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Etanol: invenção brasileira que virou combustível de milhões de carros no país, reduziu dependência do petróleo, mas nunca conquistou o mundo

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 04/09/2025 às 05:32
Etanol: invenção brasileira que virou combustível de milhões de carros no país, reduziu dependência do petróleo, mas nunca conquistou o mundo
Foto: Etanol: invenção brasileira que virou combustível de milhões de carros no país, reduziu dependência do petróleo, mas nunca conquistou o mundo
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Etanol: combustível que fez do Brasil referência mundial em biocombustíveis, dominou a frota flex e reduziu a dependência do petróleo, mas não conquistou o mundo.

O etanol como combustível automotivo não nasceu por acaso no Brasil. Ele surgiu de uma necessidade estratégica nos anos 1970, quando o mundo enfrentava os choques do petróleo e os preços dispararam. Dependente da importação de derivados, o país buscava alternativas que reduzissem a vulnerabilidade econômica e fortalecessem a produção interna de energia.

Foi assim que, em 1975, nasceu o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), incentivando a substituição parcial da gasolina pelo etanol produzido a partir da cana-de-açúcar. Na época, surgiram os primeiros carros movidos exclusivamente a álcool, em uma experiência ousada que mudaria para sempre a relação do Brasil com os combustíveis.

Carros a álcool e o nascimento da cultura do biocombustível

Nos anos 1980, milhões de brasileiros dirigiam carros movidos apenas a álcool. O combustível, abundante e barato, chegou a representar mais de 90% das vendas de automóveis em determinados períodos. O etanol era visto como a grande resposta à dependência do petróleo.

Mas a oscilação de preços, a dificuldade de distribuição em algumas regiões e a queda da competitividade diante da gasolina levaram o consumidor a desconfiar da solução.

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Durante os anos 1990, a frota de carros a álcool entrou em declínio. Parecia o fim de um ciclo.

Foi nesse momento que surgiu a verdadeira revolução: a tecnologia flex fuel, capaz de rodar tanto com gasolina quanto com etanol em qualquer proporção.

O carro flex e a consolidação do etanol no Brasil

Em 2003, a Volkswagen lançou o Gol 1.6 Total Flex, o primeiro carro brasileiro produzido em série com a tecnologia. O sucesso foi imediato.

O motorista podia escolher o combustível mais vantajoso a cada abastecimento, sem risco de ficar preso à variação de preços.

Hoje, o carro flex domina mais de 80% da frota nacional, consolidando o etanol como um dos pilares do setor automotivo brasileiro.

Essa inovação não só reduziu a dependência da gasolina, como também deu impulso à cadeia produtiva da cana-de-açúcar, que gera milhões de empregos diretos e indiretos no país.

O papel do etanol de cana-de-açúcar na matriz energética

A força do etanol no Brasil se deve à competitividade da cana-de-açúcar. Diferente do milho usado nos Estados Unidos, a cana é mais eficiente na conversão energética e garante um custo mais baixo por litro de etanol.

Além disso, o combustível tem impacto positivo no meio ambiente, com menor emissão de dióxido de carbono em comparação com a gasolina. Essa característica fez do Brasil referência internacional em biocombustíveis sustentáveis.

O etanol nos Estados Unidos: gigante na produção, discreto no consumo

Os Estados Unidos são hoje o maior produtor mundial de etanol, à frente do Brasil. No entanto, o modelo americano é diferente.

Lá, o combustível é obtido principalmente do milho e não conquistou a frota automotiva da mesma forma.

A mistura mais comum é a E10, com 10% de etanol e 90% de gasolina, usada praticamente em todos os veículos. Existe também o E85, com 85% de etanol, mas a adesão é limitada porque poucos postos oferecem o produto.

Mesmo com incentivos fiscais, o carro flex não ganhou espaço entre os consumidores americanos. Resultado: o país produz volumes gigantes de etanol, mas o uso direto como combustível dominante é restrito.

O resto do mundo e as barreiras para o etanol

Na Europa, o etanol aparece em misturas como E5 ou E10, mas nunca se consolidou como combustível principal. O custo elevado da produção e a ausência de políticas de incentivo limitaram sua expansão.

Na Ásia, alguns países como a Índia estudam ampliar a mistura de etanol à gasolina (E20 até 2025), mas a escala ainda é pequena diante da frota global.

Nenhum país chegou perto da experiência brasileira de transformar o etanol em protagonista da mobilidade.

As barreiras logísticas, o custo elevado e a falta de infraestrutura explicam por que o combustível verde nunca conquistou o mundo.

Vantagens e desafios do modelo brasileiro

O Brasil mostra que é possível manter uma frota majoritariamente abastecida com etanol. Entre as vantagens estão:

  • Menor dependência do petróleo importado;
  • Redução nas emissões de gases poluentes;
  • Estímulo à cadeia agrícola da cana-de-açúcar;
  • Flexibilidade para o consumidor, que escolhe o combustível conforme o preço.

Mas há desafios: o preço do etanol oscila conforme a safra da cana, a competitividade cai quando a gasolina recebe subsídios, e os investimentos em expansão do setor enfrentam incertezas regulatórias.

O futuro do etanol na era da eletrificação

Com a ascensão dos carros elétricos, surge a dúvida sobre o papel do etanol nas próximas décadas. Para especialistas, o combustível continuará sendo essencial em países emergentes, onde a infraestrutura de recarga é limitada.

Além disso, cresce a aposta nos híbridos flex, que combinam eletricidade com etanol, criando um sistema de baixa emissão que aproveita a infraestrutura já existente no Brasil. Esse modelo pode transformar o país em referência global de mobilidade sustentável no período de transição energética.

O etanol é mais do que um combustível: é um símbolo da engenhosidade brasileira diante das crises do petróleo. Transformou a matriz energética do país, consolidou-se em milhões de veículos e reduziu a dependência externa de combustíveis fósseis.

Mesmo que não tenha conquistado o mundo, o etanol mostrou que há alternativas possíveis ao petróleo e que o Brasil pode liderar soluções inovadoras em energia.

No cenário global, ele permanece como uma experiência única: um combustível nacional que ousou desafiar gigantes, mas encontrou seu trono apenas no Brasil.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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