A carne nos EUA bateu recorde em 2025, com carne moída e cortes de churrasco pesando no bolso. O motor da alta é a oferta curta: rebanho menor em décadas e um ciclo pecuário lento para se recompor.
Os preços da carne bovina nos Estados Unidos seguem em máxima histórica. Em julho de 2025, a carne moída atingiu US$ 6,25 por libra e os steaks ficaram em US$ 11,88 por libra, de acordo com o Bureau of Labor Statistics. São altas consistentes nos últimos meses e que pressionam o orçamento das famílias americanas.
Para nós brasileiro entender o peso dessa alta, uma simples conversão ajuda. Com o dólar perto de R$ 5,40 em 18 e 19 de agosto de 2025, esses valores equivalem a cerca de R$ 75 por kg para carne moída e em torno de R$ 140 por kg para cortes de churrasco, com pequenas variações conforme o câmbio do dia. É um patamar elevado para o padrão histórico.
Especialistas lembram que a alta não vem de agora. O movimento é cumulativo e ganhou força com o ciclo do gado encurtado, a oferta mais apertada e custos de produção elevados nos últimos anos. Ou seja, não há um único culpado.
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O verdadeiro vilão: rebanho menor e ciclo pecuário apertado
O rebanho de bovinos dos EUA começou 2025 com 86,7 milhões de cabeças, o menor nível desde 1951, segundo o USDA. Em 1º de julho, a contagem ficou em 94,2 milhões, ainda 1% abaixo do observado em 2023. Menos animais significa menos carne no curto prazo.
Com a oferta curta, o USDA reduziu suas projeções para a produção de carne bovina em 2025 e já indica pressão altista que pode se estender a 2026, até que a recomposição do plantel avance. Reerguer o rebanho é lento: repor matrizes e levar bezerros ao peso de abate leva de 18 a 24 meses.
Além do ciclo, clima e custo de alimentação pesaram. A seca dos últimos anos reduziu pastagens e elevou gastos com ração, forçando muitos pecuaristas a abater fêmeas e encolher o rebanho. Agora há sinais de retenção de novilhas, mas o efeito sobre a oferta só aparece mais à frente.
“Praga” no México e fronteira mais rígida
Outro fator que estreita a oferta é o avanço da New World Screwworm (a “bicheira do Novo Mundo”) no México. Para conter o risco sanitário, o USDA reforçou fechamentos temporários da fronteira para importação de gado vivo e anunciou um plano robusto, incluindo cães farejadores, patrulhas a cavalo e a construção de uma fábrica de moscas estéreis no Texas, capaz de produzir até 300 milhões de moscas por semana. Menos entrada de animais para engorda reduz a oferta futura.
Essas medidas sanitárias são essenciais para proteger o rebanho americano, mas tendem a manter a oferta apertada no curto prazo. O próprio USDA reconhece que a vigilância na fronteira e o combate à praga demandarão recursos e tempo, com reflexos sobre custos e disponibilidade.
Tarifa de 50% não causou a alta, mas pode elevar ainda mais
A pergunta do momento é se o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros explica a escalada recente. A resposta curta: ainda não. A alta que aparece nos dados de junho e julho foi construída por estoque reduzido e clima, mas as tarifas podem piorar a pressão daqui para frente, sobretudo porque o Brasil ganhou peso nas importações americanas de carne em 2025.
O governo dos EUA formalizou a tarifa total de 50% no fim de julho, com vigência em agosto, elevando o custo de uma parcela relevante de cortes bovinos importados do Brasil. Autoridades americanas detalharam a medida em ordens e comunicados oficiais, e análises independentes apontam impactos diretos em segmentos como hambúrgueres, que usam misturas de cortes dianteiros e carne mais magra importada. Resultado provável: insumos mais caros para redes de fast-food e processadores.
Relatos de mercado mostram que frigoríficos brasileiros reduziram ou redirecionaram embarques após o anúncio, e órgãos de pesquisa revisaram para baixo a projeção de importações de carne pelos EUA em 2025 e 2026, justamente pela limitação do Brasil. Isso reforça o viés de alta de preços no varejo americano.
O que esperar para 2026
Com rebanho enxuto, importações revisadas para baixo e um cenário sanitário ainda exigente na fronteira sul, a perspectiva oficial é de oferta apertada e preços firmes até 2026. O USDA cortou a estimativa de produção para 2026 na leitura mais recente e segue indicando mercado ajustado. Sem um choque positivo de oferta, a carne nos EUA tende a permanecer cara.
Para o consumidor, isso se traduz em pressão sobre o preço do hambúrguer e dos cortes de churrasco, especialmente no verão americano, quando a demanda sazonal aumenta. Para as empresas, o quadro exige gestão de compras mais sofisticada e diversificação de fornecedores, com maior dependência de origens como Austrália e Uruguai, mas a substituição integral do volume brasileiro não é trivial.
O principal motor da alta da carne nos EUA é a oferta curta causada pelo menor rebanho em décadas. Tarifas de 50% e restrições sanitárias ao gado do México não dispararam a escalada, mas adicionam combustível a um mercado já aquecido. A tendência, segundo o USDA, é de preços altos até 2026, com possíveis picos se a recomposição do rebanho for mais lenta que o previsto