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Progresso de um lado, revolta do outro: túnel Santos-Guarujá avança, mas moradores temem perder suas casas e fontes de rendas tradicionais

Publicado em 22/04/2025 às 10:52
Túnel Santos-Guarujá, Túnel, Santos-Guarujá, Moradores
Créditos: Governo Federal / Ministério de Portos e Aeroportos
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Projeto do túnel imerso entre Santos e Guarujá gera tensão no bairro do Macuco, onde famílias temem perder suas casas e catraieiros enxergam o fim de uma travessia centenária

Parte dos moradores da rua José do Patrocínio, no bairro do Macuco, em Santos, enfrenta um dilema que vai além de obras públicas. Eles estão no trajeto previsto para a construção das vias de acesso ao futuro túnel entre Santos e Guarujá. Mesmo com promessas de progresso, há medo, incerteza e indignação.

Não é contra o túnel. É contra o local

Alcione Alves Rocha, de 54 anos, lidera a Associação Comunitária do Macuco e tenta esclarecer o motivo da resistência. Ela, que mora em um dos 65 imóveis ameaçados de desapropriação, é direta: “Não somos contra esta obra. Mas o local ideal não é aqui.

O túnel, prometido há décadas, agora tem projeto definido. O edital foi lançado no fim de fevereiro, com a presença do presidente Lula e do governador Tarcísio de Freitas. A obra está orçada em R$ 5,96 bilhões. Deste total, R$ 4,96 bilhões virão de uma parceria entre os governos estadual e federal.

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O leilão da concessão está previsto para agosto. A previsão é que as obras comecem em 2026 e terminem em 2028. O projeto será o primeiro túnel imerso do Brasil, com peças pré-moldadas montadas em um dique seco e depois instaladas no fundo do canal.

Apesar do avanço político, moradores do Macuco dizem viver em um limbo. “O Macuco está carimbado como área do túnel. Ninguém consegue investir, reformar. Fica indefinido”, afirma José Santaella, secretário da associação do bairro. “Falar que vai receber R$ 2.300 por metro quadrado ou uma casa da Cohab é mais do que um crime.

A insegurança é antiga. Há imóveis à venda na região desde 2013, quando se intensificaram as discussões sobre o túnel. Muitos não encontram compradores.

Sabrina Sales Reis, de 45 anos, questiona como será feito o cálculo de desapropriação. “Eles dizem que o número de casas será definido por drone, de acordo com o número de telhados. Mas há telhados que englobam cinco casas. Como vai ficar? O metro quadrado três quadras para lá é R$ 8.000. Vão pagar R$ 2.300 aqui?

Impacto do túnel nas catraias e na história

Outro grupo afetado é o dos catraieiros. A travessia por catraia, pequenos barcos a motor, é centenária. O serviço é feito diariamente desde 1907. São 150 famílias que dependem da atividade.

Fernando Miranda Ramos, presidente da Associação dos Catraieiros de Santos e Vicente de Carvalho, afirma: “Estamos falando de um serviço centenário que pode acabar de uma hora para a outra. A catraia vai perder totalmente o valor.”

As catraias operam 80 pontos de travessia entre Santos e Guarujá. Cada embarcação leva até 17 passageiros. Uma catraia e seu ponto de atracação chegam a valer R$ 230 mil. Há operadores que têm dois pontos, para trabalhar de dia e à noite. A passagem custa R$ 2,70.

Maximiliano Martins Rodrigues, dono de uma das catraias, diz que faz até 40 viagens por dia. “Tem gente aqui muito preocupada. A gente não sabe o quanto, mas vai diminuir o movimento. Nenhuma autoridade veio conversar com a gente sobre como vai ficar.

Outras travessias também podem ser afetadas

Além das catraias, há outras formas de travessia entre Santos e Guarujá. Um deles é o serviço operado há 50 anos pela Barcas Santos-Guarujá. As embarcações fazem o trajeto entre a Ponta da Praia, em Santos, e o bairro Santa Rosa, no Guarujá. São cerca de 5.000 passageiros por dia.

A empresa afirma que só será possível avaliar o impacto do túnel após a conclusão das obras. Já o governo estadual, por meio da SPI (Secretaria de Parcerias em Investimentos), declarou que continuará oferecendo transporte por balsas e lanchas.

Também anunciou investimentos previstos de R$ 1 bilhão na aquisição de 48 embarcações. Sobre as catraias, não houve posicionamento.

Progresso que custa caro para alguns

O túnel, com 1,5 km de extensão, terá 870 metros submersos. Contará com seis pistas, sendo três em cada sentido. Uma delas pode ser usada por VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). Haverá cobrança de pedágio no valor de R$ 6,15 para motos e carros. Bicicletas e pedestres poderão atravessar gratuitamente. A travessia de carro deverá levar cerca de dois minutos.

Para moradores do Macuco, o custo é outro. É o preço da incerteza e da perda de suas casas. Luiza Braz, de 73 anos, e Lucida Jeronimo, de 87, podem ser removidas. Elas vivem ali há toda a vida.

Eu já briguei muito. Decidi que não vou mais a lugar nenhum. Não queria, mas se tiver deixar a minha casa, eu saio. Só quero receber o que é justo. Estou muito, muito cansada”, desabafa Maria Angélica Fernandes, outra moradora da rua José do Patrocínio.

Obra prometida desde 1927

O túnel entre Santos e Guarujá não é ideia nova. O primeiro projeto foi anunciado em 1927. Desde então, governos diferentes apresentaram novas versões, incluindo pontes. Nenhuma foi adiante.

Moradores mais céticos não acreditam que desta vez será diferente. Um catraieiro contou que seu pai ouviu falar do túnel por sete décadas. Nada saiu do papel.

A desconfiança convive com a angústia. E enquanto a licitação não acontece, os moradores do Macuco continuam esperando. Sem respostas. E com medo do que pode vir.

Com informações de Santa Portal.

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Romário Pereira de Carvalho

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