Durante a OTC Brasil, Magda Chambriard destacou que a Petrobras continuará priorizando a exploração de petróleo, exaltando a licença para perfuração na Foz do Amazonas e descartando planos de transformar a estatal em uma empresa de energia renovável.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, reforçou nesta semana que o futuro da estatal está diretamente ligado à exploração de petróleo, e não à transição energética. A declaração foi feita durante a Offshore Technology Conference (OTC Brasil), realizada no Rio de Janeiro, e veio acompanhada da celebração pela licença ambiental concedida à empresa para perfurar um poço na Foz do Amazonas, no bloco FZA-M-59 — área leiloada em 2013, quando Magda ainda era diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Segundo a executiva, a autorização representa um “marco para o Amapá e para o Brasil”, marcando a abertura de novas fronteiras exploratórias para o país. “Não tem futuro para uma empresa de petróleo sem exploração”, afirmou Chambriard, em tom enfático.
A nova fronteira do petróleo brasileiro e a resistência à transição energética
Enquanto líderes globais se preparam para discutir, na COP30, o fim dos combustíveis fósseis e o avanço das fontes limpas, a Petrobras segue na direção contrária. Magda Chambriard deixou claro que não pretende alterar a essência da estatal, mesmo diante de projeções internacionais que indicam queda na demanda por petróleo a partir de 2030.
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De acordo com a presidente, a exploração da Foz do Amazonas simboliza uma “produção sustentável” — termo que, neste contexto, refere-se à continuidade econômica do setor e não à sustentabilidade ambiental. A estratégia da Petrobras, portanto, prioriza o aumento da produção de petróleo e gás fóssil, contrariando as recomendações de organismos internacionais e especialistas em clima.
Riscos econômicos e ambientais de uma Petrobras centrada no petróleo
A insistência da Petrobras em manter o foco quase exclusivo nos combustíveis fósseis levanta preocupações entre ambientalistas e analistas de mercado. Há o temor de que, ao ignorar o movimento global pela descarbonização, a empresa acumule ativos encalhados — investimentos em áreas que podem perder valor à medida que o mundo reduz a dependência do petróleo.
Relatórios recentes da Agência Internacional de Energia (IEA) alertam que a transição para fontes renováveis tende a acelerar nas próximas décadas. Caso o Acordo de Paris seja cumprido, a demanda global por petróleo poderá cair drasticamente, tornando inviáveis muitos projetos de exploração de alto custo, como os da região amazônica.
Mesmo assim, o Plano Estratégico 2024-2029 da Petrobras mantém uma disparidade significativa entre os investimentos em exploração de petróleo e os destinados a fontes renováveis ou combustíveis de baixo carbono. Apesar do discurso sobre uma “transição energética justa”, os recursos voltados a projetos sustentáveis continuam sendo uma fração mínima do orçamento total.
O papel do Observatório do Clima e as críticas à postura da estatal
Em setembro, o Observatório do Clima lançou o documento “A Petrobras de que precisamos”, propondo uma reestruturação do modelo de negócios da companhia. O estudo defende que a empresa poderia reduzir os investimentos em combustíveis fósseis e ampliá-los em energias limpas, sem comprometer sua rentabilidade.
Segundo a entidade, a Petrobras possui capacidade técnica e financeira para liderar a transição energética no Brasil, mas falta vontade política e estratégica. A estatal foi convidada a participar do lançamento do estudo, porém, não enviou representantes nem respondeu ao convite.
Para especialistas, a ausência da empresa no debate reflete uma resistência institucional em aceitar a necessidade de mudança. “A Petrobras ainda se vê como uma companhia de petróleo, não de energia”, avaliam integrantes do Observatório.
O alerta global e o risco de perda de competitividade
A fala da presidente da Petrobras ocorre em um momento de forte pressão internacional. O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou recentemente que a “era dos combustíveis fósseis está chegando ao fim”, destacando que empresas que não se adaptarem rapidamente perderão espaço no mercado global.
Contudo, Magda Chambriard mantém a aposta na exploração, argumentando que ela garante “segurança energética” ao país. Especialistas, porém, consideram o argumento questionável, alertando que insistir nesse modelo pode isolar o Brasil nas discussões sobre clima e desenvolvimento sustentável.
A preocupação se estende também aos acionistas, que veem com cautela a postura da estatal. Com a falta de investimentos expressivos em inovação e energia limpa, a Petrobras corre o risco de perder competitividade frente a companhias internacionais que já estão avançando em projetos de descarbonização e diversificação energética.



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