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Por que os veículos elétricos ainda não se popularizaram no Brasil? Estudo revela desafios e soluções para acelerar a mobilidade sustentável

Escrito por Rannyson Moura
Publicado em 05/09/2025 às 10:26
Estudo mostra por que os veículos elétricos ainda não decolaram no Brasil. Falta de infraestrutura, custo das baterias e barreiras regulatórias atrasam a transição. Fonte: NeoFeed
Estudo mostra por que os veículos elétricos ainda não decolaram no Brasil. Falta de infraestrutura, custo das baterias e barreiras regulatórias atrasam a transição. Fonte: NeoFeed
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Estudo mostra por que os veículos elétricos ainda não decolaram no Brasil. Falta de infraestrutura, custo das baterias e barreiras regulatórias atrasam a transição.

Apesar de ser o oitavo maior produtor de automóveis do mundo e o quarto maior mercado consumidor, o Brasil ainda não conseguiu transformar esse peso industrial em liderança na eletromobilidade. Em 2024, menos de 7% dos veículos licenciados no país eram elétricos, percentual bem abaixo de nações que já consolidam políticas robustas para o setor.

Esse atraso preocupa especialistas porque pode empurrar o Brasil para fora da corrida global por tecnologias sustentáveis. Enquanto países como China, Alemanha e Estados Unidos aceleram investimentos, o mercado brasileiro ainda convive com dúvidas, barreiras estruturais e falta de planejamento integrado.

Estudo aponta oito obstáculos para veículos elétricos no Brasil

Um levantamento da Thymos Energia analisou o cenário nacional e comparou experiências internacionais. O estudo mapeou oito grandes barreiras que freiam a expansão da mobilidade elétrica no país:

  • Infraestrutura de carregamento insuficiente e mal distribuída;
  • Longo tempo de recarga e baixa autonomia;
  • Pouca disponibilidade de modelos no mercado brasileiro;
  • Ausência de cadeia de produção local de baterias;
  • Baixa durabilidade das baterias atuais;
  • Alto custo dos veículos e do armazenamento de energia;
  • Déficit de mão de obra especializada em manutenção;
  • Carência de pesquisa e desenvolvimento no território nacional.

De acordo com Luiz Vianna, COO da Thymos Energia, superar essas barreiras não depende apenas da indústria automotiva. “Planejamento, integração e investimentos coordenados de múltiplos atores, como poder público, empresas de energia e consumidores, são fundamentais”, reforça.

O risco do “Vale da Desilusão”

Segundo o Ciclo Hype do Instituto Gartner, que mapeia o desenvolvimento de tecnologias emergentes, os veículos elétricos no Brasil estão prestes a entrar no chamado “Vale da Desilusão”. Essa fase marca o momento em que o entusiasmo inicial cede espaço às dificuldades reais, como custos elevados e limitações técnicas.

O ciclo tecnológico passa por cinco estágios:

  1. Gatilho da Inovação, quando a novidade desperta interesse;
  2. Pico de Expectativas Infladas, em que há otimismo e cobertura intensa;
  3. Vale da Desilusão, quando surgem as limitações;
  4. Ladeira da Iluminação, marcada pela evolução gradual e ajustes;
  5. Planalto de Produtividade, etapa em que a tecnologia é amplamente adotada.

Para especialistas, o Brasil precisa agir rapidamente para não ficar estagnado nessa terceira fase e perder competitividade no setor.

Desafios regulatórios e econômicos

Além das questões técnicas, o estudo da Thymos chama atenção para as deficiências regulatórias. “As metodologias tradicionais de remuneração das distribuidoras já não atendem às novas demandas impostas pela eletromobilidade”, destaca Vianna.

O modelo tarifário brasileiro ainda não contempla realidades como recarga em horários específicos ou integração de veículos à rede elétrica. Sem ajustes regulatórios, a expansão dos veículos elétricos continuará limitada, mesmo que o consumidor queira adotar a tecnologia.

No campo econômico, o custo elevado é outro entrave. Baterias caras e veículos com preços pouco acessíveis dificultam a popularização. A ausência de incentivos consistentes ao consumidor também limita o ritmo de expansão.

Mudança de comportamento e “ansiedade de recarga”

O estudo mostra que o desafio não é apenas estrutural. Há também barreiras comportamentais. Muitos motoristas ainda sentem a chamada “ansiedade de recarga” — a preocupação constante de não encontrar pontos de abastecimento próximos ou disponíveis durante viagens.

A preferência cultural por motores a combustão, somada ao receio de mudanças de hábitos, reforça a resistência à eletromobilidade. Esse fator psicológico tem peso significativo e exige campanhas de conscientização, além de políticas públicas que ofereçam segurança e previsibilidade ao consumidor.

Transporte coletivo como alternativa estratégica

Enquanto a mobilidade individual avança lentamente, o transporte público já começa a experimentar soluções elétricas. Hoje, o Brasil conta com aproximadamente 1.000 ônibus elétricos em operação em 18 municípios, o que representa menos de 1% da frota nacional.

São Paulo lidera esse movimento com 841 unidades em circulação, mas ainda é pouco diante do potencial do país. No cenário global, a comparação é marcante: em 2023, quase 50 mil ônibus elétricos foram vendidos no mundo, elevando o estoque para 635 mil veículos, dos quais 60% estão na China.

O paradoxo ambiental e o desafio das baterias

Outro ponto levantado pelo estudo é o paradoxo ambiental da mobilidade elétrica. Embora os veículos sejam menos poluentes durante o uso, o descarte das baterias de íon de lítio gera um desafio crescente.

O Brasil ainda não possui uma cadeia de reciclagem robusta, capaz de reaproveitar materiais e reduzir impactos ambientais. Para Victor Ribeiro, consultor estratégico da Thymos, “a eletromobilidade não é apenas uma tendência de mercado. É parte central de uma transição energética que exige planejamento integrado, regulação moderna e visão ambiental”.

Caminhos para o futuro da eletromobilidade no Brasil

Para não perder o “timing” da eletromobilidade, o estudo propõe um roadmap integrado com medidas de curto, médio e longo prazo. Entre as principais soluções estão:

  • Modernização da infraestrutura elétrica com redes digitalizadas;
  • Descentralização da geração de energia, incluindo fontes renováveis;
  • Expansão do carregamento inteligente e do sistema V2G (vehicle-to-grid), que permite troca de energia entre veículos e rede;
  • Revisão regulatória para criar tarifas específicas de recarga;
  • Políticas públicas com incentivos claros ao consumidor final;
  • Fortalecimento da cadeia de pesquisa, inovação e reciclagem de baterias.

Globalmente, a tendência já é consolidada. Em 2024, foram vendidos 17 milhões de veículos elétricos no mundo, reforçando a urgência de o Brasil acelerar. O país tem capacidade industrial, mercado consumidor robusto e matriz elétrica relativamente limpa. O que falta, segundo especialistas, é coordenação estratégica para transformar potencial em realidade.

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Rannyson Moura

Graduado em Publicidade e Propaganda pela UERN; mestre em Comunicação Social pela UFMG e doutorando em Estudos de Linguagens pelo CEFET-MG. Atua como redator freelancer desde 2019, com textos publicados em sites como Baixaki, MinhaSérie e Letras.mus.br. Academicamente, tem trabalhos publicados em livros e apresentados em eventos da área. Entre os temas de pesquisa, destaca-se o interesse pelo mercado editorial a partir de um olhar que considera diferentes marcadores sociais.

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