Anglo American vendeu minas de níquel no Brasil para a MMG, da China Minmetals, por US$ 500 milhões. A operação envolveu ativos estratégicos, gerou questionamentos de soberania e repercussões internacionais, mesmo diante de oferta maior feita por outra empresa.
A venda das minas de níquel da Anglo American no Brasil para a MMG, subsidiária da estatal chinesa China Minmetals, por US$ 500 milhões, levantou questionamentos.
De acordo com o portal Poder360, em notícia publicada nesta segunda-feira (25), controvérsia surgiu porque a Corex Holding, ligada ao grupo turco Yildirim e sediada na Holanda, afirma ter feito uma oferta de US$ 900 milhões.
O negócio inclui os complexos de Barro Alto e Codemin (Niquelândia), em Goiás, além de projetos de exploração no Pará e em Mato Grosso.
-
R$ 5 bilhões! Novo benefício do Governo Federal vai custar uma quantia bilionária aos cofres públicos
-
Escassez de mão de obra já afeta 1 em cada 3 oficinas mecânicas no Brasil, aponta estudo
-
Tarifas desenfreadas de Trump deixam fabricantes dos EUA frustrados e muitos já falam em fechar as portas
-
Thiago Nigro alerta para a maior crise da história: juros reais de 7,19%, dólar em alta e bancos acumulando perdas bilionárias preocupam Brasil
Com a operação, a MMG passa a controlar aproximadamente 60% da produção nacional de níquel, ampliando ainda mais a presença chinesa em um insumo estratégico para baterias de veículos elétricos, energia renovável e aço inoxidável.
Motivos da venda por valor menor
Segundo especialistas ouvidos pelo setor e citados pelo Poder360, grandes transações desse porte não se baseiam apenas no valor ofertado.
Outros fatores pesam na decisão, como a probabilidade de aprovação regulatória, a origem dos recursos, a capacidade de manter as operações sem risco financeiro e a rapidez para concluir o negócio.
A MMG, subsidiária de um conglomerado estatal chinês de grande porte, apresentou maior segurança de execução e histórico de atuação internacional consolidado.
Já a Corex, apesar da proposta mais alta, poderia enfrentar entraves regulatórios e dificuldades de comprovação financeira, o que reduziria suas chances de efetivar a compra.
Além disso, a Anglo American tem implementado uma estratégia global de reestruturação, priorizando cobre, minério de ferro e nutrientes agrícolas.
Para a empresa, vender rapidamente ativos considerados não prioritários pode ter sido mais vantajoso do que esperar por uma oferta maior, mas de maior risco.
Incra aponta risco para a soberania
No Brasil, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foi acionado para investigar se a venda cumpre as normas que limitam a compra de terras rurais por estrangeiros.
Como destacou o Poder360, o órgão alertou que as áreas minerárias estão em regiões sensíveis e que a transação pode comprometer a soberania, ao permitir a exploração de riquezas estratégicas sem garantir o desenvolvimento integral da cadeia produtiva dentro do país.
Em ofício, o Incra afirmou que é contraditório o Brasil possuir abundância de recursos minerais e, ao mesmo tempo, permitir a exploração sistemática por empresas estrangeiras sem estímulo ao fortalecimento do setor nacional.
Contestação da Corex
A Corex questiona o negócio no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e também na Comissão Europeia, alegando risco de concentração de mercado.
Em sua representação, a empresa afirmou que a transação permitirá à MMG assumir o controle total das operações de níquel da Anglo American no Brasil, consolidando ainda mais a posição da China.
Documentos apresentados pela holding estimam que empresas ligadas ao governo chinês podem deter até 60% do fornecimento global de níquel após a operação.
Para a Corex, isso traz riscos de elevação de preços, instabilidade de prazos de entrega e perda de previsibilidade para compradores brasileiros.
Na Europa, a companhia destacou que a venda precisa de avaliação rigorosa, já que o níquel foi classificado como insumo estratégico pelo Critical Raw Materials Act da União Europeia.
Reações internacionais
O caso também repercutiu nos Estados Unidos.
O Instituto Americano do Ferro e do Aço (AISI) pediu ao governo norte-americano que pressione o Brasil a rever o acordo, alegando que ele amplia a dependência global em relação à China em um setor considerado crítico.
A preocupação é que o domínio chinês no fornecimento de níquel impacte cadeias industriais essenciais no Ocidente.
O que dizem as empresas
A Anglo American informou que a decisão está alinhada à sua estratégia de focar em setores prioritários e ressaltou que a venda não foi motivada apenas pelo valor, mas por seu reposicionamento global.
A MMG, por sua vez, afirmou que cumprirá todas as exigências regulatórias no Brasil e classificou a transação como positiva para empregados, comunidades locais e acionistas.
Essa operação mostra, segundo especialistas, que, em negociações estratégicas, fatores como segurança regulatória, confiabilidade financeira e cenário geopolítico podem pesar mais do que a oferta em dinheiro.
Ainda assim, a transação reforça a presença da China no setor e levanta a questão: como o Brasil pode atrair investimentos sem abrir mão do controle sobre recursos considerados essenciais?
Vc ainda pergunta?