Egito, potência do BRICS, assina quatro acordos globais para expandir petróleo e gás, reduzir importações e disputar o posto de maior economia da África.
O Egito, recém-integrado ao BRICS+, assumiu o centro das atenções no cenário energético internacional ao anunciar a assinatura de quatro novos acordos globais para exploração e produção de gás natural e petróleo. Os contratos, avaliados em mais de US$ 340 milhões, envolvem gigantes como Shell, Eni e BP, além de parcerias com empresas estatais locais.
Esse movimento representa não apenas uma resposta imediata à crise de consumo energético que assola o país, mas também um passo decisivo em direção ao objetivo ambicioso do Egito: firmar-se como a maior economia africana e reduzir sua dependência de importações de hidrocarbonetos.
A crise de consumo energético que pressiona a economia egípcia
Nos últimos anos, a economia egípcia sofreu com a queda na produção de gás natural e com a pressão da demanda interna crescente.
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A produção, que chegou a atingir níveis recordes em 2019, sofreu redução superior a 40% até 2025, criando gargalos para indústrias e para a geração de energia elétrica.
Para um país que buscava se posicionar como exportador de energia, essa reversão trouxe custos elevados: em 2024, o Egito voltou a depender de importações de gás natural liquefeito e petróleo refinado, drenando divisas preciosas de sua balança comercial.
A assinatura de novos contratos surge, portanto, como uma estratégia de sobrevivência e reposicionamento no tabuleiro energético internacional.
Produção de petróleo e gás: acordos que ampliam capacidade e atraem investimentos
Os novos contratos de exploração têm foco em áreas estratégicas como o Delta do Nilo e a costa do Mediterrâneo, regiões conhecidas por seu potencial de hidrocarbonetos.
Estão previstos investimentos para perfuração de 10 novos poços, além da implementação de tecnologias avançadas para elevar a taxa de recuperação de campos maduros.
Segundo o Ministério do Petróleo egípcio, a expectativa é que esses projetos possam adicionar até 300 mil barris de petróleo equivalente por dia à produção nacional nos próximos anos, reduzindo significativamente a necessidade de importações e criando excedentes potenciais para exportação.
Esse aumento na produção de petróleo e de gás fortalece a posição do Egito como hub energético do Norte da África, capaz de atender tanto à demanda doméstica quanto aos mercados europeus em busca de diversificação após a crise energética desencadeada pela guerra na Ucrânia.
Potência do BRICS busca autonomia e protagonismo africano
A entrada no BRICS deu ao Egito não apenas legitimidade geopolítica, mas também acesso a novos instrumentos de financiamento e cooperação tecnológica.
Os acordos assinados sinalizam que o país pretende usar essa inserção internacional para se consolidar como potência do BRICS no continente africano.
O discurso do governo egípcio é claro: ampliar a autossuficiência energética, reduzir vulnerabilidades externas e competir diretamente com Nigéria e África do Sul pelo posto de maior economia da África.
Para isso, a energia é vista como um trunfo estratégico, capaz de impulsionar a indústria local, atrair investimentos externos e reforçar a influência regional.
Produção de gás natural e petróleo como motor de desenvolvimento
O Egito já possui um histórico de protagonismo na indústria de gás natural, com destaque para a descoberta do gigantesco campo Zohr, operado pela italiana Eni, no Mediterrâneo.
Agora, com os novos contratos, o país tenta transformar esse legado em um salto qualitativo.
A aposta é que a produção de gás natural e petróleo seja capaz de:
- Suprir a demanda interna de energia elétrica e combustíveis;
- Reduzir a pressão sobre a balança comercial, diminuindo importações;
- Ampliar receitas fiscais, fortalecendo as contas públicas;
- Atrair tecnologia estrangeira, integrando fornecedores locais na cadeia de valor;
- Consolidar o Egito como exportador líquido de energia para África e Europa.
A geopolítica do petróleo e o papel do Egito no BRICS+
Os novos acordos também têm um peso geopolítico. Ao se alinhar com empresas ocidentais, mas dentro da estrutura ampliada do BRICS+, o Egito mostra habilidade em transitar entre blocos e manter múltiplos canais de cooperação.
Para o BRICS, a presença egípcia reforça o discurso de representatividade do Sul Global, ampliando a influência sobre o mercado energético mundial.
Para o Egito, significa contar com apoio político e financeiro para reposicionar sua matriz energética e se firmar como ator relevante em negociações sobre petróleo e gás.
Essa sinergia é ainda mais importante diante da estratégia do bloco de reduzir a dependência do dólar em contratos internacionais, privilegiando acordos em moedas locais ou em yuan, o que pode beneficiar países como o Egito na negociação de importações e exportações.
Desafios para transformar acordos em resultados concretos
Apesar do otimismo, especialistas alertam que o sucesso dos novos contratos depende de fatores como estabilidade política, segurança jurídica e eficiência regulatória.
O Egito ainda enfrenta pressões macroeconômicas, com inflação elevada e necessidade de investimentos em infraestrutura de transporte e refino.
Além disso, o mercado internacional de energia passa por transformações rápidas, com a transição para fontes renováveis e o aumento da pressão climática.
O país terá de equilibrar a expansão da produção de petróleo e gás com compromissos de sustentabilidade e metas de redução de emissões.
A aposta de um gigante em ascensão
Os quatro novos acordos internacionais representam mais do que simples contratos comerciais. Eles são o símbolo de um Egito que busca se reinventar como potência energética, reduzir vulnerabilidades externas e disputar a liderança africana.
Como potência do BRICS, o Egito ganha projeção global, ao mesmo tempo em que se torna peça-chave na disputa por influência no mercado de petróleo e gás.
O desafio é transformar os investimentos assinados em resultados concretos, garantindo que a produção se expanda, que as importações sejam reduzidas e que a economia ganhe fôlego para consolidar seu papel como maior do continente.
No tabuleiro global, os olhos agora se voltam para o Cairo: o Egito deixou de ser apenas um ator regional para se tornar uma potência estratégica, capaz de impactar diretamente o equilíbrio energético mundial.