Crises fiscais, atraso educacional e baixo investimento em tecnologia são alguns dos fatores que explicam por que o Brasil não cresce como outros países emergentes, segundo análise da CNN.
Há pelo menos quatro décadas, a economia brasileira vive um ciclo de estagnação, marcado por breves períodos de crescimento que rapidamente são interrompidos, os chamados “voos de galinha”. A análise de especialistas consultados pela CNN revela que o fato de o Brasil não cresce de forma sustentada é resultado de uma combinação de problemas estruturais que se arrastam há anos, colocando o país atrás não apenas de potências como China e Índia, mas também de vizinhos latino-americanos.
Sejam causas ou consequências, diversos fatores compõem a fórmula que inibe o salto do PIB brasileiro. Entre os principais, destacam-se o atraso educacional, a falta de poupança interna, o declínio da produtividade e o investimento precário em tecnologia. Embora não exista uma solução única, há um consenso entre os economistas de que o país necessita de mudanças profundas e estruturais para reencontrar o caminho do desenvolvimento sólido.
O desequilíbrio fiscal e os juros elevados
Um dos problemas mais persistentes que impedem o crescimento do Brasil é o desequilíbrio fiscal crônico. Conforme aponta a CNN, as crises fiscais são recorrentes na história do país. “O problema do Brasil é que as crises fiscais são recorrentes. Como você reduz isso?”, questionou Sílvia Mattos, economista do FGV Ibre. O endividamento crescente e os gastos excessivos do governo ao longo das últimas décadas limitaram o potencial de expansão da economia, e o problema persiste até hoje.
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Para Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, a solução passa por reformas estruturais. “Como se pode enfrentar isso? Fazendo reformas, seja administrativa, tributária, da previdência, tudo isso precisa ser feito para segurar esse processo”, descreveu ele. Esse descontrole nas contas públicas leva a uma poupança interna tímida, que é uma das principais fontes para investimento produtivo. Consequentemente, para controlar a inflação e atrair capital, o país convive com taxas de juros extremamente elevadas, o que, por sua vez, trava o crescimento.
As raízes históricas da estagnação
Para entender por que o Brasil não cresce, é preciso voltar no tempo. O período de industrialização, entre 1930 e 1980, teve seu auge com o “milagre econômico” (1968-1973), quando o país cresceu acima de 10% ao ano. No entanto, segundo os especialistas ouvidos pela CNN, esse crescimento foi impulsionado por um endividamento agressivo. Márcio Holland, coordenador da FGV, chama a herança dos anos 1970 de “herança maldita”, pois o país se endividou em um cenário global adverso.
Essa herança resultou na “década perdida” dos anos 1980, com o Brasil mergulhado em hiperinflação e dívida externa. Além disso, a estratégia de industrialização brasileira focou em um modelo de montagem, com baixo valor agregado. “No Brasil, os lobbies convenceram o debate público que indústria é a fábrica de montagem. É montar carro, geladeira, televisão”, destacou Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper. Enquanto isso, países como Coreia do Sul, Taiwan e China investiram pesado em novas tecnologias, inovação e mão de obra qualificada, abrindo uma enorme vantagem competitiva.
Educação: gasto alto, resultado baixo
Um dos paradoxos mais cruéis do Brasil está na educação. O país investe uma parcela significativa de seu PIB na área, cerca de 5,5% em 2021, um patamar superior ao de nações como Canadá (4,7%) e Coreia do Sul (4,9%). Contudo, os resultados são drasticamente piores. No ranking do PISA, que mede o desempenho de estudantes, o Brasil fica atrás de todos esses países, evidenciando uma grave ineficiência no uso dos recursos.
Segundo os economistas entrevistados pela CNN, o debate sobre educação no Brasil se concentra excessivamente em verbas, em vez de focar no aprendizado dos alunos. “A gente não discute o aluno na educação, não discute o aprendizado dos estudantes”, declarou Marcos Lisboa. Para Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, o país está em um “ciclo vicioso”, pois não consegue tornar a carreira de educador atraente para os melhores talentos, perpetuando o atraso educacional.
Crises crônicas e a dificuldade das reformas
Além dos problemas estruturais, a instabilidade política e a sucessão de crises formaram uma “tempestade perfeita” para a estagnação. “O diferencial do Brasil é a quantidade de crises. A gente teve 26 anos de crescimento contra 14 de crise. 14 anos de crise nesse período é muito”, pontuou Marcos Lisboa. Dois impeachments e embates constantes entre os poderes criaram um ambiente de incerteza que afasta investimentos.
Desde 2014, o Brasil enfrenta um déficit público crônico que só se aprofunda, criando mais amarras para o crescimento. Na visão dos especialistas consultados pela CNN, a perspectiva de reformas que destravem a economia não é otimista. Para completar o cenário, o país se manteve relativamente fechado ao comércio internacional. “O Brasil vem esperando há décadas para poder se conectar com o mundo […] e eu acho que isso nos custou muito caro”, concluiu Armínio Fraga.
Você concorda com essa análise? Acha que esses fatores realmente impactam o seu dia a dia e o mercado? Deixe sua opinião nos comentários, queremos ouvir quem vive isso na prática.