Conheça o impacto do primeiro gasoduto de biometano em Presidente Prudente, iniciativa pioneira que reforça o uso de energia limpa e sustentável no Brasil.
O município de Presidente Prudente, no interior do estado de São Paulo, tornou-se palco de um marco inédito no setor energético brasileiro: a instalação do primeiro gasoduto de biometano do país voltado ao abastecimento urbano. A Nécta Gás Natural, por sua vez, investiu R$ 12 milhões na construção da rede de distribuição.
Com 40 km de extensão, esse gasoduto representa, além de um avanço tecnológico, uma aposta concreta em energias renováveis, economia sustentável e inovação no uso de resíduos orgânicos.
O projeto pretende atender inicialmente cerca de 5 mil pessoas, além de 58 estabelecimentos comerciais, hospitais e pequenos empreendimentos. Para isso, a usina termelétrica da Cocal, localizada no município vizinho de Narandiba, produzirá o gás a partir da purificação do biogás — um subproduto da decomposição de matéria orgânica, como bagaço de cana, resíduos agrícolas e dejetos animais.
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Esse tipo de projeto também serve como referência para outras cidades de médio porte que buscam alternativas energéticas mais limpas e acessíveis. Ademais, municípios do interior, em geral, enfrentam desafios para acessar grandes redes de gás natural, o que torna o biometano uma solução viável e estratégica.
O que é o biometano e por que ele é essencial
O biometano é um combustível limpo, renovável e de alta eficiência energética. Ele resulta do biogás, produzido durante o processo de digestão anaeróbica da matéria orgânica.
Esse gás bruto passa, então, por um processo de purificação que remove impurezas como dióxido de carbono, sulfeto de hidrogênio e vapor de água. O produto final apresenta características muito semelhantes ao gás natural fóssil, podendo ser utilizado nos mesmos equipamentos e redes de distribuição.
A grande vantagem do biometano está na sua pegada de carbono reduzida. Ao contrário dos combustíveis fósseis, ele não aumenta a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, pois o carbono emitido é compensado pelo carbono previamente absorvido pela biomassa usada na sua produção.
Em outras palavras, ele constitui uma fonte de energia neutra em carbono, contribuindo diretamente para o combate às mudanças climáticas.
Além disso, outro benefício significativo é o aproveitamento de resíduos que antes eram descartados sem uso. Ao transformar passivos ambientais em ativos energéticos, o biometano agrega valor às cadeias produtivas da agricultura e da agroindústria.
Esse modelo de economia circular reduz impactos ambientais, promove inclusão social e gera novas oportunidades de negócio no campo e na cidade.
A história do biometano no Brasil e a força da cana-de-açúcar
Embora o uso de biogás no Brasil tenha ganhado impulso nos últimos anos, o conceito não é novo. Desde a década de 1970, durante a crise do petróleo, o país começou a experimentar alternativas energéticas, incluindo o aproveitamento de resíduos orgânicos para geração de energia.
No entanto, o avanço das tecnologias de purificação, nas últimas duas décadas, tornou o biometano uma opção viável em larga escala.
O setor sucroenergético, responsável por grande parte da produção de biomassa no país, lidera esse desenvolvimento. O estado de São Paulo, em especial, tem sido um dos principais polos desse movimento.
De fato, iniciativas como o Programa Cana IAC, coordenado pelo Instituto Agronômico (IAC-Apta), vêm trabalhando há décadas para aprimorar a produtividade e sustentabilidade da cadeia da cana-de-açúcar.
Além disso, estudos recentes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do governo estadual reforçam esse cenário, apontando um potencial de crescimento significativo na produção de biometano.
A produção pode saltar dos atuais 400 mil metros cúbicos por dia para 6,4 milhões de m³/dia, suficiente para suprir até 40% da demanda paulista por gás natural, enquanto reduz em até 16% as emissões previstas nas metas climáticas estaduais.
Além disso, esse aumento de produção pode gerar cerca de 20 mil novos empregos diretos e indiretos, fomentando a economia local e nacional.
A cadeia produtiva do biometano exige profissionais qualificados, incentiva a pesquisa e inovação, e atrai investimentos privados e públicos.
Presidente Prudente e a inovação no interior paulista
A escolha de Presidente Prudente para sediar o primeiro gasoduto de biometano urbano do Brasil não foi por acaso. A cidade possui localização estratégica, próxima a polos agrícolas e industriais, além de reunir condições ideais para implantar infraestrutura energética sustentável.
O investimento da Nécta Gás Natural demonstra confiança na região e um olhar atento ao futuro da energia limpa no Brasil.
Além do impacto ambiental positivo, a obra também impulsiona a economia local. A instalação do gasoduto gerou empregos diretos e indiretos e, quando em operação plena, promete reduzir custos com energia para os consumidores e aumentar a competitividade das empresas locais.
O uso de biometano como combustível pode também beneficiar setores como transportes, comércio e serviços, promovendo um ciclo virtuoso de desenvolvimento regional sustentável.
Esse tipo de desenvolvimento fortalece o papel dos municípios do interior como protagonistas da transição energética nacional.
Em vez de depender exclusivamente de capitais e grandes centros, o avanço das energias renováveis permite descentralizar investimentos e a geração de valor.
Uma fonte energética estratégica e versátil
A transição energética global concentra-se cada vez mais em fontes limpas e renováveis.
O biometano surge nesse contexto como uma solução promissora, especialmente em países como o Brasil, onde há abundância de matéria orgânica e resíduos agrícolas.
Diferente de outras fontes de energia renovável, como solar e eólica, o biometano tem a vantagem de poder ser armazenado e transportado com facilidade, utilizando a mesma infraestrutura já existente para o gás natural convencional.
Outro aspecto importante é a versatilidade do biometano. Ele pode abastecer residências, indústrias, veículos e até usinas termelétricas.
Além disso, por ser um gás limpo, sua utilização reduz os impactos à saúde causados por poluentes atmosféricos.
Ao investir nessa tecnologia, o Brasil alinha-se às diretrizes globais de descarbonização e segurança energética.
Projetos como o de Presidente Prudente indicam que o país começa a transformar seu enorme potencial em ações concretas e escaláveis.
O primeiro passo de uma revolução energética nacional
Com a crescente valorização de combustíveis renováveis, o Brasil tem diante de si uma oportunidade estratégica: tornar-se um líder mundial na produção e uso de biometano.
O país já conta com cadeias produtivas bem estruturadas na agricultura e agroindústria, que geram grande quantidade de resíduos orgânicos.
O aproveitamento desses resíduos não apenas reduz passivos ambientais, mas também gera valor econômico e social.
O primeiro gasoduto de biometano em Presidente Prudente sinaliza que essa transformação avança. Ele representa um passo importante rumo a um modelo energético mais limpo, descentralizado e democrático.
Trata-se de um projeto que une inovação, sustentabilidade e desenvolvimento local — um exemplo que pode e deve se replicar em outras regiões do país.
À medida que empresas, governos e consumidores percebem as vantagens do biometano, a infraestrutura para sua produção e distribuição tende a crescer rapidamente.
Assim, o sucesso desse gasoduto poderá inspirar novas iniciativas, fortalecer políticas públicas e ampliar o mercado de energias renováveis no Brasil.
A transição já começou — e Presidente Prudente está na dianteira.