responsabilidade da China Communications Construction Company (CCC), estatal chinesa envolvida em outras obras de infraestrutura na região.
O aeroporto faz parte do CPEC, um conjunto de investimentos bilionários destinados a conectar o território chinês ao porto de Gwadar, no mar da Arábia, considerado estratégico para o comércio marítimo.
Segundo especialistas em geopolítica da região, o complexo logístico chinês no Paquistão busca reduzir a dependência do estreito de Malaca, rota atualmente sujeita a tensões internacionais e controlada por potências ocidentais.
Localização estratégica no sul da Ásia
Gwadar está situada próxima ao Golfo de Omã e ao Estreito de Ormuz, por onde passa grande parte do petróleo transportado por navio em todo o mundo.
Por essa razão, analistas de segurança regional avaliam que o investimento chinês na cidade tem importância tanto econômica quanto estratégica.
Autoridades paquistanesas, porém, afirmam que o objetivo do projeto é estritamente comercial.
De acordo com o governo, o aeroporto deve impulsionar o turismo e os negócios locais no longo prazo, integrando o Baluquistão ao restante do país e atraindo investidores estrangeiros.
Questionamentos sobre uso e transparência

A limitação operacional do aeroporto tem despertado críticas de parlamentares e da imprensa paquistanesa.
Alguns analistas afirmam que o terminal foi superdimensionado para o volume atual de passageiros da região.
Outros observadores, no entanto, apontam que a infraestrutura pode ter sido pensada com foco no transporte de cargas, e não apenas no uso civil.
Até o momento, as autoridades da PCAA não divulgaram dados oficiais sobre movimentação de voos internacionais nem previsão de ampliação da malha aérea.
Em nota divulgada em abril, a Autoridade de Aviação afirmou que a operação em escala reduzida é temporária e que novas rotas serão abertas “à medida que houver demanda comercial”.
Homenagem política e simbolismo histórico
Em 2023, o Parlamento do Paquistão aprovou a mudança do nome do aeroporto para homenagear Feroz Khan Noon, ex-primeiro-ministro responsável por negociar a incorporação de Gwadar ao território nacional.
A decisão teve caráter simbólico e foi vista como um gesto de reforço à soberania paquistanesa sobre a região.
Durante a inauguração, em janeiro de 2025, representantes dos governos da China e do Paquistão destacaram o empreendimento como um marco da cooperação bilateral.
Segundo o Ministério do Planejamento paquistanês, o aeroporto deve “servir como centro de transporte e desenvolvimento” nos próximos anos.
Impacto econômico ainda limitado
Apesar das expectativas, moradores e comerciantes de Gwadar relatam que o impacto econômico do projeto ainda é reduzido.
Em entrevistas a veículos locais, empresários afirmaram que o fluxo de visitantes não aumentou e que muitas das oportunidades criadas durante a construção desapareceram após a conclusão das obras.

Economistas paquistaneses apontam que o desenvolvimento de Gwadar depende também da expansão de infraestrutura terrestre e energética da região, que avança em ritmo mais lento do que o previsto inicialmente.
Desconfianças regionais e cenário futuro
A presença chinesa em Gwadar é acompanhada com atenção por países vizinhos, como Índia e Irã, que observam a expansão da influência de Pequim no Oceano Índico.
Fontes diplomáticas consultadas por agências internacionais afirmam que o governo indiano considera o porto e o aeroporto de Gwadar parte de uma rede logística que fortalece a presença militar e econômica chinesa na região.
Autoridades paquistanesas rejeitam essa interpretação e reforçam que o CPEC é um programa voltado exclusivamente para fins comerciais e de infraestrutura.
Especialistas em transporte e aviação afirmam que, para que o NGIA cumpra o papel de hub regional, será necessário ampliar as conexões domésticas e internacionais e estimular o crescimento econômico local.
Até o momento, porém, não há cronograma público para essa expansão.
O futuro do Novo Aeroporto Internacional de Gwadar dependerá da capacidade do Paquistão de atrair voos, investidores e passageiros para uma das regiões mais estratégicas — e, ao mesmo tempo, mais isoladas — do país.
Se o investimento bilionário não gerar resultados nos próximos anos, o projeto poderá continuar sendo lembrado como um símbolo de promessas ainda não cumpridas ou se tornará o ponto de virada da infraestrutura paquistanesa?



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